Assessor de Rodrigo Maia desponta como candidato a chanceler de Bolsonaro

Um embaixador que assessora o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), despontou como novo candidato para a cadeira de chanceler do governo Jair Bolsonaro (PSL).

Trata-se de Hélio Ramos, assessor especial do deputado fluminense. Nesta terça (30), ele publicou um artigo, em co-autoria com o embaixador Marcelo Dantas, que foi lido no Itamaraty como uma carta de intenções.

Some-se isso ao fato de ele ter um padrinho político que tem se aproximado do presidente eleito, num balé no qual o DEM pode ajudar o PSL a encaminhar as pautas bolsonaristas na Câmara, e está pronto um balão de ensaio diplomático.

O texto, veiculado pelo jornal Correio Braziliense, dá um roteiro para o novo governo tratar de política externa. Sugere uma “equipe coesa e fiel” e, ao tratar de temas espinhosos como política ambiental, diz que é necessário proteger o país de “ingerência externa”.

As palavras soam como música para Bolsonaro, que prometeu retirar o Brasil dos acordos climáticos de Paris.

Ramos, contudo, diz em seu texto que o capital político do país acumulado ao longo de anos no setor “não pode ser desperdiçado”.

Ele apresenta também uma espécie de “mapa do caminho” para pactuar a visão mais conservadora do próximo governo com a política externa.

Critica o que chama de “pedaladas diplomáticas” que ocorreriam desde a década de 1990. Elas seriam o seguinte: o Brasil assume posições progressistas em foros multilaterais que são contra sua legislação, e com isso a diplomacia tenta internalizar essas visões no debate político do país.

Ramos cita explicitamente o caso da defesa da liberação do aborto. Afirma que a prática tem de ser coibida.

Em compensação, afirma que isso precisa ser feito com cuidado extremo na agenda de direitos humanos —ciente da imagem, interna e externa, de Bolsonaro como um opositor de ativistas da área.

Em outra consonância com o bolsonarismo, afirmou que o Brasil precisa ter mais liberdade para negociar acordos bilaterais com países desenvolvidos.

O grupo de Bolsonaro ainda está sem um nome certo para promover as mudanças que ele promete fazer.

Única instituição de Estado citada pelo presidente eleito em seu discurso da vitória, o Itamaraty precisa, na visão de Bolsonaro, “ser libertado”. No caso, da influência que os oito anos sob o chanceler Celso Amorim —para quem Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é “Nosso Guia”.

De 2003 a 2010, o Itamaraty preconizou aproximação de países fora do eixo tradicional da diplomacia, como EUA e membros da União Europeia. Uma reversão se ensaiou no governo de Dilma Rousseff (PT, 2011-16) e se consolidou na gestão Michel Temer (MDB).

A Folha não conseguiu localizar Ramos. Em seu favor também há o fato de já ter servido nos EUA, como cônsul-geral em Miami. Bolsonaro colocou o país de Donald Trump como prioridade externa de seu governo.

A bolsa de apostas para o Itamaraty não tem nomes muito estabelecidos. O diretor para Estados Unidos e Canadá, Ernesto Araújo, é dos poucos diplomatas graduados que fez campanha aberta para Bolsonaro —mas nunca serviu no exterior, o que lhe tira pontos.

Outro citado é o embaixador Luiz Fernando Serra. Ele ocupava o posto em Seul quando Bolsonaro visitou a Coreia do Sul em fevereiro. O relato de aliados é que de o então pré-candidato ficou impressionado com o embaixador e com o tratamento dispensado a ele.

Serra voltou a Brasília e está sem posto no momento.

Por fim, há a hipótese, talvez mais provável, de haver uma escolha política.

Aí há especulação para todos os gostos. A candidata a vice derrotada na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB), senadora Ana Amélia (PP-RS), já foi citada pelo fato de ser mulher, ruralista e gaúcha —o que tecnicamente a aproxima do Mercosul, bloco que os bolsonaristas rejeitam como entrave.

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