Playboy acaba no Brasil e editora é acusada de usar nome indevidamente

São Paulo

A Playboy não existe mais no Brasil. O contrato da publicação com a PBB Editora Ltda foi rescindido pela matriz americana no final do ano passado. A informação foi confirmada pela diretora-geral da Playboy americana, Hazel Thomson, e também pela empresa que a editava.

A mais famosa revista masculina do país encerra suas atividades em meio a um festival de acusações contra Marcos Abreu, ex-diretor da PBB Editora. Ele está sendo acusado por ex-colaboradores e pela própria Playboy de uso indevido da marca criada por Hugh Hefner.

A empresa adquiriu o direito da marca no Brasil em 2016, depois 40 anos de publicação pela editora Abril. Há três meses, a editora de Abreu havia anunciado que haveria apenas um exemplar por ano para colecionadores. Após a mudança na periodicidade da publicação, a editora passou a investir no segmento online.

O diretor e produtor de ensaios Rafael Castro, que afirma ter sido contratado para a reformulação do site, diz ter sido enganado. As suas suspeitas, ele conta, começaram após a criação de uma plataforma, hospedada no site da revista, para a realização de ensaios com mulheres anônimas.

Fotógrafos foram convocados para aderirem ao projeto em um esquema de sociedade com a publicação. Castro afirma que não sabia sobre o projeto Men Play, que segundo ele em nada tinha a ver com a revista oficial. 

Já o fotógrafo Fabricio Garcia fez ensaios (não publicados) para o suposto novo site da Playboy e diz que Abreu interagia com mais de 60 fotógrafos por um grupo de WhatsApp. Ele conta que ali nasceu a ideia do projeto, do qual ele diz nunca ter feito parte, que usava a marca oficial da Playboy.

"Ele [Marcos Abreu] lidava com todos os fotógrafos como se fosse uma equipe 'Playboy'. Ele queria fazer camiseta, colete, com a marca... Eu percebi na cara que era uma falcatrua. A ideia [do Men Play] era que a Playboy desenvolvesse as revistas de mulheres comuns. A revista era embalada numa caixa preta com uma orelha de coelhinha e com o nome Playboy."

Outro fotógrafo, que pediu para não ter seu nome identificado, relata também ter se sentido iludido pela proposta. "Fiquei meio assim pois sabia que a Playboy havia terminado por aqui, porém eles disseram que eram representantes no Brasil. Fiquei lisonjeado em ser um fotógrafo oficial da Playboy no Brasil", diz. Ele teria sido excluído do grupo de fotógrafos após cobrar explicações sobre a relação entre o projeto Men Play e a publicação.

“Quando o Marcos Abreu registrou o Men Play, em fevereiro, eu comprovei a real má intenção dele, que era transferir os dados de leitores da Playboy e os seguidores [nas redes sociais] para esse novo projeto  porque a qualquer momento o site e as redes da Playboy iriam cair, já que ele não tinha mais a licença”, disse Castro, que ao lado de sua namorada, a modelo Mily Cunha, decidiu denunciar as suspeitas que tinha para a matriz americana.

Ele alega ter concordado inicialmente em fazer negócio com o empresário por acreditar em sua ligação com a marca norte-americana. “Agora eu quero justiça”, afirmou ele.

O site e todas as redes sociais que tinham o selo verificado da publicação no Brasil saíram do ar na semana passada. Somente no Instagram eram mais de 480 mil seguidores. Procurada pela reportagem, a diretora da revista nos Estados Unidos confirmou as investigações. "Estamos cientes de que o Men Play está infringindo nossa marca registrada e estamos tomando medidas legais para resolver a situação com o máximo de urgência."

No sábado, um selo com a logomarca do FBI estampou a página do site Men Play, que agora aparece como “em manutenção”. Abaixo do logo, atribuído à unidade policial do Departamento de Justiça dos EUA, foi publicado o seguinte aviso: “Esse é um sistema segurado e monitorado pelo governo federal. Acesso não autorizado e estritamente proibido. Toda atividade é monitorada. Indivíduos que tentarem acesso não autorizado ou qualquer modificação desse sistema estão sujeitos a processo criminal."

Especialista em direito penal e propriedade intelectual, o advogado Franklin Gomes explica que a utilização de uma marca sem autorização representa uma infração prevista em lei.

“Em tese está sendo cometido crime contra registro de marca e ainda podem ter crimes como violação de direitos autorais ou até de estelionato, que é quando se induz alguém ao erro para obter uma vantagem. No caso das modelos, elas podem ter sido vítimas porque talvez tenham acreditado que era a própria Playboy”, afirma Gomes.

NÃO SEI O QUE É ILÍCITO

Procurada pela reportagem, a diretora executiva da Playboy no Brasil, Cida Gonçalves, afirmou que o acordo foi rescindido por parte da publicação nos Estados Unidos. Ela relacionou o projeto Men Play ao período de vigência do contrato. 

"Nosso contrato era de cinco anos, sendo válido até 2020, e foi rescindido unilateralmente por eles. Estávamos tentando uma renegociação, que não deu certo e por isso o projeto Men Play deixou de existir."

De acordo com a diretora, as redes sociais e o site oficial da revista no Brasil somente saíram do ar por causa da quebra de contrato. Questionada sobre o posicionamento da Playboy americana, que considera ilegal o projeto Men Play, Cida rebateu: "Não sei o que é ilícito para eles”.

O diretor e presidente Marcos Abreu foi procurado, mas não atendeu à reportagem. A diretora informou que ele está de férias em viagem no exterior.

ESCÂNDALO COM COELHINHAS

No ano passado, o ex-publisher e vice-presidente da marca André Sanseverino se viu envolvido em um escândalo ao ser acusado de assédio sexual. O processo ainda corre na Justiça. Segundo reportagem do Fantástico, ele e Marcos Aurélio de Abreu teriam prometido oportunidades de trabalho durante um evento em Florianópolis, em agosto de 2016. Eles juraram fama e sucesso em troca de fotos nuas e sexo.

O caso culminou com o afastamento de Sanseverino da Playboy no Brasil. Na ocasião, Sanseverino se defendeu: "Não assediei ninguém. Levei um susto quando há uma semana soube da acusação. Não sabia de processo nem fui intimado para depor em delegacia nenhuma. A imprensa que me informou do caso na véspera do feriado de Tiradentes e perdi o chão. O estrago na minha imagem está sendo gigantesco desde que tudo isso veio à tona, mas vou buscar justiça".

UOL

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