Talentos do Brasil no videogame também vão para a Europa

Ter a maioria dos atletas atuando fora do país é uma realidade antiga na seleção brasileira. Desde a década de 1990, pelo menos, é assim. Na última Copa do Mundo, por exemplo, apenas 3 dos 23 convocados estavam em clubes do Brasil.

Agora, o êxodo dos principais talentos é replicado também no mundo das competições virtuais de futebol. Cinco dos oito jogadores convocados pela CBF para definir a dupla que representará o Brasil na Copa eNations da Fifa, dias 13 e 14 de maio, em Londres, defendem equipes da Europa, inclusive os dois selecionados.

O eNations é a primeira edição de um torneio de videogame mundial por países organizado pela Fifa. A premiação para os campeões será de 40 mil dólares (R$ 154 mil).
 
O paulista Ébio Bernardes, 21, será um dos representantes brasileiros. Terceiro colocado no ranking internacional na plataforma Xbox, ele assinou em janeiro contrato de um ano com o Wolverhampton (ING), que nos gramados disputa a Premier League. O brasileiro despertou o interesse dos ingleses após atuar no eClub Word Cup.

"Em 2018, quando acabou o contrato com a minha ex-equipe, continuei jogando por conta própria e me classifiquei para o Mundial, em dezembro. Eu fiquei entre os oito melhores do mundo. Consegui ganhar de grandes jogadores, campeões mundiais, e isso despertou o interesse do Wolves [apelido do  Wolverhampton]", diz Ébio à Folha.

Foram chamados para a seletiva os quatro brasileiros mais bem ranqueados em cada console (Xbox e Playstation) no Global Series, o ranking mundial do Fifa.

Cinco deles têm contrato com times europeus: Victor Tores (Ajax Esports), Henrique Lempke (Team Gullit), Flavio Brito e Élbio Bernardes (Wolverhampton) e Pedro Resende (M10 Esports).

Mesmo vinculados a times do exterior, eles residem no Brasil. Dois jogam por equipes brasileiras, Paulo Neto e Josaci Sena (SPQR Brasil), e Brenner Silva está sem clube.

Somente o campeão de cada plataforma foi premiado com a vaga para defender o país em Londres. Além de Ébio, Victor Tores, 18, também representará o Brasil.

Ele ficou em terceiro na seletiva da CBF, mas herdou a vaga de Paulo Neto, 16, que acabou desclassificado pela Fifa porque não tinha completado 16 anos até 31 de outubro de 2018, conforme exigência do regulamento.

Os dois terão todos custos da viagem bancados pela CBF. Eles vão permanecer uma semana na Inglaterra, pois também participarão de eventos realizados pela EA Sports, a produtora do game.

Ébio está acostumado com a rotina de atuar fora do país. Tanto que teve de trancar a faculdade por não conseguir conciliar o curso com as competições.

"Eu estava estudando jornalismo na PUC Campinas, mas tive que dar uma pausa. Quando você viaja, acaba perdendo uma ou duas semanas de aula. As viagens são próximas, uma cada dois, três meses, acaba pesando no semestre", conta. “Optei por trancar, mas pretendo voltar para finalizar o curso."

Além das viagens para competir, Ébio mantém relação diária com os ingleses por chamadas de vídeo e mensagens, e principalmente com seu técnico, Ary Paiva, brasileiro que mora na Irlanda. Ele também recebeu uniforme completo, camisas de passeio, agasalhos, bonés e tênis. “Como um jogador de futebol”, explica.

Sob a orientação de Ary, Ébio treina de 3 a 4 horas por dia em períodos sem competições. Quando os torneios se aproximam, aumenta a carga para de 5 a 8 horas diárias.

Na última vez em que esteve na Europa para disputar o Mundial de Clubes, no ano passado, Ébio conheceu as instalações do Wolverhampton. Outro brasileiro contratado pelo clube, Flávio "Fifilza", de 18, também foi na visita.

"Levaram a gente para conhecer o estádio, ver um jogo da Premier League, depois entramos no vestiário. Quando vamos para lá, temos uma relação muito próxima com eles", conta o jogador.

Por questões contratuais, ele não pode revelar quanto recebe mensalmente como atleta do Wolves, mas o valor está próximo de um salário mínimo brasileiro (R$ 998).

Segundo Ébio, é cada vez maior o interesse dos clubes europeus por jogadores brasileiros de Fifa.

"Os principais nomes do Fifa hoje estão nos clubes de fora. A gente tem o Resende, atleta do M10, que é o time do Özil, jogador do Arsenal. Tem o "Rafifa" no PSG, o "Fifilza", que é meu parceiro de equipe no Wolves. Tem o "Tore" no Ajax. Os times de fora sempre buscam atletas na América do Sul", afirma.

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