A difícil relação da direita com o Carnaval

Há espaço para a direita no Carnaval? Pelo que se viu na festa recém-encerrada, parece que não muito.

Como em anos passados, predominaram enredos e gritos de guerra associados à esquerda, dos xingamentos ao presidente Jair Bolsonaro em blocos, até o desfile da Mangueira exaltando a vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada há um ano, no Rio.

A ministra Damares Alves (Direitos Humanos), os filhos do presidente, o ex-assessor Fabricio Queiroz e o laranjal do PSL foram alvos constantes. Em certa medida, é algo normal: quem está no poder apanha mais mesmo.

Mas a timidez da direita na festa foi evidente, especialmente porque, em anos passados, conservadores tentaram se posicionar no maior evento popular do Brasil. Sem muito sucesso, é verdade, mas pelo menos tentaram.

Em 2019, a direita se manifestou de maneira pontual e errática no Carnaval. Bonecos do presidente e da primeira-dama, Michelle, desfilaram por Olinda (sob escolta). O próprio presidente agradeceu à menção pelo Twitter.

Conservadores também se fizeram notar na crítica ao desfile da escola de samba Gaviões da Fiel em São Paulo, em razão de uma alegoria sobre a luta de Satanás contra Jesus, em que o demo parece sair vitorioso. A Frente Parlamentar Evangélica no Congresso divulgou nota expressando “profunda indignação” com o desfile e dizendo que a apresentação “não é arte, é crime”.

gavio%CC%83es.pngAlegoria da Gaviões da Fiel representa Satanás (Miguel Schincariol/AFP)

No ano passado, houve algumas tentativas de a direita tirar sua casquinha do Carnaval –por vezes, de maneira claramente equivocada. Atuante na periferia paulista, a o grupo conservador Direita SP criou o bloco Porão do Dops, mas que não chegou a ver a luz do dia. Foi barrado por uma ação civil pública do Ministério Público, em razão da óbvia associação do nome com a tortura praticada no regime militar. Neste ano, nem tentaram novamente.

Em 2017, um certo Movimento Reaça, do Rio de Janeiro, promoveu o bloco “Libera que eu Conservo”, dedicado a foliões liberais e conservadores. Mas a iniciativa teve vida curta.

Neste ano, jovens liberais de Caruaru (PE) promoveram o bloco pré-carnavalesco “O Lula tá preso, babaca”, referência à já famosa frase do senador Cid Gomes (PDT-CE) proferida durante a campanha presidencial ao bater boca com um petista.

blocolula-300x300.jpgConvite virtual para bloco de direitistas em Caruaru (PE) – Reprodução/Facebook

O bloco foi pequeno. Atraiu algumas centenas de pessoas e vendeu 75 camisetas temáticas, segundo um de seus organizadores, o economista Pedro Neves, 27, fundador do movimento liberal Caruaru Livre.

“Começou como uma brincadeira, uma resposta a blocos que defendiam ‘Lula livre”, diz ele. “Para um bloco estreante e organizado às pressas, foi bom”.

Entre seu anúncio e realização, afirma Neves, houve muita ameaça de agressão em redes sociais. “Ano que vem queremos repetir e manter o nome do bloco, eternizar essa frase tão emblemática”.

O repertório do bloco foi o mesmo de outros eventos do gênero no estado, com marchinhas e ritmos locais. O diferencial foi o “chopp sem imposto”, vendido pela metade do preço.

Para Neves, a direita ainda tem presença incipiente no Carnaval muito porque grupos conservadores, sobretudo evangélicos, não aceitam a festa. O próprio Bolsonaro não o vê com bons olhos, como prova o já famoso vídeo que ele compartilhou de um homem urinando em outro.

“A direita liberal tem hoje uma presença muito forte e crescente entre jovens descolados, que gostam de Carnaval. A tendência é de que seja visto cada vez menos como uma festa da esquerda”, aposta ele.

 

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