Com meninos da periferia, França tenta sucesso na Copa

Se você conversar com as pessoas que conheceram Kylian Mbappé na infância, que o viram dar os primeiros passos em sua vertiginosa carreira, todas dirão a mesma coisa: bastava um olhar. Mesmo então, isso era suficiente para saber o que viria.

Quando Jean-François Suner, diretor de futebol do A.S. Bondy, o primeiro clube de futebol na jornada de Mbappé para o Monaco, Paris Saint-Germain e a Copa do Mundo, o viu jogar pela primeira vez, seu comentário foi, simplesmente: "Uau". A sensação, ele disse, deve ter sido igual à sentida pelas pessoas que, uma década antes e a um oceano de distância, viram Lionel Messi em campo pela primeira vez.

Antonio Riccardi, um dos primeiros treinadores do Bondy a trabalhar com Mbappé, recorda um menino que fazia tudo "melhor, mais rápido e mais vezes" do que seus pares. O talento dele precisava ser lapidado, claro, mas Riccardi sabia desde o começo que não fazia sentido tentar inibi-lo. Mbappé adorava driblar, deixar os adversários para trás.

"Jamais disse que ele parasse", disse Riccardi. "Ele era o melhor nisso. Por que eu teria mandado que parasse? Foi o melhor garoto que já treinei. E provavelmente será o melhor jogador entre todos que treinei e treinarei"

Todos sabiam que ele era especial, mas não sabiam - não tinham como saber - até onde seu talento o levaria: ao título francês e à condição de segundo jogador mais caro do planeta, e líder do esforço francês para ganhar a Copa do Mundo - e tudo isso enquanto ele ainda está na adolescência.

Nem poderiam saber que o rosto dele ocuparia um imenso painel publicitário na Résidence des Potagers, por sobre a estrada que conduz de Bondy a Paris, portando o lema "Bondy - Ville des Possibles".

Eles não tinham como imaginar que a camisa de Mbappé no Paris Saint-Germain seria a preferida da mais recente leva de aspirantes a uma carreira no futebol comandada por Riccardi no A.S. Bondy, ou que a fama dele teria repercussões até no escritório bagunçado do clube: uma ou duas vezes por semana, jornalistas aparecem para conversar com Suner, e pedem o número de telefone de Mbappé ou de seu pai, Wilfried.

Eles não tinham como prever até que ponto Mbappé se tornaria um símbolo não só de Bondy - alguns quilômetros ao norte e a um mundo de distância do centro de Paris - mas da vasta área asfaltada de periferias e cidades satélites da qual ela é parte.

Oficialmente, Bondy fica no departamento de Île-de-France, a unidade administrativa da região de Paris. Para a maioria dos franceses, porém, a cidade é parte do cinturão norte de "banlieues", um rótulo que serve tanto como eufemismo quanto como estigma: comunidades de classe operária que abrigam pessoas não brancas, costumam ser associadas a tumultos nas ruas e disputas sociais, e são vistas como incubadoras de crime e terrorismo. É esse o mundo do qual Mbappé vem; esse é o mundo que ele veio a representar.

Há histórias parecidas com a de Mbappé em todos os banlieues. Os nomes e detalhes mudam, é claro. Às vezes, o talento não é tão evidente, pelo menos não no começo, e a ascensão não é tão vertiginosa. Às vezes a periferia envolvida é mais desenvolvida. Às vezes os obstáculos são um pouco mais assustadores.

Mas a trama central não muda; substitua Mbappé e Bondy por Paul Pogba e Lagny-sur-Marne e Roissy-en-Brie; ou por N'Golo Kanté e Suresnes; ou por Blaise Matuidi e Fontenay-sous-Bois; ou por Benjamin Mendy e Longjumeau. Todos seguiram mais ou menos o mesmo caminho.

É aqui, em meio aos blocos de concreto dos "banlieues" parisienses, que a França encontra seus jogadores de futebol: centenas deles vão a Clairefontaine, o centro de treinamento nacional; dezenas se profissionalizam, no país e no exterior; e uma seleta minoria está representando França na Copa do Mundo da Rússia.

Dos 23 jogadores que o treinador francês Didier Deschamps levou à Rússia, oito começaram suas histórias nos banlieues. Mbappé é um deles, claro, mas a descrição também vale para Pogba, Kanté, Mendy e Matuidi, e para Alphonse Areola, Presnel Kimpembe e Steve Nzonzi. Muitos outros nomes, como Anthony Martial, Kingsley Coman e Adrien Rabiot ficaram fora da lista por pouco.

