Banks fez maior defesa da história, vendeu prêmio da Copa e sofreu com lesões

O inglês Gordon Banks, morto nesta terça (12), é um dos poucos goleiros que é muito mais lembrado por uma defesa realizada do que por um gol que tenha tomado. O britânico que foi eleito pela IFFHS (Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol) como o segundo melhor do século 20, só perdendo para o soviético Lev Yashin, operou o seu maior milagre –neste caso não é nenhum exagero usar o termo– no dia 7 de junho de 1970, no estádio Jalisco, em Guadalajara (México), na partida entre Inglaterra e Brasil, válida pela Copa do Mundo daquele ano.

Aquela que também é apontada como a defesa mais conhecida do futebol aconteceu da seguinte maneira. Após um cruzamento de Jairzinho, Pelé subiu mais que a zaga inglesa e deu uma testada forte para o chão –o que dificulta a ação de qualquer arqueiro. Muitos dizem que, após o momento da conclusão, o Rei do Futebol teria gritado gol, mas Gordon Banks mostrou excelente poder de reação para, mesmo depois de a bola ter passado pelo seu corpo, esticar o braço direito e desviar a bola por cima do travessão (apesar desse lance, o Brasil venceria os ingleses por 1 a 0 com um gol marcado por Jairzinho).

Nascido em 20 de dezembro de 1937 na cidade de Sheffield (Inglaterra), o garoto Banks quase desistiu da carreira quando não teve muitas oportunidades nas duas equipes de sua cidade natal, os tradicionais Sheffield United e o Sheffield Wednesday. Ao mesmo tempo abandonou a escola e passou a fazer bicos como ensacador de carvão e pedreiro.

A oportunidade para que voltasse a jogar aconteceu de maneira casual. Em 1952, ele foi assistir a uma partida do time amador chamado Millspaugh FC. Como o goleiro da equipe não compareceu, Banks foi chamado para atuar.

As boas atuações no Millspaugh fizeram com que Banks recebesse um convite para atuar Rawmarsh, que disputava campeonatos mais importantes. Mas disputou apenas duas partidas no seu novo time e, após levar 15 tentos nesses jogos, acabou dispensado. Retornou ao Millspaugh e assinou, em 1953, contrato com o Chesterfield, onde receberia três libras semanais.

Cinco anos depois, Banks fez sua estreia como profissional no Chesterfield e, em 1959, foi contratado pelo Leicester, da primeira divisão inglesa. Em pouco tempo se tornou titular e um dos destaques da equipe, o que o levou a ser convocado para seleção inglesa em 1963.

Na sua primeira partida como a camisa da Inglaterra, sofreu uma derrota para Escócia por 2 a 1. Logo em seguida um empate por 1 a 1 contra o Brasil em Wembley. O engraçado é que, se diante do Brasil o goleiro fez a sua defesa mais importante (a da cabeçada de Pelé), nesse jogo em casa contra a seleção brasileira ele falhou no tento marcado pelo ponta Pepe, conhecido pelo seu chute forte de perna esquerda. Mas, mesmo assim, ele foi mantido como titular da equipe pelo técnico Alf Ransey. O tempo mostrou que o treinador estava certo em apostar no seu goleiro, pois com a camisa da seleção inglesa, Banks fez 73 partidas –em apenas nove dessas partidas a Inglaterra foi derrotada– e sofreu apenas 57 gols –média excelente de 0,78 por jogo–, sendo que em 35 deles não foi vazado.

Os poucos gols que Banks sofria fizeram que a Inglaterra conquistasse sua única Copa do Mundo, em 1966, jogando em casa. Naquela competição ele ficou 442 minutos sem levar gols. Depois de ficar invicto nas quatro primeiras partidas contra Uruguai, México, França e Argentina, ele só seria vazado por um tento de pênalti marcado pelo português Eusébio, aos 37min do segundo tempo, na partida que os ingleses venceram por 2 a 1.

Foi também neste jogo que aconteceu um fato inusitado. Todo goleiro sempre tem uma superstição ou mania. Banks usava, por exemplo, barras de chiclete nas luvas para ter maior aderência na hora de segurar os ataques dos adversários. Mas, justo naquele dia, nenhum membro da comissão técnica levou as barras de goma de mascar para o vestiário. O problema só foi resolvido quando um dos auxiliares conseguiu comprar o doce nas cercanias do estádio de Wembley e o entregou para o arqueiro minutos antes de o jogo começar.

O título Mundial viria contra a Alemanha, depois que o goleiro tomou o gol de empate dos germânicos no último minuto do tempo regulamentar que terminou empatado em 2 a 2. Na prorrogação, com uma ajuda da arbitragem, os britânicos acabaram vencendo por 4 a 2.

Um ano depois da conquista da Copa do Mundo, ele deixou Leicester, onde ganhou a Copa da Liga Inglesa (1964) e se transferiu Stoke City, onde ganharia o mesmo campeonato em 1972.

Na Copa do Mundo de 1970, a mesma em que fez a defesa que marcou sua carreira, Banks não esteve presente na partida em que os ingleses perderam para a Alemanha, por 3 a 2, de virada e foram eliminados do torneio. O arqueiro teve problemas estomacais e não conseguiu entrar em campo.

Aliás, contusões, jogando ou fora de campo, foram comuns em sua carreira. Em toda a sua trajetória foram nada menos que cinco fraturas nos dedos e inúmeros deslocamentos dos mesmos.

Em 1972, no mesmo ano que foi eleito o melhor jogador de futebol da Inglaterra, teve um grave problema que acabou com sua carreira. Em outubro daquele ano, Banks sofreu um grave acidente automobilístico. Vários estilhaços do para-brisas provocaram um profundo corte no seu olho direito. Mesmo depois de inúmeras operações, ele não recuperou totalmente a visão e largou o futebol em 1973.

Depois de anunciar sua aposentadoria, ainda chegou a jogar pelo Fort Lauderdale (Estados Unidos) nos anos de 1977 e 1978 e tentou a carreira de treinador e dirigente, sem muito sucesso.

Como a maioria dos jogadores que atuaram nas décadas de 1960 e 1970, Gordon Banks não se tornou um milionário e, em 2001, vendeu sua medalha de campeão do mundo de 1966 em um leilão por 124.750 libras. Agora, a lembrança de ter feito a defesa mais conhecida da história do futebol talvez seja o maior bem –e herança–  de Banks.

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