Times de Cuca e Carille são rigorosos ao marcar e modestos no ataque

​O Corinthians chega ao duelo decisivo do Campeonato Paulista em uma sequência de quatro partidas, que inclui compromissos pela Copa do Brasil, sem marcar um único gol. Terá pela frente um São Paulo que vem de três empates por 0 a 0.

O último deles foi o jogo de ida da final, no Morumbi. E neste domingo (21), às 16h, não convém apostar em um confronto de volta cheio de bolas na rede em Itaquera.

Fábio Carille e Cuca não se apoiaram em ataques potentes para levar seus times à decisão. Nenhum deles fez questão de exibir grande ímpeto na busca pelo gol, embora cada treinador tenha adotado o estilo pragmático em um momento diferente da carreira.

A vitoriosa e ainda breve trajetória do técnico de 45 anos do Corinthians é toda baseada em sistemas defensivos sólidos. Já o comandante do São Paulo, dez anos mais velho, levou algum tempo para se distanciar do futebol ofensivo de seus primeiros trabalhos.

Atacante rápido quando jogador, Cuca insistiu na procura pela rede em sua fase inicial como treinador. Foi com essa marca que passou por equipes menores, desde o início no Uberlândia, em 1998, até se destacar no Goiás, em 2003.

Nas chances subsequentes em clubes maiores, manteve essa ideia —e começou a mostrar um gênio tido como complicado. O humor era oscilante, e os resultados, também.

Em 2004, esteve perto de levar o São Paulo à final da Libertadores. No mesmo ano, em um ambiente de indisciplina, salários atrasados e derrotas, teve aproveitamento de apenas 30% e foi rebaixado com o Grêmio no Brasileiro.

Naquele momento da carreira, Cuca costumava ter vínculos breves. No Flamengo, por exemplo, em 2005, não conseguiu completar três meses à beira do gramado.

"Ele veio por atender o perfil do Flamengo, que é o de um time ofensivo. O Cuca estava iniciando ainda, e aquele foi um ano muito difícil. Mas o tempo provou que ele é um grande profissional", afirmou Anderson Barros, que era diretor rubro-negro na época.

Também foram curtos os períodos no Coritiba e no São Caetano até que o paranaense chegasse ao Botafogo. No comando alvinegro de 2006 a 2007, conseguiu montar equipe fiel às suas características.

O Botafogo de 2007, que chegou a brigar pela liderança do Brasileiro com o campeão São Paulo, tinha atletas móveis. O atacante Jorge Henrique por vezes atuava como ala esquerdo e dificultava a marcação.

"Era um técnico muito dedicado. Treinava variações de jogo e conseguia transformar jogador comum em destaque. O Botafogo jogou o melhor futebol do Brasil", disse Manoel Renha, que era o vice-presidente de futebol do clube de General Severiano no período.

Quando o time caiu na Copa Sul-Americana, o comandante foi demitido. Onze dias depois, após o rápido fracasso de Mário Sérgio em seu lugar, retornou ao clube, mostrando que relações estáveis nunca foram seu forte no futebol.

Ao contrário, o profissional desenvolveu um apreço pela instabilidade e se tornou uma espécie de administrador do caos. Ele adora iniciar e controlar pequenos incêndios, com variado grau de sucesso.

"Às vezes, é bom dar uma mexida na água. Água parada não faz muito bem", disse em diversas ocasiões, justificando sua aversão a ambientes demasiadamente tranquilos.

No Palmeiras de 2016, deu certo a estratégia de colocar Dudu no banco antes de lhe dar a faixa de capitão. Já no de 2017, comprar briga com Felipe Melo não foi proveitoso.

Essa visão nunca mudou. O que mudou ao longo da trajetória de Cuca foram seus conceitos táticos —a ponto de um treinador elogiado pelo repertório ofensivo passar a ser ligado à expressão "cucabol", um futebol de poucos passes e muitas bolas alçadas à área.

