Temporada da NFL começa em meio a polêmica com Nike e Trump

A sombra de Colin Kaepernick, 31, voltou a pairar sobre a NFL (National Football League, a liga de futebol americano) a dois dias do início da temporada de 2018.

Fora do esporte há 20 meses, o quarterback é o novo garoto-propaganda da Nike, empresa que fornece os uniformes das equipes. Ele é o astro de campanha publicitária revelada na terça-feira (4). ​

O torneio começa nesta quinta (6), às 21h20, com o jogo do atual campeão, Philadelphia Eagles, contra o Atlanta Falcons.

“É uma mensagem terrível que eles [da Nike] estão enviando e não há razão para fazer isso”, se queixou o presidente americano, Donald Trump, sobre a escolha de Kaepernick. 

Com o slogan “acredite em algo, mesmo que signifique sacrificar tudo”, a campanha vai render milhões ao atleta. Ele também terá linha de roupas fabricada pela Nike e receberá royalties pelas vendas. 

Kaepernick foi o pivô do início dos protestos de jogadores durante a execução do hino dos EUA antes das partidas. Em vez de se levantar, ele se ajoelhava para ressaltar a desigualdade racial no país. Logo foi seguido por dezenas de companheiros.

As cenas ganharam outra dimensão com as críticas de Trump. O presidente se queixou no Twitter que a “falta de respeito” com o hino deveria ser punida com demissão.

Para 2018, a liga determinou que a norma é “respeitar” o símbolo nacional. O time que tiver jogadores a desobedecerem a ordem será multado.

A presença de Kaepernick  como garoto-propaganda causou controvérsia. A hashtag #justburnit (apenas queime) foi lançada nas redes sociais contra a Nike, e pessoas filmaram tênis e roupas da empresa sendo queimadas.

O protesto é uma adaptação do “Just do it” (apenas faça), lema publicitário que também está na campanha estrelada pelo jogador. Mas também houve mensagens de apoio.

“Sinto-me orgulhosa”, afirmou a tenista Serena Williams, outra patrocinada pela companhia e que aparece no vídeo do comercial.

Na última terça-feira (4), após o anúncio, as ações da Nike tiveram queda de 3% na bolsa de Nova York, mas não é possível precisar se a campanha foi o único fator para isso.

Ainda assim, o risco foi bem calculado. A repercussão rendeu cerca de US$ 45 milhões (R$ 179 milhões) em exposição gratuita na mídia, a maioria neutra ou positiva, segundo o Apex Marketing Group.

Kaepernick tem processo  em andamento contra a NFL. Acusa os donos das 32 equipes de fazerem acordo para que ele não seja contratado. 

Como jogador, ele fez parte do San Francisco 49ers de 2011 a 2016. Em 2012, levou a equipe ao Super Bowl, a final do futebol americano. Perdeu para o Baltimore Ravens.

Os defensores do quarterback (que tem a função de lançar a bola) afirmam que ele teria talento para estar em vários elencos da NFL e que isso só não acontece por causa da imagem dos protestos.

Seus críticos dizem que o circo midiático que levaria para o time que o contratar não compensaria o discreto ganho técnico que ofereceria. 

Não é polêmica bem-vinda pelos dirigentes a poucos dias do início da temporada. 

A audiência da NFL caiu 10% no ano passado, e o Super Bowl, o principal evento esportivo do país, foi o menos assistido desde 2009. Trump foi rápido no gatilho. Culpou os jogadores e os protestos pela queda na popularidade do esporte. Atletas que ajoelharam foram vaiados em alguns estádios em 2017.

Em comparação com 2016, os times venderam 535 mil ingressos a menos.

Apesar dos números negativos, a liga é a joia da coroa para as emissoras de TV e o assunto mais discutido em programas esportivos, mesmo durante a “offseason”, meses em que não acontecem jogos. A temporada deste ano termina em 3 de fevereiro, quando acontece o Super Bowl em Atlanta.

A queda na audiência pode ter relação com outros fatores. Times de grandes mercados, como Nova York, San Francisco e Chicago fizeram campanhas ruins.

Além disso, mudanças de regras irritaram torcedores, como definições de quando um jogador recebeu efetivamente a bola (catch) ou as proibições de certos tipos de trombadas (tackles), por exemplo.

As alterações foram feitas para preservar a saúde dos atletas, após casos de lesões cerebrais detectadas em ex-jogadores por causa de repetidas concussões.

A NFL nunca deixou de ser uma máquina de fazer dinheiro. Segundo a revista Forbes, 29 dos 32 times da liga estão na lista das 50 marcas esportivas mais valiosas do mundo. A mais cara de todas é o Dallas Cowboys, estimado em US$ 4,8 bilhões (R$ 19,8 bi). O clube de futebol que mais se aproxima é o Real Madrid (ESP): US$ 3,65 bi (R$ 15 bi).

O Carolina Panthers, franquia sem títulos e localizada em região de mercado irrelevante, foi vendido em maio para um fundo hedge por US$ 2,3 bilhões (R$ 9,5 bilhões).

Apenas em 2017, a direção da NFL dividiu entre as 32 equipes US$ 8,1 bi (R$ 33,5 bi), crescimento de US$ 300 milhões (R$ 1,24 bi) em relação a 2016. 

Os jogadores são recompensados por isso, especialmente os quarterbacks, peça mais importante do elenco. Os cinco maiores salários da NFL estão nesta posição. Juntos, vão receber neste ano US$ 145,8 milhões (R$ 609 mi). 

Os jogos da liga, que duram entre três e quatro horas (às vezes mais), são paraísos para os anunciantes, cientes de que a audiência fica o domingo inteiro em frente à TV assistindo à rodada. A estimativa é que quase a metade dela é composta por mulheres. 

Isso faz com que as emissoras briguem pelos direitos de transmissão. CBS, Fox e Comcast pagam US$ 3,2 bilhões por ano (R$ 13,2 bi) pela divisão dos jogos do domingo. A partida considerada de menor mercado e audiência é a de quinta-feira à noite. Isso não impediu a Fox de desembolsar US$ 3,3 bi (R$ 13,6 bi) por um contrato de cinco anos para transmiti-la.

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