A seleção francesa, formada por uma geração de jogadores vista por quase todos como a melhor do país em 20 anos, é considerada talentosa o bastante para a vencer a Copa do Mundo, e foi criada aqui, em Bondy e em locais muito similares. É um time construído à sombra lançada pela Cidade-Luz.

Alguns meses atrás, Huseyin Ergunes ligou para Yves Gergaud e lhe disse que talvez valesse a pena ir ao estádio para assistir a uma partida do Argenteuil, o clube que Ergunes treina.

O clube foi estabelecido alguns anos atrás, em larga medida como projeto social, disse Ergunes. O time de futebol de Argenteuil foi criado para ajudar na "coesão social": dar aos jovens locais um lugar para ir, algo para fazer. As verbas municipais que custeiam o clube garantem instalações limpas e com boa manutenção, de uma espécie que se vê com frequência nos banlieues, em contraste com os conjuntos habitacionais nada queridos que cercam os campos de futebol.

Mas Ergunes não é primeiramente um assistente social. Ele é antes de tudo treinador, e por isso, quando pensa que um de seus jogadores têm talento suficiente para interessar a um time profissional, entra em contato com pessoas como Gergaud, que trabalhou por cinco anos como treinador de equipes juvenis e olheiro do Paris Saint-Germain (onde leva o crédito por descobrir Kimpembe e Coman).

Agora, ele comanda o recrutamento de jogadores de entre 17 e 20 anos para o Sochaux, um time da Ligue 2 (segunda divisão do futebol francês), em Montbéliard, perto da fronteira francesa com a Suíça.

No entanto, o território mais fértil para recrutamento continua a ser o da île-de-France. Afinal, a região abriga talvez a maior concentração de talento futebolístico da Europa. E a competição também é intensa: é costume dizer que existem mais olheiros em ação em Paris e seus arredores do que em qualquer lugar do mundo, exceto São Paulo.

"Quando você trabalha com jogadores jovens, aqui, não quer perder o próximo craque", disse Gergaud.

Ou pior: deixar que outro olheiro o descubra primeiro. Não são apenas os clubes locais, especialmente o Paris Saint-Germain, que garimpam ouro nos banlieues. Todos os grandes times franceses - mesmo equipes como o Lyon e o Marseille, de regiões renomadas como celeiros de jogadores - acompanham o que acontece nos clubes dos banlieues.

E se tornou cada vez mais comum que predadores distantes façam a mesma coisa: os clubes da Premier League inglesa agora enviam olheiros diretamente a Paris. Isso dificulta as coisas para times como o Sochaux, cujos recursos são relativamente limitados. Gergaud e os dois outros olheiros do clube dedicados à área - o Sochaux emprega um total de nove olheiros - agora começam a identificar jogadores já a partir dos 11 ou 12 anos; precisam fazê-lo, dada a forte concorrência.

"Nós assinamos com os meninos mais cedo, agora", disse Matthieu Bideau, diretor de recrutamento do Nantes, da cidade homônima na costa atlântica da França. "Há tanta competição que se não os convencermos a assinar, alguém mais os levará".

"Os clubes locais estão em guerra uns com os outros para obter os melhores jogadores o mais cedo que puderem. Os clubes ingleses são tubarões. Os clubes franceses são carneiros. Os clubes amadores são sardinhas", ele diz.

O que atrai todo esse interesse é o vasto reservatório de talentos, na região. Como apontou Mohamed Coulibaly, treinador do A.A.S. Sarcelles, a região metropolitana de Paris tem 12 milhões de moradores - "quase um país, com população maior que a da Bélgica", ele disse. "É um grande reservatório".

Igualmente importante, porém, é o tipo de jogador que os banlieues tendem a produzir. Coulibaly os descreve como "atléticos, vigorosos, dinâmicos, técnicos, agressivos - o tipo de jogador de que a seleção nacional francesa é formada".

Não só a seleção francesa, porém: na Copa do Mundo, jogadores criados na Île-de-France estão representando Marrocos, Portugal, Tunísia e Senegal. O estilo deles vem do tipo de futebol comum nos banlieues: jogos entre equipes com poucos jogadores, de várias idades, disputados em quadras de concreto. "É um futebol que favorece a velocidade, das pernas e do cérebro. Eles precisam tomar decisões rápidas", disse Bideau.

