Como Trump se deu melhor do que Temer

Alguns dos mais conspícuos membros da tribo de Michel Temer estão presos ou passaram pela prisão. Casos de Henrique Eduardo Alves, Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima, Moreira Franco, Rodrigo Rocha Loures (o homem da famosa mala) etc. Alguma surpresa, então, com a prisão preventiva do próprio ex-presidente? Pode ter sido exagerada, desnecessária, o que cada um quiser, mas surpresa não pode ser.

Agora, mude o foco para outro presidente, este ainda em funções, um certo Donald Trump. Aí, sim, cabe a surpresa pelo fato de não ter sido considerado culpado de conspiração com os russos, conforme a versão do informe final de Robert Mueller, divulgada no domingo (24).

É verdade que o investigador especial não livra totalmente a cara do presidente, no capítulo “obstrução da Justiça". Simplesmente, deixou a cargo do Departamento de Justiça (equivalente ao Ministério da Justiça brasileiro) avaliar se houve ou não algum delito.

O que tem a ver Temer com Trump? Simples: seis ex-assessores de Trump foram acusados de diferentes crimes, dois dos quais já condenados. Um, Michael Cohen, foi advogado particular de Trump durante 10 anos. Está condenado a três anos por fraude e por mentir.

O outro é Paul Manafort, seu ex-chefe de campanha, condenado a sete anos e meio por fraude e conspiração.

Ainda há Michael Flynn, o primeiro assessor de segurança nacional, afastado rapidamente do cargo ao se tornarem conhecidos contatos obscuros com funcionários russos.

A lógica mais elementar indica que quem está cercado de praticantes de delitos não pode ser um anjo. Vale a sabedoria convencional que decreta: “Diga-me com quem andas e te direi quem és", certo?

Não vale como prova na Justiça, claro, mas vale no território da ética política.

Após se ver livre do relatório Mueller, Trump cantou vitória: “É uma vergonha que nosso país tenha tido que passar por isso. Para ser honesto, é uma vergonha que seu presidente tenha tido que passar por isso".

Vamos combinar que, pelos antecedentes e pelas prisões de seus ex-próximos, a vergonha foi provocada pelo próprio Trump.

Saiu-se bem melhor do que Temer, uma vez que o que se divulgou do relatório Mueller até agora breca a ameaça de impeachment e “fornece ao presidente um poderoso estímulo para os 22 meses finais de seu mandato —e possivelmente para a eleição de 2020", como escreveu Peter Baker para o jornal The New York Times.

Mas, no mesmíssimo jornal, David Leonhardt, editor da newsletter de Opinião, repete que Trump não é digno de ocupar a Presidência.

Os motivos não incluem a conspiração com os russos (da qual está inocentado), e sim o fato de que “ele conduziu uma conspiração criminosa para burlar as leis de financiamento de campanha. Ele usou a Presidência para enriquecimento pessoal. Ele minou a democracia. Ele danificou a posição internacional da América. Ele mentiu repetidamente para o público americano".

A eleição do ano que vem dirá se o público americano acredita em Leonhardt ou em Trump, mesmo com tantos amigos na cadeia. O Brasil não acreditou em Temer.

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