'Falaram que em 2 dias estaria com meu filho; fiquei 1 mês sem vê-lo', diz brasileira
A mineira Lídia Karine Souza, 27, diz ter vivido momentos de desespero durante o mês que passou longe do filho Diogo, 9.
Os dois não se viam desde 30 de maio, quando foram separados na fronteira dos EUA com o México enquanto buscavam asilo por causa da violência em Governador Valadares (MG), onde moravam.
"Falaram que em dois dias estaria com meu filho. Mas fiquei um mês sem vê-lo", afirma a mineira à Folha.
Lídia diz que foi informada de que seria separada do filho por uma mensagem digitada num sistema de tradução do Google. "Estava escrito que eu ia para uma prisão. Não queria que ele soubesse que eu estava sendo presa, então falei que prisão é como eles chamam os abrigos nos EUA", diz.
Durante os dez dias em que ficou presa, ela passou por três locais (Santa Teresa e Otero County, ambos no Novo México, e El Paso, no Texas).
Entre 30 de maio e 9 de junho, quando foi liberada, diz ter emagrecido sete quilos.
"A comida de Santa Teresa era horrível. Só davam barra de cereal e um burrito de feijão pequeno a cada refeição. Não aguento mais olhar nem para um, nem para outro".
Foram vários os problemas de comunicação com os funcionários dos centros. Ela diz que as detentas precisam deixar um documento de identificação ao tomar banho, o que ela desconhecia. Uma funcionária, então, começou a gritar com a mineira em espanhol. Lídia diz não ter percebido que os berros eram para ela.
"Só quando outras detentas começaram a fazer sinais para mim é que percebi que era comigo. A mulher faltou me puxar pelo pescoço."
Ao ser liberada, Lídia passou a procurar Diogo. Aí se deparou com um problema: não conseguia as informações no telefone que lhe haviam passado. "As pessoas só falavam inglês. Quando viam que eu falava português, desligavam na minha cara", conta.
Para achar o filho, Lídia, que já estava na casa de parentes em Massachusetts, contou com a ajuda de uma brasileira que conheceu durante o período de detenção. Ela disse que muitas crianças brasileiras estavam sendo enviadas a um abrigo em Chicago e passou o contato da instituição. A mineira então conseguiu falar por telefone com Diogo. "Até então, achava que ele estava lá em El Paso, perto de mim."
Lídia telefonava para Diogo duas vezes por semana. O menino conta que só falava português com outras crianças brasileiras, e que os funcionários se dirigiam aos menores em espanhol. "O período foi muito ruim, mas me tratavam bem, davam de comer, de beber", descreve o garoto.
Há no abrigo um intérprete que fala português e que explica a pais e filhos quais os próximos trâmites e por que a criança ainda não foi liberada. Durante o mês que passou ali, Diogo ficou 20 dias isolado por ter tido catapora.
"Eles colocaram uma grade no quarto dele para que não saísse e passasse para outras crianças", afirma Lídia.
Mãe e filho se reviram na última terça-feira (26), por uma hora. Dois dias depois, um juiz mandou soltar o menino, que voltou para a custódia da mãe. Por fim, nesta sexta (29), os dois viajaram para Boston. Ficarão nos arredores até ser julgado o pedido de asilo de Lídia.
Mãe mineira tenta recuperar garoto há duas semanas
Também mineira, Sirlei Silveira, 30, não teve a sorte de Lídia. Nesta sexta-feira (29), ela precisou voltar para Boston sem o filho, Diego, 10.
Em audiência pela manhã, um juiz decidiu manter o menino no abrigo da Heartland Alliance em Chicago onde ficou o filho de Lídia Karine Souza, liberado na véspera.
Sirlei e o filho chegaram à fronteira com o México em 22 de maio, em busca de asilo nos EUA. Dois dias depois, foram separados. Ela ficou detida até 13 de junho, e o menino foi enviado para Chicago.
"Separaram a gente na fronteira e só falaram que iam levar meu filho para um lugar de crianças, porque o lugar para onde eu estava indo era uma cadeia federal, e lá não era permitido haver criança."
Sirlei é acusada de entrar ilegalmente nos Estados Unidos. "Quando fui detida, perguntei se ia saber onde meu filho estava. Falaram que sim, só que eu nunca soube. Quando saí da imigração, eles deram a certeza de que eu só ia ficar sem meu filho por cinco dias. Isso já tem um mês e seis dias. Eu não estou mais aguentando."
"É meu único filho, eu criei sozinha. E agora eles querem arrancar como se fosse um bicho de pelúcia para ficar com eles? Eu fiz tudo o que eles pediram. Eles só pedem, pedem documento o tempo todo, pedem para provar que sou a mãe", conta.
Ela diz ter passado por uma entrevista de uma hora por telefone para saber se batia no filho, se era uma boa mãe.
"Pegaram minhas digitais para saber se eu não tinha cometido nenhum crime. Para tirar ele de lá [do centro de detenção no Texas], ninguém pediu para eu assinar um papel. Para pegar ele de volta, tive que assinar um documento de 35 folhas", conta.
Ela ainda teve dificuldades para falar por telefone com Diego. O sistema não atualizou o status de Sirlei após ela ser liberada. "Falavam 'consta que a senhora ainda está presa, e por isso não pode falar com ele'."
Sirlei diz que só conseguiu contato com o filho no dia 14 de junho. Hoje, só pode falar com o menino em dias previamente acertados com as autoridades federais.
"É na hora que eles querem, não sou eu que escolho a hora de conversar com meu filho. Tenho que ficar o dia inteiro com o telefone na mão esperando, porque, se você perder uma chamada, eles não retornam mais naquele dia", afirma.
Ainda não há data para uma nova audiência relativa ao processo de Diego, mas o advogado que representa Sirlei, Jesse Bless, do Jeff Goldman Immigration, afirma que vai tentar marcá-la já para a semana que vem.
Além de Diego, existem pelo menos outras três crianças brasileiras no abrigo da Heartland Alliance em Chicago, segundo o filho de Lídia Karine Souza, Diogo.