Saiba quem são as cinco vítimas em ataque a tiros em jornal americano

Um homem invadiu a Redação do jornal Capital Gazette, em Annapolis (a 50 km de Washington), e matou quatro jornalistas e uma assistente comercial a tiros na tarde desta quinta-feira (28). Outras duas pessoas sofreram ferimentos sem gravidade.

O atirador foi detido e queria “vingança” contra o veículo, segundo policiais. Ele se chama Jarrod Ramos, 38, e processou a publicação em 2012 por causa de um artigo sobre um processo de assédio contra ele. Nem o colunista, nem o editor da história sobre o caso trabalham mais na Gazette.

As vítimas são Gerald Fischman, 61, que editava a página de opinião do jornal; Rob Hiaasen, 59, editor e colunista; John McNamara, 56, veterano repórter esportivo e editor de semanários locais; Wendi Winter, 65, repórter do noticiário local e colunista de assuntos comunitários; e Rebecca Smith, 34, que havia sido contratada recentemente como auxiliar do setor comercial do jornal.

Tom Marquardt, antigo editor-executivo e publisher do Capital Gazette, que começou no jornal nos anos 70 e se aposentou em 2012, conhecia quatro das vítimas, com quem trabalhou. 

A decisão delas de continuar no jornal apesar das adversidades que a publicação enfrentava, segundo ele, “diz alguma coisa sobre seu amor pelo jornalismo”.

“É isso que torna essa tragédia ainda pior”, afirmou. “São pessoas que decidiriam ficar lá e jamais esperavam que algo assim viesse a acontecer.”
 

 

Gerald Fischman, 61

Era editorialista do Capital Gazette desde 1992 , de acordo com sua página no LinkedIn. Também era editor da página de opinião, de acordo com sua biografia no site do jornal.

Marquardt descreve Fischman como “o editorialista perfeito” —capaz de transformar as instruções sumárias de editores e publishers excessivamente zelosos em um editorial aguçado, inteligente e justo.

Fischman costumava trabalhar de suéter e gravata, e era um sujeito meio tímido, “com algo de nerd”, que tentou por duas vezes participar do game show televisivo “Jeopardy!”.

“Não me lembro de jamais ter precisado corrigir algo que ele escreveu em um editorial, e estamos falando de milhares de editorais”, disse Marquardt. “Ele poderia ter encontrado espaço em um grande jornal metropolitano, mas trabalhar em um jornal pequeno o fazia feliz.”

Em uma coluna publicada em dezembro de 2017, Fischman escreveu  que a página de editoriais de um jornal “pode ser a melhor maneira de ler a mente de uma comunidade”.

Fischman, no entanto, não era só a voz da página de editoriais do Capital Gazette mas também um revisor escrupuloso, que costumava causar gargalhadas aos colegas com suas tiradas secas na Redação, disse Steve Gunn, que comandou o jornal entre 2013 e 2015. “Ele dizia as coisas mais engraçadas sem nem sorrir”, disse Gunn em entrevista.

Fischman também era dedicado ao seu trabalho, ao qual devotava 12 ou mais horas diárias, e era conhecido na cidade como uma pessoa influente, por causa de sua escrita. “As pessoas importantes da comunidade certamente sabiam quem era ele”, disse Gunn. “As pessoas influentes tentavam se manter em contato com ele”.
 

Rob Hiaasen, 59

Era editor e colunista, de acordo com o site do jornal. Foi contratado como editor-assistente do Capital Gazette em 2010, de acordo com sua biografia no site, e antes trabalhou como repórter no Palm Beach Post e no Baltimore Sun.

“Ele era dedicado ao jornalismo”, disse seu irmão, o escritor Carl Hiaasen. “Foi jornalista a vida inteira”.

Como veterano do Baltimore Sun, Hiaasen chegou ao seu novo emprego “com a reputação de ser um escritor talentoso”, disse Marquardt. Hiaasen orientou diversos dos jornalistas mais jovens que trabalhavam com ele, para melhorar a escrita deles.

Elisha Sauers, jornalista do Virginian Pilot e até 2016 repórter do Capital Gazette, disse que “ele tratava os novos repórteres como filhos”.

Hiaasen também era um jornalista criativo e sempre buscava encontrar o melhor arco narrativo para uma história, disse Sauers em entrevista. 

Ele saía para longas caminhadas, para clarear a cabeça, e voltava com pequenos detalhes que percebia e mais tarde usava como tema para colunas, ela disse.

“Ele era um observador da humanidade”, disse Sauers, “Tinha a atitude de capturar os momentos preciosos da vida. E isso ficava realmente aparente em sua escrita.”