Ainda não era assim em 2011, quando ele engatou sequência de goleadas pelo Cruzeiro. O jogo baseado no toque de bola rendeu uma sequência de goleadas, mas parou nas oitavas de final da Libertadores.

Sua maior conquista, dois anos mais tarde, já mostrava uma transição. A expressão "Galo Doido" e os 18 gols sofridos nos 14 jogos da campanha mostram que o comportamento não era defensivo, mas o ataque do Atlético-MG campeão da Libertadores de 2013 era vertical, com menos passes e mais cruzamentos.

Em 2016, quando o treinador triunfou com o Palmeiras no Brasileiro, tomou forma o "cucabol". A equipe terminou a competição com uma boa média de 1,6 gol por partida, mas não fez a menor questão de apresentar futebol vistoso e primou por uma defesa forte, que levou 0,8 gol por rodada.

Neste ano, chegando a um São Paulo há muito sem título, Cuca dobrou a aposta na defesa. O time eliminou o Palmeiras nos pênaltis, após dois empates por 0 a 0, e pode triunfar sem vencer um clássico.

Do outro lado estará um treinador também pouco preocupado com o jogo bonito. Fábio Carille, de carreira discreta como zagueiro e lateral esquerdo, gosta de montar equipes a partir da defesa.

Auxiliar técnico do Corinthians de 2009 a 2016, aprendeu com Mano Menezes e Tite a organizar formações seguras na marcação. Nesse período, habituou-se a comandar trabalhos técnicos com os defensores. Quando teve a chance de assumir o comando, em 2017, fez o que sabia. Fechou a área alvinegra e foi campeão três vezes (duas edições do Paulista e uma do Brasileiro).

Em todas as conquistas, a média de gols marcados esteve entre 1,2 e 1,3 por partida. Já os tentos sofridos ficaram entre 0,6 e 0,8 por jogo nesses títulos, que rapidamente o colocaram em alto patamar entre os treinadores brasileiros.

O jeitão tranquilo e interiorano de quem cresceu em Sertãozinho deu lugar a um trato mais hostil com adversários, árbitros e jornalistas.

O caminho foi, em certa medida, inverso ao de Cuca, que se manteve fiel ao estilo fora de campo e mudou conceitos dentro dele. Carille se ateve às ideias táticas e alterou seu comportamento fora das quatro linhas.

Os atritos com repórteres se tornaram frequentes a partir da metade de 2018, quando recebeu propostas de clubes da Arábia Saudita. "Grande parte da imprensa mente muito", afirmou, negando oferta que seu pai havia confirmado.

O treinador acabou indo trabalhar no Al Wehda, deixando saudade em uma torcida que sofreu com um semestre de atuações ruins. Seis meses depois, retornou, já sem o carimbo de novato, com a responsabilidade de dar mais títulos ao Corinthians.

Com a sombra do próprio sucesso, o técnico teve um breve momento em que procurou superar a si mesmo, tentando dar uma cara mais ofensiva à equipe no início do ano. Logo voltou à sua fórmula de sucesso, escorada na defesa.

Voltou também ao hábito de discutir com jornalistas e fechou treinos, algo que não costumava fazer, insinuando que repórteres passavam informações a adversários.

Polêmicas à parte, Carille pôs o Corinthians na decisão de novo, é elogiado dentro do clube e pode se tornar o primeiro técnico tricampeão estadual pelo time desde a década de 1920. Cuca, também apostando em uma zaga firme, espera impedi-lo.

NÚMEROS

0,82
é a média de gols marcados pelo Corinthians neste Paulista (14 em 17 jogos)

0,72
é a a média de gols sofridos pela equipe alvinegra no Estadual

0,94
também modesta, a média de gols feitos pelo São Paulo no torneio é um pouco melhor que a do rival (marcou 16 vezes)

0,65
é a média de gols sofridos pelo time tricolor (11 contra 12 gols)

CORINTHIANS x SÃO PAULO 
16h
Itaquerão
Na TV: Globo e SporTV

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