Tradicional jornal argentino publica notícia falsa por engano

Suposta imagem do homem que teria nascido com duas caras, no século 19 (Foto Arquivo)

O tradicional jornal argentino “La Nación” publicou e deixou no ar uma notícia falsa por mais de doze horas. Seu apelo era, de fato, irresistível: “A terrorífica história de Edward Mordrake, o homem de duas caras”, dizia o título, acompanhado de uma fotomontagem que mostra um homem de olhos fechados e que, na parte de trás da cabeça, tinha uma outra face, menor e desfigurada.

A matéria original, que ficou como a segunda mais lida do site do jornal durante toda a noite, dizia que Mordrake havia vivido no século 19 e que tinha um transtorno congênito que o havia feito nascer com duas caras.

O texto dizia que Mordrake vinha de uma linhagem nobre, mas, por conta de sua terrível aparência, havia decidido viver isolado. Segundo supostos relatos dele, a “segunda cara” não estava sob seu controle, mas movia os olhos e a boca e, de noite, lhe dizia “coisas satânicas” ao ouvido. Ainda segundo a matéria, Mordrake teria oferecido grandes somas de dinheiro para que fosse operado e que o livrassem da “cara satânica”, como a chamava, que o acompanhava.

Os médicos teriam alegado que a operação era muito delicada e por isso, se negaram a realiza-la. Ainda segundo a lenda, tratada pelo jornal como realidade, Mordrake teria se matado aos 23 anos.

Indagado pela Folha, o Secretário Geral de Redação do “La Nación”, José del Río, disse ter sido um “erro da equipe web, um serviço praticamente terceirizado, que não passa por uma curadoria editorial muito rigorosa, e que vamos revisar a partir de agora”. Porém, o tema apenas foi levado em consideração após alerta feito pela Folha.

A nova versão que entrou no ar já trás um outro título: “O mito de Edward Mordrake, o homem com duas caras”, coloca várias coisas na condicional, e, no pé, trás uma errata:

“Por um erro involuntário de edição, “La Nación” publicou uma primeira versão desta matéria em que se apresentava o caso de Edward Mordrake como uma historia real. Uma segunda versão inclui a aclaração de que se trata de uma lenda.”

Em tempos de “fake news”, histórias como essa podem parecer irresistíveis para editores desavisados, principalmente quando as veem entre os top five de notícias mais lidas. Mas é preciso ter muito cuidado. Na Argentina, no Brasil, nos EUA ou onde for, vale redobrar esforços, porque sua profusão parece ser uma tendência que ameaça o jornalismo.

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