Theresa May faz turnê do desespero por adiamento do brexit

Na véspera de uma cúpula de emergência da União Europeia (UE) sobre a saída do Reino Unido, a primeira-ministra britânica, Theresa May, fez nesta terça (9) uma “peregrinação do fim do mundo”.

May viajou a Berlim e a Paris para pedir o apoio dos líderes das maiores potências do bloco a um novo e curto adiamento do Dia D do brexit e evitar uma ruptura litigiosa no próximo dia 12.

Na Inglaterra, correligionários da chefe de governo conservadora sugeriram que Londres sabote por dentro a UE se os outros 27 países-membros só aceitarem uma extensão longa da filiação britânica, de possivelmente um ano —como sugeriu o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, em carta a presidentes e premiês do consórcio.

May já disse que vai pedir uma postergação da data-limite para 30 de junho, dias antes do começo da nova legislatura do Parlamento Europeu.

Assim, mesmo que o Reino Unido tivesse que eleger deputados para o Legislativo da UE no fim de maio (como o farão todos os membros do bloco), não precisaria enviar uma bancada a Bruxelas.

O adiamento foi endossado na terça pelo Parlamento britânico, que tinha passado na véspera uma lei obrigando o governo a pedir à UE mais tempo para resolver o impasse em torno do acordo de separação, rejeitado três vezes no plenário londrino.

Berlim e Paris têm posições distintas sobre a solicitação de May. Angela Merkel, a chanceler alemã, encabeça uma ala mais moderada de líderes europeus que defende um prazo elástico para os britânicos arrematarem seu folhetim político. Os 12 meses propostos por Tusk encontram boa acolhida nessa família.

Já o presidente francês, Emmanuel Macron, capitaneia um grupo (no qual também estão Espanha e Bélgica, segundo a imprensa europeia) menos permissivo, que insiste em saber em detalhes qual é o plano de voo da primeira-ministra para sair da infindável zona de turbulência do brexit.

A eles May dirá que as conversas iniciadas com o Partido Trabalhista (principal força de oposição) na semana passada anunciam horizontes mais desimpedidos. Acontece que as rodadas de negociações não renderam quaisquer frutos até o momento.

Ciente disso, Macron promete fazer jogo duro. Ninguém imagina que a França vá vetar uma nova chance a Londres —o adiamento precisa ser aprovado de forma unânime pelos países-membros.

Mas se espera que o centrista pleiteie uma extensão mais enxuta (talvez só até o fim de 2019, e não por 12 meses), durante a qual a UE avaliaria a cada três meses se Londres cumpre suas obrigações ou está se valendo do tempo suplementar para minar as instituições europeias. Seria uma espécie de teste periódico de boa fé.

 

A ideia dele é que, nesse “período de graça”, o Reino Unido não participe das discussões do orçamento plurianual do bloco nem tenha a prerrogativa de apontar um comissário (equivalente, no organograma da UE, a um ministro).

A ala liderada por Macron parece ter levado a sério as ameaças veladas feitas nos últimos dias por deputados britânicos temerosos de que o cada vez mais longo adeus à Europa no fim conduza a um “dia do fico”.

“Estamos no século 21, e não se pode manter uma nação refém contra a vontade dela”, disse o conservador Mark François. “Se vocês tentarem nos manter na União Europeia [...], viraremos um cavalo de Troia, que vai desvirtuar todas as suas tentativas de emplacar um projeto federalista.”

Ele afirmou ainda que um novo premiê de perfil menos conciliador em relação à Europa (May prometeu entregar o cargo assim que o imbróglio da saída britânica chegar ao fim) poderia derrubar o orçamento do bloco e vetar esforços de integração militar.

Na mesma linha, o ex-ministro conservador Tim Loughton disse que, se o Reino Unido for obrigado a realizar eleições para o Parlamento Europeu, vai eleger “um exército de mini-Nigel Farage [figura mais radical da campanha a favor do brexit em 2016] que irá semear o caos”.

Apesar dessa chantagem, Tusk, que acolherá presidentes e premiês em Bruxelas na quarta (10), insistiu na necessidade de uma prorrogação longa, considerando improvável que os deputados britânicos ratifiquem o pacto de May até o fim de junho, como a primeira-ministra espera.

“Aceitar essa extensão [só até 30 de junho] aumentaria o risco de novos adiamentos curtos e reuniões de emergência [...], o que acabaria se sobrepondo à pauta dos 27 países-membros ao longo dos próximos meses”, escreveu.

Para ele, Londres deveria ter mais um ano, no máximo, para resolver sua situação. A UE, porém, não aceitaria em nenhuma hipótese rever o acordo fechado em novembro de 2018 com o governo britânico, tão questionado pelos correligionários de May.

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