Quando começam a jogar em clubes organizados, os jovens passam a enfrentar adversários de outras áreas dos banlieues. "Os melhores jogadores jovens do país jogam uns contra os outros a cada final de semana", disse Coulibaly. "Isso é que faz a diferença".

E também significa que Gergaud jamais abre mão da oportunidade de assistir a um novo talento. Naquele dia em Argenteuil, ele foi embora antes do apito final. Nenhum dos dois jogadores atendia aos seus requisitos; nenhum dos dois era "o próximo craque". Mas haverá um próximo craque. Ele tem certeza disso. Sempre há.

A apenas dois dias de um jogo importante no campeonato, Riccardi, que um dia treinou Mbappé, tinha tomado uma decisão: em lugar de treinar na grama artificial do Stade Léo Lagrange, onde a maior parte dos treinos do Bondy acontece, ele levaria seus jogadores para treinar em um campo de terra, de superfície irregular. A bola quica de maneira imprevisível. O campo é esburacado. A poeira sobe enquanto os jogadores correm.

"Aqui é o lugar mais difícil para jogar", disse o treinador. "E é aqui que eles aprendem mais".

Ele não alivia com seus jogadores quando erram um passe. Grita instruções, e avisa que quem não aprender a jogar naquelas condições pode perder o lugar no time. Os jogadores dos banlieues reagem melhor a pressão do que a elogios, descobriu Riccardi. Todos sabem que não estão lá simplesmente para brincar.

"Todos eles têm em mente o que Kylian fez", disse Riccardi, filho de pai italiano e mãe espanhola. "Kylian é o exemplo mais claro para eles. Fez o que eles poderão fazer. Usou o mesmo vestiário, treinou no mesmo campo. Estava aqui há poucos anos, fazendo exatamente a mesma coisa que eles fazem agora".

Esse é o sonho de todos os jogadores aqui, e nas centenas de clubes amadores que se espalham pelos banlieues: o de que podem se tornar o próximo Mbappé, o próximo astro; o de que podem deixar os conjuntos habitacionais da periferia e chegar a uma Copa do Mundo.

​ Ter uma inspiração assim tangível é um grande estímulo. O Bondy vem recebendo legiões de jovens futebolistas em busca de vaga no clube, depois que Mbappé chegou ao sucesso. Todos acreditam que poderão seguir seus passos.

"É frequente que as percepções negativas sobre os banlieues desestimulem os jovens ambiciosos", disse Riccardi. "Kylian ajudou a eliminar esse obstáculo".

Mas a situação não deixa de ter suas complicações: porque tantos jogadores vêm de cidades como essas, e porque a possibilidade de se tornar futebolista profissional parece tão próxima, tão real, o que era um sonho termina por se tornar um objetivo. Riccardi tenta acautelar seus jogadores contra pressuporem que o mesmo acontecerá com eles, mas é uma batalha difícil.

"Todos queremos ser como ele, mas também sabemos que não seremos como ele, porque só existe um Kylian, e sabemos o quanto ele é único", disse Jaydee Canvot, 12, atacante no time de Riccardi, repetindo um dos alertas incessantes de seu treinador.

"O que os pais não entendem é que não temos uma varinha de condão", disse Suner, o diretor do Bondy, no escritório do clube. "Eles veem o dinheiro que seus filhos poderiam ganhar, e enlouqueceram um pouco nos 10 últimos anos. Um dia desses um pai me perguntou qual era o projeto para o filho dele. Respondi que o projeto era a escola. O menino tem 12 anos".

Falsas esperanças também são problema no A.A.S. Sarcelles. Nas paredes do vestiário há recordações de todos os atletas profissionais produzidos pelo clube - não só futebolistas mas judocas e atletas olímpicos. O lugar de honra, porém, cabe à camisa de Riyad Mahrez, jogador do Leicester City.

Mahrez - campeão da Premier League em 2016 e astro da seleção argelina - se criou em Sarcelles, um dos subúrbios mais problemáticos de Paris. De muitas maneiras, sua história é uma parábola mais forte que a de Mbappé.

"Ele tinha alguma capacidade técnica, mas muitos jogadores eram melhores", disse Coulibaly, treinador do Sarcelles. "[Mahrez] sempre dizia que viraria profissional, mas para ele era difícil jogar até mesmo aqui".

