Precisamos de velórios para sermos solidários?

O país está de luto. Barragens arrebentam tragando centenas de vidas; jovens que poderiam ser nossos filhos morrem em um incêndio no Flamengo; inundações resultam em desastres e mortes no Rio de Janeiro; viadutos são interditados por falta de manutenção em São Paulo.

Por todos os lados, a falência do setor público resulta em vítimas. Faltam recursos para investir em infraestrutura e para a regulação e fiscalização do setor privado. O resultado é um país atônito com a sucessão de calamidades.

Tragédia anunciada. Há anos sabe-se que, sem reformas, as despesas crescentes com os servidores e com a Previdência levariam ao colapso do setor público. Além disso, nossos serviços são bem piores do que em países emergentes com menor carga tributária. 

O último governo Paulo Hartung no Espírito Santo mostrou que, mesmo em tempos difíceis, a gestão competente consegue combinar equilíbrio fiscal com a melhoria da eficiência dos serviços públicos.

As corporações de servidores, porém, defendem veementemente seus reajustes salariais e aposentadorias precoces. Como se não bastasse, muitos do setor privado tentam justificar seus subsídios à custa do restante do país.

A crise propicia ideias destrambelhadas, como a de utilizar as receitas futuras dos estados para pagar as atuais aposentadorias. Nada diferente do que fez o Rio de Janeiro ao vender seus royalties futuros do petróleo. Não deu certo e a bolha explodiu.

Outros propõem desnudar um santo para vestir outro, transferindo recursos da União para os estados. Nenhuma das propostas, descritas por termos obscuros para a maioria, como Lei Kandir ou cessão onerosa do pré-sal, resolve o problema estrutural das contas públicas.

Alguns preferem ignorar as evidências de colapso e acreditar em truques de ilusionista.

A nossa renda por trabalhador cresceu 18% entre 1995 e 2016, bem menos do que os 127% de crescimento nos países emergentes fora da América Latina. A recessão tornou o Brasil mais pobre e o dinheiro acabou. Os grupos organizados, porém, não reconhecem a sua responsabilidade e se recusam a contribuir como o restante da sociedade.

As tragédias revelam um país que necessita do velório para encontrar a solidariedade.

 

Fernão Bracher surpreendia pela curiosidade para ouvir o outro. Muitos escreveram sobre as imensas realizações desse homem gentil e disciplinado. Em tempos de desesperança, comovo-me ao recordar o octogenário elegante que assistia atentamente aos seminários sobre política pública e que, com a sua discrição usual, contribuía para melhorar a educação no Brasil.

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