É hora de abrir as portas para os downs

Nos últimos anos, um esforço gigantesco de organizações, grupos sociais e famílias deu visibilidade para os potenciais criativos, profissionais e de vida comum para pessoas com síndrome de Down. Isso só foi possível depois de muito treinamento técnico e insistência para que o acesso à educação fosse amplo para o povo do cromossomo 21 enfeitado.

Pela mídia e pelas redes, viu-se uma enxurrada de “primeiros casos”: a primeira professora down, o primeiro ator down, o único down que conseguiu “pisar na Lua” e assim por diante. Emotivo, impactante, alentador.

A cada novo “herói” ligado à condição down, outras pessoas se motivavam a encarar os árduos desafios de se tornar cidadão num país tão inóspito com as diversidades, principalmente com aquelas mais marcantes em aspectos físicos e intelectuais.

Mostrar os exemplos, possíveis caminhos a serem trilhados por pessoas com síndrome de Down, foi e ainda é importante porque chama a atenção para o combate à mentalidade reinante de que esse grupo é formado apenas por gente café com leite, que brinca de ocupar espaços da coletividade, mas que, no fundo, não tem condições de assumir tarefas práticas e responsabilidades.

Dito isso, atualmente no Brasil, sobretudo nas grandes capitais, um número importante de trabalhadores com síndrome de Down está a postos para ampliar sua autonomia, suas conquistas de vida digna entrando no mercado. Embora haja comemoração pelos que conquistam espaços, a realidade tem revelado uma exclusão maciça por falta de informação e preconceito.

Segundo a Apae de São Paulo, de centenas de pessoas down capacitadas pela instituição para o trabalho, em 2018, apenas nove conseguiram uma vaga. A negativa das empresas é justificada por insegurança, desconhecimento e até por questões de aparência.

Particularmente, vejo com frequência fofice, empatia e um sorriso de bem-vindo nos rostos de 99% dos downs que conheço. A simpatia inerente, inclusive, é uma característica bastante presente relatada por amigos e familiares desses indivíduos.

Não à toa, empresas de várias partes do mundo recrutam downs para ser o “abre-alas” de suas sedes, como recepcionistas do público, como influenciadores digitais e até como uma espécie de relações-públicas de parte de suas imagens institucionais. Muitas instituições têm fornecido qualificação ao público down exatamente para atuar nessa seara, que é gigantesca.

Mas, evidentemente, ninguém quer guetos de trabalho. As pessoas precisam ser alocadas em setores nos quais tiverem competência, habilidades e derem resultados, guardando nisso a equiparação necessária entre os viventes com e sem deficiência.

O emprego apoiado, em que uma pessoa se encarrega de dar suporte básico ao profissional down que trabalhará com carga horária reduzida, tem amplo terreno para ser explorado, com um impacto social sem precedentes. Nesse aspecto, é fundamental que as famílias também estejam envolvidas como incentivadoras e como retaguarda.

Nesta quinta-feira (21), o mundo celebra o Dia Internacional da Síndrome de Down na expectativa não mais de aceitação desses cidadãos, mas com esperança de entendimento de suas capacidades para serem produtivos, independentes e ativos socialmente.

Que as portas das oportunidades se escancarem para eles. Pluralidade de gente, vale sempre bater na teclar, é sinônimo de terreno fértil para criatividade e novos horizontes.

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