Vélez retoma presença olavista no MEC, e ala militar busca reconquistar espaço

​Em busca de se manter no cargo, o ministro Ricardo Vélez Rodriguez reforçou a presença do grupo mais ideológico em seu gabinete. Nomeou nesta quinta-feira (28) como assessores o economista Murilo Resende, aluno do escritor Olavo de Carvalho, e o professor Ricardo Costa, que mantém trânsito com olavistas.

Nesta quinta-feira (28), o presidente Jair Bolsonaro (PSL) admitiu que Vélez "tem problemas" por ser "novo no assunto" e que não teria "o tato político" necessário para o posto. A saída do ministro seria uma questão de tempo. O nome mais forte até agora é do senador ​Izalci Lucas (PSDB-DF), que tem apoio do bloco cristão desde o ano passado. O senador esteve nesta tarde no Palácio do Planalto.

Resende assume posto similar ao desocupado por alunos de Olavo no início de março, fato que desencadeou a crise atual de disputas no MEC. Ao atingir olavistas dentro do MEC, o ministro passou a ser atacado e teve de demitir auxiliares próximos para atender a pressão que chegou até Bolsonaro.

Nomeado em janeiro para uma diretoria do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) responsável pelo Enem, Resende não chegou a ficar no cargo após má repercussão. No entanto, ele não saiu do MEC: desde então era assessor da Secretaria de Educação Superior e despachava em sala dentro do Inep.

Defensor das ideias do movimento Escola Sem Partido e crítico da "ideologia de gênero", termo nunca usado por educadores, Resende chegou a chamar os professores brasileiros de "manipuladores" que não querem "estudar de verdade" ao participar de uma audiência pública do Ministério Público Federal de Goiás em 2016.

Ricardo Costa foi nomeado como assessor especial do ministro. Professor da Universidade Federal do Espírito Santo e estudioso da idade média, Costa é admirador de Olavo.

A crise atual expôs as disputas entre os grupos de militares, de técnicos e ideológicos, como seguidores de Olavo, considerado o guru da nova direita no país. Nos ataques, olavistas como Silvio Grimaldo (que era assessor do MEC e saiu no início do mês ao não aceitar mudar de cargo), atacaram diretamente os militares por uma suposta perseguição a eles.

Por outro lado, a ala militar em torno da cúpula do governo busca retomar espaços no MEC. Além de tentar emplacar o ministro, o grupo quer levar adiante os planos traçados antes da chegada de Vélez. 

Ao assumir, Vélez preteriu as pessoas que estavam nas discussões sobre educação havia meses. Primeiro ele descartou o cientista político Antonio Testa, indicado até então para secretaria-executiva, cargo número 2 da pasta. 

O coordenador da transição, tenente-coronel Paulo Roberto, também não foi aproveitado no MEC —está atualmente na Casa Civil. A saída de ambos desarticulou a transição e é o embrião da paralisia que acomete o MEC desde janeiro. Testa, por exemplo, participou de todas as reuniões com a gestão anterior do ministério.

O time que tocava as discussões de educação antes da posse era coordenado por militares. Três integrantes desse grupo ficaram em órgãos ligados à pasta: o professor Carlos Alberto Decotelli, como presidente do FNDE (Fundo de Desenvolvimento da Educação), o general Oswaldo Ferreira, na Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), e Marcus Vinicius Rodrigues, no Inep.

Marcus Vinicius Rodrigues acabou demitido nesta semana após a suspensão, depois revogada, da avaliação de alfabetização. Em entrevista à Folha, ele criticou o ministro e ressaltou que a definição do cancelamento da prova veio do secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim, outro aluno de Olavo e poupado pelo ministro no episódio.

A articulação desse grupo ligado aos militares teve início na primeira quinzena de março, antes da viagem de Bolsonaro aos Estados Unidos, segundo relatos reservados. Não há consenso para um nome, mas o de Decotelli desponta como opção para assumir o MEC.

Também emergiram os nomes do próprio Marcus Vinicius, mesmo demitido do Inep, e o do general Ribeiro Souto. Correm por fora o professor Stavros Xanthopoylos, o primeiro nome ventilado para o cargo após a eleição. 

Um dos caminhos pensados pelos militares seria apaziguar o clima ao emplacar o secretário executivo. Ivan Camargo, ex-reitor da UnB, é um dos cotados.

Os militares já teriam, segundo interlocutores, compromisso de um apoio tácito com parte da bancada evangélica, que tem interesse em pautas comportamentais da educação. A indicação de Izalci também não desagradaria os militares.

Apesar da movimentação, há certa cautela nas apostas dada a imprevisibilidade do presidente Bolsonaro e a influência sobre ele de Olavo e seus discípulos. 

Vélez foi indicado ao cargo por Olavo com apoio dos filhos presidente. O deputado federal Eduardo e o vereador do Rio Carlos, ambos do PSL, fizeram várias visitas ao MEC. A interlocução mais comum do ministro com o Palácio do Planalto sempre foi por meio do assessor Filipe G. Martins, aluno de Olavo e assessor de Bolsonaro para assuntos internacionais.

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