Só com avião particular, DEM investiu R$ 880 mil para alavancar Davi e Maia

Era dezembro e um senador desfrutava de valiosos oito dias de férias no Nordeste depois de um ano intenso de trabalho.

Davi Alcolumbre (DEM-AP) estava tão focado em se viabilizar candidato a presidente do Senado que queria ir até a praia paradisíaca onde o colega descansava para fazer campanha.

Não vai dar, reagiu o senador ao telefone. Serão três horas de conversa, três horas a menos de ócio.

Quando voltou a Brasília, o primeiro telefonema que recebeu foi, claro, de Davi. Sentaram-se em seu gabinete e, aí sim, por três horas falaram da eleição na Casa, que se realizaria em 1º de fevereiro.

Em primeiro mandato e com nenhuma expressão nacional, Davi esperou acabar o segundo turno das eleições, em que disputou sem sucesso o governo do Amapá, para, em novembro, comunicar à cúpula do DEM que queria disputar a presidência do Senado.

Argumentou que havia um vazio no campo que se oporia a Renan Calheiros (MDB-AL), caso o senador, que presidiu a Casa quatro vezes, de fato se lançasse.

Além do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), já seu aliado, dirigentes do DEM assentiram. O presidente do DEM, ACM Neto, disse que a legenda o apoiaria no que fosse preciso com a parte logística. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e o ex-senador José Agripino Maia (RN) também se dispuseram a ajudar.

Os caciques avaliaram, nas semanas seguintes, que Simone Tebet (MS) perderia a indicação do MDB para Renan e Tasso Jereissati (PSDB-CE) não estava exclusivamente dedicado a uma eventual candidatura.

A vantagem de Davi, apostaram, era ser desconhecido. Muito bom de conversa, humilde e jeitoso, o senador do Amapá não tinha inimigos.

A desvantagem, alertaram, era que ele poderia atrapalhar os planos de Rodrigo Maia (DEM-RJ) de se reeleger presidente da Câmara. Já no cargo, Maia teria mais condições de conduzir com sucesso articulações e, portanto, sua candidatura era prioritária no partido.

"Rodrigo disse que, naquele momento, não poderia entrar [na campanha de Davi] para não expor a intenção do Democratas nas duas Casas", disse Caiado. "Nós entendemos o fato."

A direção partidária calculou que, se carimbasse o selo do DEM na candidatura de Davi, atrairia críticas. Com três ministros já indicados pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), pretender comandar a Câmara e o Senado seria visto como excessivo.

No mundo político, quem acompanhava as articulações dizia que Onyx patrocinava a candidatura de Davi para atrapalhar Maia, de quem se tornara desafeto. Davi tratou de acalmar os ânimos e seguiu o jogo.

Estrategicamente sem aparecer, o DEM se dispôs a ajudar ambos os seus candidatos. Segundo informado pelo partido, só com avião particular, foi gasto em dezembro e janeiro R$ 880 mil. Houve ainda gastos com material gráfico de Maia, cujo total não foi repassado à reportagem.

"Davi botou o peito na água no início de dezembro, foi a 19 estados, trabalhou incansavelmente 20 horas por dia e recebeu", bradaria Onyx, depois da vitória.

Mas, até o dia da disputa, a cúpula do DEM estava cética. Achava que Renan era franco favorito, a se confirmar o voto secreto. Davi tinha o apoio de Onyx e do próprio Bolsonaro, que nega interferência, mas telefonou a senadores, segundo membros do DEM.

Renan fazia a costura interna com habilidade. Até o filho do presidente, senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), estava a seu lado, apostavam correligionários de Davi.

Na sexta, dia da eleição, o senador do Amapá estava resoluto. Se sentaria na cadeira de presidente. Exoneraria Luiz Fernando Bandeira de Melo, secretário-geral da Mesa aliado a Renan. E estava decidido a manter a calma a ataques virulentos do adversário.

Horas antes da sessão, ACM Neto entrou em campo. Ajudou na articulação que levaria Tasso a dar o primeiro passo decisivo, na avaliação do grupo de Davi. Ao retirar a candidatura em seu favor, o tucano começou o movimento de unificação do campo antipático a Renan. Depois viriam o apoio da maioria ao voto aberto e todo o tumulto em plenário que levou a decisão ao dia seguinte.

Ao subir à Mesa Diretora e tomar as pastas de trabalho das mãos de Davi, a senadora Kátia Abreu (PDT-TO) ajudou a enterrar as pretensões de Renan, afirmam dirigentes do DEM. 

Na madrugada de sexta para sábado, Maia comemorava a vitória folgada. Davi trabalhou até o amanhecer para evitar a ascensão de uma terceira via —Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). Funcionou.

O DEM, agora no comando do Senado e da Câmara sem ter as maiores bancadas, cuida para não transformar o aumento de poder em aumento de fracassos.

Precisa, para isso, ajudar o governo na articulação com o Congresso para não ser cobrado por seus eventuais erros. E, dentro de casa, aquece panos para impedir que a relação entre Maia e Onyx volte a dar trabalho como no passado.

 

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