Trump corta verba de programa da ONU de que dependem palestinos

Os Estados Unidos anunciaram nesta sexta-feira (31) o corte de praticamente todos os recursos destinados à UNRWA, a agência da ONU que ajuda os refugiados palestinos. O corte será de aproximadamente US$ 300 milhões (R$ 1,2 bilhão).

Nota oficial do Departamento de Estado diz que os Estados Unidos “não mais destinarão fundos para uma operação irremediavelmente fracassada".

 

O que os EUA de Trump consideram uma “operação fracassada” é, para os palestinos, exatamente o inverso: uma espécie de transfusão permanente de sangue que mantém um mínimo de condições de vida para os refugiados.

Os Estados Unidos financiam quase 30% dos projetos tocados pela UNRWA, que fornece educação, cuidados com a saúde e serviços sociais para refugiados palestinos na Cisjordânia, Jordânia, Síria, Líbano e, principalmente, na faixa de Gaza.

É justamente nesta última região que os fundos cortados farão mais falta porque, nela, a UNRWA é a linha da vida: 80% de seus habitantes dependem de ajuda humanitária, 47% vivem abaixo do nível de pobreza e 41% estão desempregados.

Falta água (95% dos aquíferos não servem para o consumo) e eletricidade (a única usina elétrica em operações produz apenas um décimo das necessidades de Gaza).

A importância da agência da ONU para os habitantes de Gaza fica clara quando se sabe que 70% dos seus mais de 2 milhões de habitantes são refugiados, ou seja, a clientela da UNRWA.

A gravidade para a UNRWA do corte da verba americana mede-se pelo fato de que seu comissário-geral, Pierre Krähenbühl, disse que uma redução anterior, anunciada pelos EUA em julho, representava uma “ameaça existencial” para a agência.

Por extensão é uma “ameaça existencial” também para os refugiados palestinos que são a única razão de ser da UNRWA. Ameaça que pode ser mais bem  avaliada por um informe da ONU, emitido há cinco anos, que diz: “A faixa de Gaza será inabitável em 2020, a menos que se modifique a situação atual".

A situação de fato se modificou, mas para pior com o corte da verba americana.

O que pode, eventualmente, amenizar a crise humanitária é o aumento de doações por parte de países árabes. Arábia Saudita, Qatar e Emirados Árabes Unidos já anunciaram a intenção de destinar US$ 200 milhões (R$ 800 milhões) adicionais, o que, se de fato acontecer, cobrirá dois terços do buraco deixado pelos Estados Unidos.

A Alemanha também anuncia preparativos para prover “uma quantidade significativa de fundos adicionais", segundo o ministro do Exterior, Heiko Maas.

O jornal The Washington Post informa que o corte de fundos estaria vinculado a um movimento de forte significado político: retirar o status de refugiados da maioria dos cinco milhões que os palestinos consideram como tais. Restariam apenas alguns milhares.

Um dos pontos essenciais da agenda palestina nas negociações de paz com Israel —por ora totalmente paralisadas— é exatamente o direito de retorno dos refugiados às terras que deixaram (ou das quais foram expulsos) quando Israel derrotou os exércitos árabes na guerra da independência, em 1948.

Israel jamais aceitou a reivindicação palestina, até porque o caráter judeu do país seria sufocado por um influxo tão grande de árabes.

Segundo o Escritório Central de Estatísticas, os judeus em Israel são 6,589 milhões, enquanto os árabes somam 1,849 milhão.

A alegação técnica de Israel para recusar-se a aceitar a volta desse número de refugiados é a de que UNRWA trata como tais todas as gerações descendentes dos refugiados originais, mesmo que tenham nascido em outros lugares ou tenham cidadania de outro país.

Ao cortar o financiamento para a agência que cuida dos refugiados, depois de ter reconhecido Jerusalém como capital de Israel, Trump adota dois dos pontos caros a Israel e deixa a Autoridade Palestina e o Hamas, o grupo radical que governa Gaza, ainda mais desnorteados e sem capacidade de iniciativa.

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