Marquardt disse que o “grande senso de humor” de Hiaasen também transparecia em suas colunas. Algumas das mais recentes incluem “como encontrar seu animal espiritual”, “você já tentou mergulhar na neve?” e um texto sobre sua mãe, que Carl Hiaasen definiu como “profundamente comovente mas também engraçado e sábio —o que ele era”.

“Ele sempre foi muito passional quanto ao jornalismo local, em um período em que esse ramo está sofrendo tanto”, disse Carl Hiaasen. “Seu trajeto de Baltimore até o jornal era bem longo. Ele amava o jornal. Amava os repórteres.”

John McNamara, 56

Ocupou muitos postos na Redação do Capital Gazette, ao longo de uma carreira que durou mais de 20 anos.

Ele publicou dois livros sobre as equipes esportivas da Universidade de Maryland e trabalhou por muito tempo como repórter e editor de esportes, de acordo com sua página no LinkedIn e com colegas de trabalho. 

Mais recentemente, ele cobria as notícias locais da cidade de Bowie, Maryland, a oeste de Annapolis, diariamente, e era editor de dois dos semanários locais da companhia que controla o Capital Gazette.

Sheila Padgett, moradora de Bowie e amiga de McNamara, disse que ele era o único jornalista a cobrir as notícias e a política local em Bowie.

“Aqui, a cobertura era toda dele”, disse Padgett.

Sean Burns, 36, conheceu Padgett quando tinha acabado de de se graduar na universidade e começou a trabalhar na editoria de esportes do jornal.

“Ele tinha uma daquelas mentalidades jornalísticas da velha guarda”, disse Burns.

“John às vezes era meio rígido”, disse Aaron Gray, 38, que era editor de esportes colegiais do jornal. “Mas às 23h35min da uma sexta-feira ele era o cara certo para fazer o trabalho. Na minha opinião, seu trabalho como editor tornava melhores as reportagens dos jornalistas jovens.”

David Elfin, jornalista esportivo que trabalhou com McNamara em um livro, disse que ele fazia sentir sua presença também fora da Redação.

“Ele preferia fazer uma pergunta discreta a se posicionar na primeira fila”, disse Elfin. “Mas pode ter certeza de que os treinadores dos times sabiam que John estava lá.”

G. Frederick Robinson, prefeito de Bowie, disse que costumava conversar com McNamara duas vezes por semana.
“Ele sabia quais perguntas fazer”, disse Robinson.

Rebecca Smith, 34

Tinha sido contratada recentemente pelo jornal como assistente de vendas e morava no condado de Baltimore com seu noivo, de acordo com o Baltimore Sun.

Smith começou a trabalhar para o Capital Gazette em novembro de 2017, de acordo com sua página no Facebook.

“Ela era uma pessoa muito considerada”, disse ao Baltimore Sun Marty Padden, o diretor de publicidade do jornal. 

“Era gentil e atenciosa e disposta a ajudar quando necessário. Parecia gostar muito de trabalhar no ramo da mídia.”

Padden acrescentou que, antes de começar no jornal, ela trabalhava no ramo da saúde e que quando adolescente jogava hóquei na grama, na região de Baltimore.

“Ela era uma pessoa muito gentil”, ele disse ao Baltimore Sun. “Era fácil gostar dela, e seu senso de humor era ótimo.”
 

Wendi Winters, 65

Cobria notícias locais para o Capital Gazette e escrevia colunas regulares como “a casa da semana”, de acordo com o site do jornal. Antes, ela havia trabalhado no ramo de relações públicas em Nova York.

Marquardt disse que em dado momento os editores do jornal começaram a buscar bons escritores dispostos a cobrir o tipo de material local que alguns repórteres desdenham. Winters foi contratada inicialmente como freelancer, mas sua assinatura começou a aparecer com tanta frequência —e seus textos se tornaram tão populares entre os leitores— que seu faturamento como freelancer logo se tornou maior do que o salário de um repórter contratado, disse Marquardt.

“Meu contador me procurou e disse que não podíamos continuar com aquilo”, ele contou. Assim, Winters terminou contratada.

“Ela conhecia absolutamente todo mundo no condado de Anne Arundel”, disse Gunn. “Wendi era o coração do jornal. Sua cobertura sobre a comunidade era notável, e as pessoas sempre comentavam.”

Gray, que também trabalhou com Winters, disse que ela cobria eventos comunitários incansavelmente “e o fazia muito bem”.

“O jornal tinha uma visão muito forte sobre as notícias da comunidade”, ele disse, e Winters “personificava o que o jornal queria ser”.

Tradução de Paulo Migliacci

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