De currículo duvidoso, técnico da Croácia leva seleção a patamar inédito

Quando Davor Suker, presidente da Federação Croata e artilheiro da Copa de 1998, anunciou que Zlatko Dalic, 51, seria o novo técnico da seleção, em outubro do ano passado, a situação da seleção era periclitante nas eliminatórias para o Mundial na Rússia.

A escolha causou estranheza. Que pedigree tinha Dalic, que nem croata era (nasceu na Bósnia) e estava no Al Ain, dos Emirados Árabes, para tirar a equipe daquele momento difícil? “Eu estou vivendo o sonho”, reconheceu nove meses depois, ao colocar a mesma Croácia na final da Copa.

Ninguém no país vai admitir que ele é um mestre em esquemas táticos. O próprio Suker disse isso. Mas o agora cartola acreditou que Dalic oferecia uma visão do caminho que a seleção deveria seguir.

E, ao mesmo tempo, seria capaz de unir os jogadores, algo que faria diferença naquele instante de crise. “Ele não vai revolucionar a nossa seleção. Mas ele entende como o jogador pensa e sabe tirar o melhor de cada um. É disso que precisamos”, justificou Suker.

Deu certo. A Croácia tem se especializado em espremer resultados, mesmo que seja com sofrimento. Venceu um jogo-chave das eliminatórias, fora de casa, contra a Ucrânia. Passou pela Grécia na repescagem e garantiu sua vaga.

Um meia de futebol discreto que jamais defendeu a seleção, Dalic construiu seu currículo com a passagem pela equipe sub-21. Os resultados não foram expressivos, mas causaram boa impressão. Sua contratação pode ter sido um dos momentos que mudaram a história do futebol croata.

Antes do início da prorrogação contra a Inglaterra, nesta quarta (11), Dalic teve conversa com Modric, o camisa 10 e coração da Croácia. Por volta dos 20 minutos do segundo tempo, o armador do Real Madrid (ESP) já podia ser visto com o corpo curvado e as mãos no joelho, exausto. Seguiu em campo mesmo assim. Apenas foi substituído depois que Mandzukic marcou o gol da classificação. Quando a partida terminou, o técnico o abraçou, e o astro da seleção desabou no choro.

O próprio Dalic derramou lágrimas na conferência de imprensa após a partida. Após 20 anos, a equipe montada por ele superou o histórico resultado obtido pela geração que terminou em terceiro no Mundial da França. O astro daquele time era Suker, o homem que o contratou para esta Copa.

O treinador tem feito sua seleção viver no limite e sobreviver. Jogou prorrogações nas oitavas, quartas e semifinal. Passou por duas disputas de pênaltis. Nos minutos finais diante dos ingleses, havia três jogadores sinalizando para o banco de reservas que sentiam cãibras. Dalic berrou algo, e eles seguiram em campo.

“Tem sido uma jornada emocionante. Algo que não esperávamos que pudesse acontecer no começo. Mas, com o passar do tempo, acreditamos mais e mais”, afirma.

A Croácia será zebra contra a França, da mesma forma que Dalic não tem a mesma fama de Didier Deschamps, seu adversário de domingo. Ele mesmo reconhece que vai continuar na mesma toada com seus atletas. Faltam 90 minutos. E se forem 120, pouco importa. Resta apenas um jogo para a imortalidade no futebol e na Croácia, país de 4 milhões de habitantes que nunca obteve resultado semelhante.

Dalic tinha fé de que aconteceria. Tanto que, ao apito final, sua conta no Twitter publicou a mensagem “um coração. Uma alma. Uma Croácia.”

Ele pode ser o mais jovem técnico campeão mundial desde Franz Beckenbauer, que levou a Alemanha ao título de 1990 com 45 anos. “Zlatko sempre encontra um jeito de nos empurrar adiante. O mérito da nossa campanha é todo dele”, disse Perisic, eleito o melhor em campo na semifinal.

Em todas as horas de sufoco ou aperto, ele enfia a mão no bolso direito. É onde carrega um rosário. Tira-o e acaricia por alguns segundos. Aprendeu a fazer isso quando criança em Livno. Cresceu próximo a um monastério. Ainda tenta cumprir o ritual de ir à missa todos os domingos. Durante a Copa tem sido impossível.

Com o tom sempre calmo, sem ter jamais treinado uma equipe sequer de médio porte na Europa, Dalic ainda teve a chance de lembrar que a Croácia não deve ser jamais menosprezada. “Aqueles especialistas que pensaram que a Inglaterra iria para a final não são especialistas. Se fossem, saberiam que a Croácia tem um time melhor.”

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