Ainda mais longe

Esta oitava eleição presidencial pós-ditadura traz, com qualquer resultado, a confirmação de componentes da realidade opostos à promessa de democracia política presente na “Constituição Cidadã”, de 1988. 

A mais significativa das comprovações é a da inabilitação brasileira para processos sucessórios razoavelmente civilizados. Nenhuma das campanhas transcorreu em normalidade, sem interferências com o propósito de transtornar a livre escolha eleitoral.

Já na primeira eleição da série, a TV foi considerada decisiva em benefício de Collor, deixando na Globo a marca de parcialismo que perdura ainda. 

O retardamento do Plano Real, o apoio unânime dos meios de comunicação a um político como só houvera sob as ditaduras de Getúlio e dos militares, a armação da Polícia Federal no Maranhão em benefício de José Serra, falso caixote de dólares e falso dossiê em armações da PF e do Ministério Público foram os rastros das práticas incorretas que demarcaram o percurso das disputas sucessórias, uma a uma.

 

No pleito atual, o Judiciário fez sua entrada na zona das afrontas à limpidez eleitoral. E o fez com gravidade inigualável no nível das instituições, por ser o próprio Supremo Tribunal Federal um dos fatores de transtorno. 

Foi também a estreia eleitoral do temor de golpe militar, atestando a anormalidade sentida (e sofrida) por parte do eleitorado. A série de eleições recebe, portanto, uma etapa à altura das antecedentes.

Esta é uma eleição sem partidos, disputada só por pessoas. Com exceção relativa do PT e mais do PSOL, os partidos desapareceram, fosse por falta absoluta de expressão, fosse porque dissolvidos nas inúmeras traições. 

Alckmin, por exemplo, fez acordo com tantos partidos do centrão e, na batalha, não contou nem com o seu. A candidatura de Alckmin, por si mesma, demonstrava a derrocada do PSDB. Foi decidida por conta própria, contra a vontade do partido.

Bem, são um partido e uma corrente de políticos cujo cardeal é capaz de indicar para a Presidência da República um animador de auditório. Luciano Huck, aliás, ao recusar mostrou mais lucidez e seriedade do que seu patrono Fernando Henrique.

Democracia não se constitui sem partidos. E partidos não se constituem sem fidelidade básica a ideias. A orgia de interesses que é a política brasileira nega os partidos e trai a representação. Outra vez com a exceção do PT e do PSOL, o que foge a essa regra são parlamentares esparsos. Esta eleição é o funeral dos partidos, sob indiferença geral. A depender de quem seja o eleito, nem pás de terra vão receber.

O Brasil não seria brasileiro se não aproveitasse em larga escala a patifaria chamada de fake news. É incerto que venhamos a ter estimativas confiáveis dessa interferência na disputa eleitoral. Sua presença precedente bastou para dar certeza de uma influência profunda, no público desinformado e boateiro. Uma nova presença logo familiarizada com as ordinarices legais e éticas do processo eleitoral à nossa moda.

Uma eleição, mas nem tanto. Seja qual for seu resultado, não nos aproximou mais da democracia. Muito ao contrário.

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