EUA bloqueiam bens produzidos por escravos para proteger emprego local
Os Estados Unidos anunciaram nesta quinta-feira (20) que estão impulsionando sua luta contra bens produzidos por escravos “para salvaguardar trabalhos americanos”.
O anúncio foi feito pelo Departamento de Estado com uma lista de bens que o governo acredita terem sido produzidos a partir de trabalho infantil ou forçado. A prática é tida como crime a importação desde uma lei de 2016, criada no governo Barack Obama.
“Trabalhadores americanos não podem competir com produtores no exterior que usam trabalho infantil ou trabalho forçado”, disse o secretário de Trabalho dos EUA, Alexander Acosta, na introdução da lista de 148 itens produzidos em 76 países.
Se “um parceiro comercial” estiver envolvido com trabalho infantil ou forçado, “os EUA irão fazer o que for necessário para proteger trabalhadores vulneráveis de exploração, salvaguardar empregos americanos e criar um campo de jogo justo para países que obedecem às regras”, acrescentou.
Uma porta-voz do Departamento de Trabalho disse que o relatório representa uma contribuição essencial para proteger trabalhadores vulneráveis de exploração no mundo.
“Trabalho infantil e trabalho forçado são práticas repugnantes que vão contra os valores americanos”, disse Martha Newton, vice-sub-secretária do Escritório de Relações Trabalhistas Internacionais do Departamento de Trabalho, à Thomson Reuters Foundation em comentário por e-mail.
Estima-se que 25 milhões de pessoas estejam presas em trabalho forçado mundialmente, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho e a instituição beneficente Walk Free Foundation.
Mais de US$ 400 bilhões em bens provavelmente feitos a partir de trabalho forçado entram no mercado norte-americano a cada ano, disse Annick Febrey, diretora de relações governamentais do Human Trafficking Institute, que advoga pelo fim da escravidão moderna.
Ela disse que a mudança de tom do Departamento de Trabalho ecoa a promessa "America First" (primeiro a América, em inglês) entoada pelo presidente Donald Trump sobre questões comerciais internacionais. Para Febrey, a lista pode trazer um esforço mais contínuo para bloquear a entrada no país de bens produzidos a partir de trabalho forçado.
“É um reflexo das políticas comerciais e foco do governo atual no American First”, disse Febrey à Thomson Reuters Foundation.
Trump impôs taxas de importação sobre China, México, Canadá e a União Europeia, aumentando tensões comerciais conforme busca consertar o que vê como balanças comerciais injustas.
Eric Gottwald, diretor legal e político do Fórum Internacional de Direitos Trabalhistas, sediado em Washington, disse ter ficado em choque pelo destaque do Departamento de Trabalho em erradicar trabalho escravo porque coloca trabalhadores norte-americanos em desvantagem competitiva.