Franceses colhem neste ano a melhor safra de uvas desde 1947

Em Saint-Émilion, no Château Corbin, na França, a enóloga Anabelle Cruse-Bardinet está entusiasmada com a colheita deste ano. As geadas da primavera devastaram seu vinhedo no ano passado, como fizeram com muitos outros châteaux em Bordeaux, e ela não produziu nenhum vinho.

“Vamos produzir uma safra incrível em 2018”, disse ela, por email. “Tivemos um verão seco e ensolarado, o que deu às uvas uma concentração boa e taninos muito maduros.” Foi o mês de julho mais quente desde a excelente safra de 1947.

O outono é a época de colheita do vinho no Hemisfério Norte. A maioria dos viticultores da França está sorridente, entusiasmada porque 2018 não repetirá a desolação de 2017, quando eles colheram a menor safra desde a Segunda Guerra Mundial, graças a grandes geadas, chuvas de granizo violentas e ondas de calor escaldantes. Surpreendentemente, a qualidade das uvas que sobreviveram foi excelente em muitos lugares, inclusive em Bordeaux.

Neste ano, além da vitória na Copa do Mundo, a França também é uma das grandes vencedoras do bolão global da safra. Nos últimos dez dias, enviei um email para produtores de vinho e organizações do setor nas principais regiões da França para saber das últimas novidades. Quanto mais ao norte, melhor parecem estar as uvas.

Como a colheita só terminará no próximo mês, todos estão de olho no céu —e nos aplicativos de smartphone sobre o clima. 

A Alsácia, região fria do nordeste, teve uma de suas colheitas mais adiantadas da história e deve produzir vinhos excelentes. “Safras como esta podem ser contadas nos dedos de uma mão”, diz Jean-Frédéric Hugel, da famosa vinícola Famille Hugel, onde a colheita começou em 5 de setembro. 

“Os vinhos serão encorpados, com muita concentração e os períodos de clima mais frio mantiveram uma acidez brilhante. E esta será uma safra generosa, com boa produção.”

Em Bordeaux, nem todos tiveram a mesma sorte. Gavin Quinney, do Château Bauduc, ressalta que uma das piores tempestades de granizo dos últimos tempos atingiu vinhedos no fim de maio e afetou Sauternes e partes de Graves no dia em que a França ganhou a Copa do Mundo.

Para outros, um mês de junho quente e chuvoso estimulou a propagação de mofo, o que pode resultar em uma grave perda de uvas. Ainda assim, a safra global na França está se recuperando 25% em relação a 2017, de acordo com o Ministério da Agricultura francês. 

Na Borgonha, a colheita começou com três semanas de antecedência, graças ao clima maravilhoso durante a estação de crescimento, que impulsionou o amadurecimento. Colher cedo é uma bênção para os produtores de vinho que se preocupam com a inevitável chegada das chuvas. 

A maioria dos produtores de vinho está contente, especialmente em relação aos brancos, que, segundo Laurent Drouhin, da Joseph Drouhin, têm sabores florais e frutados. O verão extremamente quente e seco veio a calhar depois de uma primavera úmida que ameaçou criar mofo, e a chuva no fim de agosto manteve a acidez nas uvas.

O entusiasmo é particularmente grande entre produtores de Champanhe, que fizeram comentários como: “Talvez eu não veja outra safra assim na minha vida”. Pela quinta vez nos últimos 15 anos, a colheita começou em agosto e está quase concluída.

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