Advogado diz que após 100 dias de prisão Ghosn está cansado

O ex-presidente da Renault e Nissan Carlos Ghosn, libertado após o pagamento de fiança depois passar 106 dias preso, está cansado, afirmou seu advogado à imprensa.

"Com certeza está cansado", declarou o advogado Junichiro Hironaka.

"Ele foi levado em custódia de surpresa em sua chegada ao aeroporto, ficou detido durante mais de 100 dias. Quem não estaria cansado depois disso?", questionou Hironaka.

Os advogados não descartam a possibilidade de Ghosn oferecer uma entrevista coletiva.

Um eventual encontro com a imprensa é uma questão delicada, pois Ghosn deve evitar que suas declarações influenciem o processo ou acusações de transmitir mensagens cifradas a pessoas envolvidas no caso.

"Somos advogados criminalistas. Nosso único objetivo é que o nosso cliente seja declarado inocente", disse Hironaka.

Ghosn foi libertado depois de pagar uma fiança de quase US$ 9 milhões (R$ 33,5 milhões), comprometer-se a permanecer no Japão até o julgamento e aceitar um controle judicial rígido, que inclui câmeras de segurança em sua residência e o uso de computadores sem acesso à internet.

"Penso que é bom que o tribunal tenha concordado com a liberdade sob fiança, inclusive sob estas condições, porque me parece injusto manter detido um acusado durante um longo período antes de seu julgamento sob uma modalidade que pode ser chamada de 'justiça refém' ", disse Hironaka.

"Espero que agora possamos nos dedicar a uma preparação mais elaborada, mais rigorosa", completou.

Ao mesmo tempo, Hironaka disse que não sabe o que levou Ghosn a optar pela roupa que usava no momento da libertação, algo como um macacão de operário.

"Fiquei surpreso quando eu o vi na televisão", afirmou.

Canais de televisão japoneses fizeram piada e afirmaram que o ex-presidente da Renault estava disfarçado.

Uma emissora fez um de seus apresentadores vestir um figurino similar.

Para o ex-promotor Masaru Wakasa, atualmente advogado e político, a roupa escolhida para o momento de saída do centro de detenção pode prejudicar Ghosn.

CRONOLOGIA

19.nov.
Presidente do conselho da Nissan, Carlos Ghosn é preso por supostas violações financeiras no Japão; o diretor da Nissan Greg Kelly também é detido, suspeito de envolvimento no caso

21.nov.
Tribunal de Tóquio mantém as prisões de Ghosn e de Kelly por 10 dias

22.nov.
Conselho da Nissan tira Ghosn da presidência do colegiado e Kelly da direção da montadora

25.nov.
Ghosn se pronuncia pela primeira vez desde a detenção e nega as acusações

26.nov.
Conselho de administração da Mitsubishi Motors remove Ghosn da presidência do colegiado

30.nov.
Tribunal de Tóquio aceita estender até 10 de dezembro a detenção de Ghosn

10.dez.
Procuradores de Tóquio indiciam oficialmente Ghosn por subdeclarar sua renda e prorrogaram sua detenção. Nissan também é indiciada por apresentar declarações financeiras falsas

11.dez
Tribunal de Tóquio rejeita recurso apresentado pelos advogados de Ghosn para ele ser libertado

12.dez.
Tribunal brasileiro decide que Ghosn deve ter acesso a apartamento no Rio de Janeiro para recuperar pertences

13.dez.
Nissan afirma que Ghosn e seus representantes não têm direito a acessar o apartamento do Rio e que o conteúdo de três cofres existentes no imóvel pode conter evidência contra o executivo. Na mesma data, o conselho administrativo da Renault ratifica Ghosn como presidente da multinacional

14.dez.
Nissan informa que representantes de Ghosn recuperaram documentos do apartamento corporativo no Rio

20.dez.
Tribunal de Tóquio decide não prorrogar a prisão de Carlos Ghosn

21.dez.
Promotoria de Tóquio faz nova acusação econsegueimpedirasoltura do empresário. Kelly, porém, deve deixar a cadeia

23.dez.
Justiça japonesa decide prolongar a detenção de Ghosn por mais dez dias

25.dez.
Tribunal autoriza liberdade de Greg Kelly, sob fiança de R$ 2,4 milhões

31.dez.
Prisão de Ghosn é prorrogada por mais 10 dias

2019​

8.jan.
Ghosn faz primeira declaração pública desde prisão e diz que foi detido injustamente

11.jan.
Promotoria apresenta novas acusações contra Ghosn

17.jan.
Tribunal de Tóquio nega pedido de liberdade sob fiança, e Ghosn deve permanecer detido até março

20.jan.
Ghosn aluga apartamento e oferece uso de monitoramento eletrônico para deixar prisão

22.jan.
Justiça nega novo pedido de liberdade sob fiança de Ghson

24.jan.
Ghosn renuncia à presidência da Renault, e executivos da montadora francesa e da Michelin assumem seu lugar

30.jan.
Em primeira entrevista desde prisão em novembro, Ghson diz que executivos da Nissan usaram conspiração e traição para barrar integração com Renault

7.fev.
Renault apura se Ghosn usou contrato com Versalhes para pagar casamento

12.fev.
Ghosn renuncia aos postos de presidente do conselho e de presidente-executivo da Renault, mas se mantém como diretor

13.fev
Principal advogado de Carlos Ghosn, o ex-promotor Motonari Otsuru, pede demissão. Ele é substituído por Junichiro Hironaka

15.fev
A Ordem dos Advogados do Brasil envia documento à federação japonesa de advogados pedindo intervenção no caso do executivo, afirmando que ele seria vítima de tortura

4.mar
Família e advogados de  Ghosn enviam documento para grupo da ONU apontando violações na prisão do executivo

5.mar
Carlos Ghosn tem pedido de fiança aceito pela Justiça japonesa, que fixa pagamento no valor de cerca de R$ 34 milhões e exige monitoramento do executivo por câmeras

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