Mahrez se manteve dedicado ao seu sonho - Coulibaly se lembra de ele permanecer em campo treinando "até que ficava escuro demais para ver a bola" - e por fim conseguiu sua chance, passando pelo Quimper e Le Havre antes de se transferir ao Leicester. A mensagem que ele deixou para as gerações de jovens que o sucederam no Sarcelles foi a de "nunca desistir", segundo Coulibaly.

O outro lado da moeda é que o sonho se torna algo mais: quase um objetivo familiar, disse Coulibaly. Todo mundo acredita que vai conseguir, que seu filho vai conseguir, e que isso representará uma vida melhor para toda a família. Mas a realidade é que apenas uma pequena minoria de jogadores consegue.

"Nós fornecemos a lista daqueles que se tornaram profissionais", disse Coulibaly, apontando para as recordações na parede. "Mas não fornecemos uma lista daqueles que tentaram e não conseguiram".

Riccardi está sentado a uma mesa em seu pequeno escritório, pouco maior que um armário, enquanto seus jogadores chegam para o treino. Antes de se encaminharem ao vestiário, eles passam pelo escritório para dizer olá: 12 deles em 12 minutos. Todos dizem um "bonsoir" cortês a Riccardi, e trocam apertos de mão com os dois desconhecidos que encontram em sua sala.

Riccardi não acredita que seu trabalho seja criar talento; em parte, o que ele faz é refinar e direcionar talento existente. Mas ele também gosta de inspirar em seus jogadores os valores de que necessitarão caso façam sucesso e caso não façam: "Pontualidade. Boas maneiras. Fair play. Autoridade. Respeito pela camisa".

Ele faz questão de descobrir como é a vida familiar de cada um de seus jogadores. Alguns, como Mbappé, vem de famílias fortes e seguras. Muitos outros vêm de situações mais desafiadoras. "Tendemos a esquecer o papel crucial desempenhado pelos treinadores", disse Cyril Nazareth, professor de sociologia que está pesquisando sobre o papel do futebol nos banlieues. "Eles ajudam a dar estrutura para os garotos e muitas vezes servem como figuras de autoridade importantes".

O alcance dos treinadores é extraordinário. Há cerca de 30 mil treinadores nos banlieues de Paris, onde existem 235 mil jogadores registrados, a maioria dos quais de menos de 18 anos. Isso dá ao esporte e aos treinadores papéis sociais importantes. "Esses garotos podem ir mal na escola, mas, por serem excelentes jogadores de futebol, se tornam legítimos e respeitáveis", disse Nazareth.

É o que Riccardi espera instilar em seus comandados; é o exemplo que Mbappé estabeleceu. Aos 19 anos, com o mundo aos seus pés, ele é famoso pela maturidade, inteligência e polidez. Já foi convidado ao palácio presidencial francês para discutir esporte nas comunidades minoritárias com o presidente Emmanuel Macron. "Ele tem uma excelente postura, em campo e fora dele", diz Riccardi, com considerável orgulho.

O relacionamento entre a França e sua seleção de futebol anda complicado, há anos, não só por conta do mau desempenho constante nos mais recente torneios internacionais como também devido a uma série de escândalos: uma greve de jogadores na Copa do Mundo de 2010; um caso de chantagem em torno de um vídeo de sexo; o ressentimento por diversos jogadores se recusarem a cantar o hino nacional antes dos jogos.

Há indícios de preconceito, no cerne dessas controvérsias. Os jogadores que lideraram a greve em 2010 vêm dos banlieues. Karim Benzema, teoricamente o vilão no caso de chantagem, cresceu em Lyon, em uma família pobre. Hugo Lloris, o capitão da seleção francesa, filho de um advogado de classe média em Nice, sempre canta a "Marselhesa"; Benzema e Franck Ribéry, meninos dos banlieues, não.

"O resumo é o seguinte: futebol na França quer dizer classe trabalhadora, o que quer dizer banlieues, o que quer dizer bandidos", disse Stéphane Beaud, professor de sociologia na Universidade de Poitiers que escreveu extensamente sobre os laços entre a seleção nacional francesa e a imigração.

