Tudo ou nada marca fase agônica da campanha de Geraldo Alckmin
O candidato a presidente pelo PSDB, Geraldo Alckmin, fez um esforço concentrado nesta terça (18) para mostrar ao mundo do poder que ainda não é hora de jogar a toalha. Conversou com empresários pela manhã e recebeu líderes do centrão e outros aliados à tarde para vender otimismo.
Vai precisar transformar as palavras em pontos em pesquisas, uns míseros que sejam, sob risco de tornar-se apenas a expressão de um pensamento mágico. Sua campanha chegou a um ponto agônico. Com novos resultados como a desastrosa pesquisa do Ibope nesta terça (18), o esfarelamento de apoios é questão de muito pouco tempo.
O PIB e a elite política fitam um abismo há muito tempo, e nele um pesadelo impensável há alguns meses tomou corpo: o segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), o embate entre o Einstein e a PF de Curitiba.
Como no clichê nietzschiano, o fosso olha de volta para os mesmerizados espectadores. Ocorre que essa turma não rasga dinheiro. Então, além de cobrar um vatapá de chuchu, começou a fazer contas sobre quem deveria apoiar no caso de Alckmin ser cristianizado na corrida.
Hoje, Bolsonaro vai com alguma folga entre empresários nesse cenário, pelo que foi relatado ao tucano. Presenciei na segunda (17) uma conversa de corredor de gente do mercado imobiliário que havia presenciado palestra com o general Hamilton Mourão (PRTB), o incendiário vice do deputado. O resumo do papo poderia ser: “Ele é meio tosco, tem essa coisa meio antidemocrática, mas como é articulado. Será ótimo para os negócios”.
Já entre os mandarins da política, há divisão. O antipetismo ainda grassa, por certo. Mas o PT, como corretamente avaliou Alckmin ao falar com os endinheirados, tem um longo histórico de composição com o MDB e partidos ora próximos do tucano. Não seria diferente se ganhasse, noves fora o desastre econômico que Haddad contrata se levar a sério o receituário lulista.
Nos dois encontros, todos saíram se dizendo satisfeitos, mas a desconfiança segue no ar, assim como os relatos de erosão de apoios na ponta da tão propalada capilaridade da campanha tucana.
Para alguém que mal engolia Aécio Neves, chega a ser irônico que o presidenciável tucano de 2014 seja um modelo de esperança para Alckmin por encarnar uma arrancada após ser dado como um cadáver político. É o surrealismo de 2018 em plena ação.
Apesar da semelhança na presença de um bólido exógeno a desarranjar a campanha tucana (morte de Eduardo Campos em 2014, atentado contra Bolsonaro agora), as condições objetivas são muito diferentes. E o tempo é mais escasso.
Olhando para seu próprio abismo, Alckmin topou o tudo ou nada contra Haddad e Bolsonaro. Isso foi decidido na sexta-feira passada, mas só na terça, após inócuas negativas públicas do candidato, foi comunicado aos apoiadores.
Esses tropeços e protelações exasperam mesmo os mais fiéis alckmistas, que se perguntam o quanto de sangue de barata é necessário para acreditar que ao final tudo dará certo para eles. Em breve saberemos.