Um pequeno passo para... a mulher

No feriado do dia 15 de novembro, minha filha deu seus primeiros passinhos. Nesse mesmo dia, fui ao 
cinema depois de muitos meses sem conseguir tempo ou fôlego para tal e assisti ao filme “O Primeiro Homem”, sobre a chegada de Neil Armstrong à Lua.

Também nessa última quinta, minha mãe tinha me ligado dizendo que sua artrite reumatoide estava piorando e ela enfrentava dificuldades para andar.

Foi nessa noite, ainda, que tive uma das minhas mais extremas e já esquecidas crises de ansiedade. Passei a gravidez inteira e os primeiros dez meses da minha filha sem pânico (doença que eu travava antes de engravidar). Eu estava no meio do filme quando senti o corpo inteiro tremer, o peito arder, a onda gélida me percorrer. Neil Armstrong chegava triste e corajoso à Lua e eu, justamente por saber ser tão feliz, sentia um medo inenarrável.

Até então, as quinas dos móveis, as sujeiras do chão, o tampo das mesas, nada disso me fazia perder o sono. Até então, as esquinas das ruas, as calçadas imundas, as janelas sem rede protetora, nada disso me disparava o coração. A vida seguia tranquila com minha filha protegida pelos meus braços e eu protegida pelos braços da minha mãe. 

Eu era uma mulher entre duas mulheres, e talvez essa seja uma das sensações mais prazerosas e poderosas que se possa experimentar. O x-tudo do amor.

Acontece que, naquela quinta, uma delas começou a dar sinais de que um dia se afastaria de mim para ganhar o mundo. E a outra, sinais de que um dia se afastaria de mim para se despedir do mundo.

No banheiro molhei a nuca, dei alguns murros no peito, lembrei que não posso tomar Rivotril porque ainda amamento. Chorei um pouco e depois muito. No espelho me achei muito velha e muito jovem. Com vontade de fazer tudo pela minha filha e de não fazer nada por alguns segundos e apenas deitar no colo da minha mãe. 

Aos poucos fui entendendo que meu velho conhecido mal-estar, que a vida toda chamei de pânico e infantilidade, era também uma tentativa de aplacar, no corpo, emoções tão intensas e ainda parcamente nomeadas. Eu era forte, madura, filha e mãe.

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