E essa avaliação fincou raízes. Beaud afirma que os tumultos de 2005 em Seine-Saint-Denis - a área da qual Bondy faz parte, uma das regiões mais pobres da Île-de-France -, somados ao medo crescente do crime e do terrorismo e à ascensão de políticos nacionalistas, só serviram para reforçar a ideia de que os jogadores vindos dos banlieues, e os banlieues mesmos, só causam encrenca.

"Para alguns jogadores, é difícil se definirem como franceses, hoje. Eles sofreram com todos os estereótipos associados aos banlieues", disse Beaud. "Já eram estigmatizados antes de se tornarem futebolistas profissionais".

O estigma é simbolizado pela Périphérique, o anel viário que cerca Paris e serve como fronteira física, social, étnica e psicológica. Do lado de dentro fica a Paris sofisticada e afluente; do lado de fora ficam os banlieues, lugares como Seine-Saint-Denis, que abrigam grandes comunidades de imigrantes que sofrem com a falta de oportunidades, com a falta de habitação de qualidade e com a alta do desemprego. No final de 2017, o índice de desemprego nas periferias era de 11,4%. Entre os jovens, o desemprego era de 23%.

A sucessão de ataques terroristas recentes - a França estava oficialmente em estado de emergência até novembro de 2017 - agravou o preconceito associado às periferias e suas populações de imigrantes. Depois dos ataques terroristas de novembro de 2015, a polícia conduziu uma série de batidas em domicílios na região de Seine-Saint-Denis.

Os esportes e a infraestrutura que eles requerem há muito desempenham um papel nos esforços para estimular o crescimento dos banlieues. A construção do estádio nacional francês, o Stade de France, em Seine-Saint-Denis, para a Copa do Mundo de 1998, deveria ter transformado a vida da região. A França agora espera que a Olimpíada de 2024 tenha sucesso onde o plano anterior fracassou: a área abrigará o centro de esportes aquáticos, a Vila Olímpica e a central de mídia dos jogos olímpicos de Paris.

Ainda mais potente, porém, talvez venha a ser o efeito que Mbappé e seus colegas podem ter. A seleção francesa para a Copa do Mundo depende muito dos banlieues, mas ao mesmo tempo é encarada como jovem, enérgica e - o que é muito importante - simpática. É tentador pensar que uma vitória francesa na Rússia pode ter impacto semelhante ao do título anterior do país na Copa do Mundo, com a geração de Zinedine Zidane, Patrick Vieira. Thierry Henry e Patrick Vieira, uma equipe conhecida como Black Blanc Beur [negro branco árabe], que supostamente representava a visão de uma nova França multicultural.

Em Bondy, ninguém parece muito esperançoso. Da mesma forma que a França não renasceu depois de 1998, será necessário mais que uma boa Copa do Mundo para remover décadas de estigmas e desdém. "Quando as coisas vão mal para os jovens jogadores, as pessoas dizem que eles são maus moleques, e culpam a periferia", disse Suner. "Mas quando as coisas vão bem, ninguém diz coisa alguma".

Há um limite para o que o futebol pode realizar, claramente. Apesar do uso que os políticos fazem de cada jogador a emergir dos banlieues, líderes locais e trabalhadores comunitários como Riccardi e Coulibaly apontam repetidamente que os jovens da periferia precisam ter mais de um caminho (e um caminho cada vez mais difícil) para evoluir.

"O sucesso no esporte é o lado oculto de um fracasso social generalizado", disse Beaud. "O pool de talento do futebol não deveria esconder a falta de oportunidades para os jovens dessas regiões".

O fato de que Mbappé e seus companheiros não serão capazes de transformar a sociedade francesa não significa que eles não tenham importância. Para os moradores dos banlieues, o lugar de onde esses jogadores vêm, eles são uma fonte de orgulho, de esperança, e uma prova de que os estereótipos não procedem.

"Eles mostram que pode haver sucesso aqui", disse Riccardi.

Por toda a Île-de-France, milhares de jovens jogadores - cada qual sonhando ser o próximo craque a sair dos conjunto habitacionais - assistirão à Copa do Mundo para torcer não só por seu país mas pelos meninos excepcionais que um dia foram como eles e se tornaram astros de um time construído na sombra que abriga a maior incubadora de talento da Europa.

"Na Copa do Mundo, os jogadores poderiam ser nossos vizinhos, nossos irmãos mais novos", disse Coulibaly. "São pessoas de nosso universo, e estão representando a França".

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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