Vladimir Herzog e um destemido juiz

A decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos de determinar que o Estado brasileiro reabra a investigação sobre o assassinato de Vladimir Herzog, em outubro de 1975, confirma a importância da sentença do juiz federal Márcio José de Moraes, de São Paulo, que desafiou a ditadura em 1978 ao condenar a União pela morte do jornalista.

Nesta entrevista, concedida à Folha às vésperas dos 30 anos da morte de Herzog, o juiz revela que temeu ser seqüestrado e torturado pelo mesmo esquema paramilitar.

“Dei a sentença com o AI-5 em vigor. Essa visão eu me orgulho de ter tido. Seria uma reação, um grito de independência do Poder Judiciário. Já tinha formado a minha convicção, iria condenar a União. O gesto só teria valor, como uma espécie de grito político, de revolta contra a ditadura, se fosse dado sob o clima da ditadura, sob o AI-5”, disse Moraes.

O magistrado admitiu ao editor deste Blog que a sentença o redimiu da alienação da juventude. “Antes da morte de Herzog, relutava em crer que havia tortura no Brasil.”

Moraes revelou que, no dia do ato ecumênico na Catedral da Sé, era um jovem advogado assustado.

“Eu não fiquei dentro da igreja. Fiquei no lado, perto de uma pastelaria… Até mesmo, pensando comigo, veja só até onde ia a minha covardia política naquele momento: ‘Se a cavalaria da Polícia Militar invadir a praça da Sé, como se noticiava, eu me ponho aqui dentro da pastelaria e como um pastel’. Alegaria que estava comendo um pastel.”

“Ficou muito claro para todo o mundo na Justiça Federal que a aposta do governo militar foi exatamente entregar o caso a um juiz mais novo, que, em função de carreira, e do clima, tinha muito mais a perder”, Moraes relembrou.

Com a sentença do destemido juiz, a ditadura perdeu aquela aposta.

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