De São Paulo a Basileia, com "Resiliência"

Acontece amanhã (11), às 20h30, no Sesc Pinheiros, em São Paulo, o lançamento do CD “Resiliência” (Blaxtream) do  violonista, guitarrista, compositor e arranjador paulistano Vinícius José Spedaletti Gomes, 33.

O Música em Letras esteve com o artista, em seu apartamento, em São Paulo, e gravou-o com exclusividade para o blog (veja vídeo  no final do texto), interpretando “Primeiro Sim”, música de sua autoria e uma das dez faixas do disco que será apresentado no show.

Vinícius Gomes tocou com Rosa Passos, Jane Duboc e Toninho Ferragutti, entre outros excelentes artistas brasileiros, mas, a partir de agosto, quem quiser compartilhar seu som terá que ir a Basileia, capital da cultura na Suíça. Durante um ano, o músico fará residência no campus de jazz da Academia de Música da Basileia.

Atendendo a solicitação de um processo seletivo da instituição, no final de 2017, Gomes enviou um vídeo com uma compilação de seu CD “Resiliência”, além de dois standards de jazz. “O Thiago Alves, meu amigo e baixista. foi quem me falou desse lugar. Mandei o material e, depois de um tempo, recebi um e-mail informando que havia sido selecionado para fazer as provas lá”, contou o músico que conquistou a vaga disputada com um guitarrista polonês.

Vinícius Gomes (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

Gomes fará parte de um septeto da instituição, denominado Focus Year Band, que ensaiará todos os dias e fará concertos nos finais de semana, no intuito de promover o crescimento de seus integrantes e a criação de uma identidade musical. Os integrantes do grupo são de diversos lugares do planeta: a cantora é coreana, o baterista e a saxofonista, norte-americanos, outro baterista e um saxofonista são espanhóis, um baixista austríaco e Gomes, brasileiro.

Para isso o músico brasileiro receberá um salário e terá a sua disposição uma cota de aulas mensais de cursos de sua escolha. Entre os professores, Lionel Loueke, guitarrista que toca no grupo do pianista Herbie Hanckock, além do baterista Jeff Ballard e do contrabaixista Larry Grenadier, ambos integrantes do Brad Mehldau Trio.

A Focus Year Band recepcionará artistas de várias partes do mundo, entre eles músicos de jazz consagrados. “Um deles é o Billy Shields, pianista que acabou de ganhar um Grammy de jazz, que ficará uma semana ensaiando com a gente e, no final de semana, faremos concertos com ele”, contou Gomes, que também deve tocar com o saxofonista tenor canadense Seamus Blake, outro nome já confirmado para participar do programa da escola suíça, que, segundo o brasileiro, é feito nos moldes do The Thelonious Monk Institute of Jazz, de Nova York. “No final do programa, ganhamos um certificado de ‘artist diploma’, como se fosse uma pós-graduação.”

INVEJA BOA

A inveja de ver uma prima aprendendo piano, fez com que, aos 6 anos, Gomes passasse a compartilhar as aulas. Dois meses depois, a prima parou no som e ele continuou. Foram mais seis anos de piano até mudar seus estudos para a guitarra.

Aos 12 anos, Gomes curtia e já tocava na guitarra Led Zeppelin, Pink Floyd e Jimi Hendrix (1942-1970). A busca por informações sobre músicos dessas bandas, por meio de entrevistas, fez com que o instrumentista descobrisse outros nomes de artistas que haviam influenciado seus ídolos. “Todos falavam dos caras do blues, como o Buddy Guy e o B.B. King. Fui atrás de uma entrevista do B.B. e ele fava dos guitarristas de jazz, do Wes Montgomery e do Joe Pass. E os caras do jazz gostavam dos músicos brasileiros. Nessa, fiz uma volta, porque quando eu era mais novo já ouvia o Alemão [Olmir Stocker], o Heraldo [do Monte], o Hélio Delmiro e muito o Baden [Powell]”,  contou o instrumentista que obteve em 2012 o título de mestre em Música, concedido pela Universidade de São Paulo.

Entre seus professores, Gomes destaca ter recebido grandes lições de um trio forte musicalmente formado por Olmir Stocker, o Alemão, Fernando Corrêa e Marcus Teixeira, todos excelentes músicos e brasileiros.

SHOW

No show, Vinícius Gomes (guitarra e violão), Daniel de Paula (bateria), Rodrigo Ursaia (sax e flauta), Gustavo Bugni (piano) e Bruno Migotto (baixo) promovem um diálogo musical espontâneo, usando as composições de “Resiliência” como ponto de partida. “A ideia não é reproduzir o que aconteceu na gravação do disco, mas tocar as músicas da maneira mais espontânea possível. Por isso, pode ser que uma música que ficou muito tranquila no disco, no show fique mais agressiva e vice-versa. Isso estimula a gente a não cristalizar uma performance e ficar repetindo uma mesma sensação”, falou Gomes.“Êxodo”, com sessão de improviso coletivo, e “Primeiro Sim”, peça melodiosa com muitas mudanças de compassos e inspirada na maneira de harmonizar de Toninho Horta e Wayne Shorter, são algumas das músicas do repertório do show, que deve agradar bastante os que gostam da canção brasileira e do jazz contemporâneo.

Capa do CD “Resiliência” (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

Assista, a seguir, o músico interpretando “Primeiro Sim”, gravada com exclusividade pelo Música em Letras.