Caso Neymar afeta a cobertura da Copa

As matérias publicadas no Brasil sobre o jogo Colômbia x Inglaterra mostram como o assunto de Neymar afetou a cobertura brasileira da Copa. Em diversos jornais e portais, incluindo todos os principais como a Folha, houve um ataque aos “ingleses”, supostamente os mais críticos.

Os títulos, em várias formulações, dizem que os “ingleses”, depois de criticar Neymar, cometeram simulações no jogo contra a Colômbia.

Em primeiro lugar, não há um só inglês que se encaixe nessa descrição. Os jornalistas ingleses que fizeram as críticas não jogam na Copa. E os jogadores que estão na Rússia, tendo simulado ou não, não fizeram críticas. Não há nenhuma ligação entre os críticos e os simuladores que não seja o passaporte.

Os textos, além de criticar os “ingleses”, apontam uma suposta leniência da arbitragem com as simulações dos jogadores dessa seleção. Há de fato encenações inquestionáveis, mas não no nível das do camisa 10 do Brasil.

E, se os ingleses não foram punidos, Neymar também não foi por fantasiar a gravidade de suas lesões no terceiro e no quarto jogos. Ele só foi punido por reclamação no segundo jogo, minutos após a anulação do pênalti.

E nem todas as simulações relatadas são reais. Um dos casos apontados no jogo contra a Colômbia é o caso de Ashley Young, que teria feito de fato aquilo de que se acusou Neymar no último jogo. Só que não.

Young, é bom que se diga, é famoso na Premier League por ser simulador. No jogo, caiu aos 20min do segundo tempo. O jogo parou aos 22min, foi atendido em campo, e aos 24min ele estava de volta à partida, após sair e voltar. O atendimento durou menos de 2min –e não 5min, como disse um comentarista de TV.

Não há caso de jogador que fique caído na sua área, tirando o impedimento, só para simular uma falta. E, ao contrário, é muito comum que atletas atendidos em campo peçam para voltar assim que cumpram a obrigação de sair.

O caso de Neymar contra o México é diferente. O brasileiro já caiu fora de campo. E, ao contrário de toda a Copa, a partida ficou parada com um jogador atendido fora de campo. E por 4min.

A semelhança dos dois casos é que, ao voltarem, ambos estavam recuperados. Treze minutos depois, Neymar fez a jogada do segundo gol. Young, bem mais limitado, não teve nenhum lance de destaque nem participou dos pênaltis.

Para verificar se eu não estava exagerando, consultei jornais de países com bom futebol e que estão fora da Copa, como EUA, Holanda, Itália e Chile nesses dois jogos. Países neutros. O tom era o mesmo da Inglaterra. A maioria elogiou a habilidade de Neymar e o criticou duramente pelo teatro. Pouco se falou das cenas inglesas.

E não faz sentido achar que Neymar seja alvo de uma perseguição internacional –embora isso também tenha sido escrito.

Em todas as críticas há a ideia subliminar de que a imprensa da Inglaterra está protegendo a sua seleção. É bem o contrário. Em 2016, no meio das eliminatórias, o The Telegraph, de Londres, usando seus repórteres sob disfarce, revelou um esquema de corrupção no futebol inglês, que derrubou até o técnico da seleção, Sam Allardyce. São raríssimos os países onde esse tipo de reportagem acontece.

A mensagem que passa dessas matérias é que, se os jornalistas ingleses criticam Neymar por fingir faltas, ou encenar demais nas que ocorreram, então deveriam cobrar o mesmo da sua seleção. E, se eles não o fazem, os brasileiros põem o dedo na ferida.

Por quê? O que temos a ver com isso? Por que se sensibilizar com esses caras?

Se a imprensa inglesa fosse tão poderosa e tão parcial a favor dos interesses de sua seleção quanto as reações sugerem, a Inglaterra já teria mais títulos, e a relação entre jogadores e jornalistas seria fraterna. E nada disso é verdade.

 

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