NBA resiste a tentativa de LeBron de reordenar forças na liga
Quando o jovem Brandon Ingram, 21, preparava-se para bater um lance livre contra o Indiana Pacers, na terça-feira (5), em Indianápolis, a torcida local começou a entoar: "LeBron vai te trocar, LeBron vai te trocar".
Naquele dia, um desconjuntado e abatido Los Angeles Lakers perdeu por 42 pontos, a pior derrota de um time que tinha LeBron James em quadra na história. Nem foi o revés mais duro da semana para o craque e para a equipe californiana.
Expirou na quinta (5) o prazo para trocas de atletas na NBA. E fracassou o plano do agente e amigo de LeBron, Rich Paul, de forçar a ida de seu mais novo cliente, o ótimo Anthony Davis, do New Orleans Pelicans para os Lakers.
A junção dos talentos do ala e do ala-pivô poderia provocar uma reordenação de forças na liga e ameaçar o reinado do bicampeão Golden State Warriors. Além disso, com Davis, 25, a equipe de Los Angeles veria bem pavimentado seu futuro no ocaso de LeBron, 34.
Por isso, quando Davis passou a ser representado por Rich Paul, em setembro, muitos viram a assinatura como um passo na direção de Hollywood. Há duas semanas, a intenção se confirmou, e o jogador pediu para ser negociado, deixando claro o destino desejado.
O problema é que o atleta ainda tem um ano e meio de contrato com os Pelicans. A tentativa foi vista como uma manobra desonesta de Davis, de LeBron, de seu agente e dos Lakers, e a diretoria dos Pelicans --incentivada por 28 dos 30 clubes da NBA-- resolveu não entrar no jogo.
O que se viu, então, foi uma negociação curiosa. Em um primeiro momento, Dell Demps, gerente geral dos Pelicans, nem atendeu às ligações de Magic Johnson, diretor dos Lakers. Depois, passou a ouvir as propostas sem dar qualquer resposta.
Elas foram aumentando e se tornando públicas até que Magic ofereceu basicamente todos os seus jogadores que não se chamam LeBron mais duas escolhas no sistema de seleção de calouros dos próximos anos. Do outro lado da linha, silêncio.
A oferta era ótima. Lonzo Ball, 21, Brandon Ingram, 21, e Kyle Kuzma, 23, jovens mais talentosos do time, estavam nela incluídos, assim como os também promissores Josh Hart, 23, e Ivica Zubac, 21. O Los Angeles ainda se dispôs a receber o fraco Solomon Hill, 27, e seu contrato pouco palatável para ter Anthony Davis.
Nada feito. Por mais tentador que fosse o pacote, os Pelicans enviaram uma mensagem: não serão forçados a nada. Resistiram a Rich Paul e a LeBron, que já foram chamados por um dirigente da NBA de "chefes mafiosos".
A recusa teve influência de Danny Ainge, gerente geral do Boston Celtics, e reacendeu a maior rivalidade da NBA. Arqui-inimigos dos Lakers, os Celtics têm muito interesse em Davis, mas, por questões contratuais, só poderão entrar na briga ao fim da atual temporada.
Ainge telefonou várias vezes para Dell Demps, dos Pelicans, e teve mais sucesso para completar as ligações do que Magic Johnson. Pediu-lhe que esperasse e lhe assegurou que, em julho, terá uma boa oferta pelo ala-pivô, possivelmente colocando à disposição o cobiçado ala Jayson Tatum, 20.
Hoje cartola do Boston, Danny Ainge era ala-armador do time nos anos 1980, no auge da rixa com os Lakers, do armador Magic Johnson. Agora, como ocorreu na decisão da NBA de 1984, levou a melhor sobre o rival.
Ao menos até o final do campeonato atual, a equipe de Los Angeles tentará se virar com LeBron e aqueles de quem a diretoria queria se desfazer. Como ficou claro no massacre em Indianápolis, aquele em que Ingram ouviu "LeBron vai te trocar", não será fácil diminuir a distância entre o craque e seus companheiros.
Ao término da temporada, Anthony Davis entrará no último ano de seu contrato, e o New Orleans muito provavelmente terá de negociá-lo para não perdê-lo sem qualquer recompensa. Aí, ao que tudo indica, haverá um novo Lakers x Celtics.
Campeão em 1985 e em 1987 em cima do Boston, de Danny Ainge, Magic espera virar o jogo mais uma vez.