Cúpula sobre 'brexit' termina sem acordo entre Reino Unido e bloco europeu
O agendamento para novembro de uma cúpula extraordinária para finalizar os termos do “brexit” foi o melhor a que conseguiram chegar os 28 líderes europeus reunidos desde quarta-feira (19), em Salzburgo, na Áustria.
Ao fim do encontro, nesta quinta (20), os chefes de Estado e governo anunciaram que uma nova reunião havia sido marcada para os dias 17 e 18 de novembro. A ideia é que, nesta ocasião, chegue-se a um acordo definitivo sobre as condições de saída do Reino Unido da União Europeia (UE), a se concretizar em 29 de março de 2019.
Antes, em 18 de outubro, o Conselho Europeu se reúne em Bruxelas, mas a primeira-ministra britânica, Theresa May, já deu a entender que acha improvável concluir as negociações até lá, segundo noticiou a rede de TV BBC.
A forma de lidar, no "pós-brexit", com a circulação de mercadorias entre Irlanda do Norte (parte do Reino Unido) e a República da Irlanda (integrante da UE) continua a ser o principal entrave ao avanço das tratativas.
O bloco bate na tecla de que, para evitar a entrada clandestina de produtos britânicos no mercado comum, é preciso haver algum tipo de checagem, mesmo que não exatamente ao longo da fronteira entre aqueles países. Se não houver acordo quanto a isso, os europeus querem que Belfast continue sujeita à legislação comercial europeia, ao menos temporariamente, o que Londres refuta.
De seu lado, Theresa May propôs o estabelecimento de uma união aduaneira para bens manufaturados e produtos agrícolas envolvendo Reino Unido e UE, o que tornaria dispensáveis os “check-points” sugeridos pelo bloco.
O desenho, no entanto, é criticado tanto internamente (os partidários do “brexit” veem nele um amolecimento do divórcio com o continente) quanto externamente (Bruxelas não quer que May escolha a seu bel prazer onde os britânicos vão permanecer próximos da UE e onde vão seguir em voo solo).
Em Salzburgo, um dos principais pontos de discussão foi o chamado “backstop”, a garantia que a República da Irlanda cobra do Reino Unido de que, mesmo em caso de um “no deal” (ausência total de acordo sobre os termos do “brexit”), a fronteira com o Norte não deixe de ser tão porosa quanto é hoje. A reivindicação é apoiada por todos os membros da UE.
“Temos princípios muito claros sobre a integridade do mercado comum e especificamente sobre a fronteira irlandesa”, disse o presidente francês, Emmanuel Macron. “Precisamos de uma proposta britânica que contemple essa garantia [backstop] no contexto do acordo para a retirada do Reino Unido.”
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, também fez ressalvas ao que vê como ameaças contidas no plano de Londres ao funcionamento do bloco continental.
“A hora da verdade para as negociações do ‘brexit’ vai ser o Conselho Europeu de outubro. Ali esperamos progresso máximo e resultados.”
Mais cedo, líderes de países menos expressivos no xadrez geopolítico europeu deram declarações um pouco mais conciliatórias em relação a Londres.
Na principal delas, o contestado primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, disse lamentar a visão de alguns colegas de UE segundo a qual o Reino Unido deveria ser punido (e os britânicos deveriam sofrer) por ter votado pelo desligamento do resto do continente.
“Não gosto nem um pouco dessa abordagem. O que precisamos é de um ‘brexit’ justo e de uma boa cooperação entre o Reino Unido e a União Europeia no futuro”, afirmou ele.
Já o premiê de Malta, Joseph Muscat, disse que havia "apoio quase unânime” entre seus pares à ideia de que o “brexit” passasse por outro referendo popular, possibilidade já fuzilada por Theresa May diversas vezes, e novamente nesta quinta.