Sertão é cenário do game brasileiro 'Árida', que narra a jornada de Cícera durante uma grave seca
São Paulo
Uma empresa de games baiana está apostando em um jogo legitimamente brasileiro. Com título de "Árida", ele é ambientado no sertão nordestino e tem como protagonista a jovem sertaneja Cícera.
Com lançamento programado para este mês, o projeto já tem investimento garantido para a segunda parte.
"A finalidade do jogo é o entretenimento, mas como fazemos parte de um grupo que abraça causas políticas por nosso interesse, ele também tem a finalidade de nos ver representados nele", afirma Filipe Pereira, diretor geral da Aoca Game Lab.
O grupo é formado apenas por sete desenvolvedores –considerado baixo para este tipo de projeto– que já trabalhavam com jogos educacionais no centro de pesquisa da Universidade do Estado da Bahia. "Tanto que estamos encubados aqui dentro da universidade. É um jogo feito por desenvolvedores negros que tem o sertão como cenário", reforça Pereira.
O projeto começou há anos. "É um jogo em 3D, de alta complexidade e a área de games é ainda nova no Brasil, são poucos os profissionais capacitados, principalmente aqui no Nordeste", lembra Pereira.
Além da história de Cícera, o jogo retrata a Guerra de Canudos, que aconteceu no século 19, no interior do estado da Bahia. "Há quatro anos, comecei a recrutar profissionais e especialistas e percebemos que seria muito mais interessante ampliar a questão do sertão no jogo, e deixar Canudos [que era a ideia central] apenas como um dos elementos", explica o fundador da empresa de games.
A pesquisa é profunda para garantir que eles não falhem ao retratar nenhum estereótipo da região. "Somos todos do estado da Bahia, mas não somos sertanejos, então é preciso tomar cuidado com cada decisão", afirma Pereira.
Para a Aoca Games o jogo não deve despertar interesse só a nordestinos ou brasileiros. A intenção da empresa é comercializá-lo internacionalmente. "Queremos um projeto sólido que tenha espaço, mais tarde, para ser transformado em uma HQ ou animação", prevê o criador.
COMO ENTRAR NA JORNADA DE CÍCERA
O jogo "Árida" narra a jornada de Cícera, uma menina sertaneja de 13 anos que vive com o avô em um período de grande seca, no século 19. "Nessa primeira parte, o jogador vai conhecer a personagem e se ambientar com o todo o universo que a cerca. Verá o lado bom e as dificuldades de se viver no sertão", explica Pereira.
A Aoca Games ainda não tem perspectiva de trabalhar com consoles mais conhecidos, como Xbox, por exemplo. O jogo será lançado na plataforma Steam, uma loja online. Para ser avisado do lançamento, é possível se cadastrar no site da loja e colocar o jogo na lista de desejos.
GAMES NO BRASIL
Para a primeira parte do jogo, a empresa conseguiu baiana Aoca Games conseguiu captar investimentos por meio de um edital de jogos lançado pela secretaria de cultura do estado da Bahia. "Já estamos projetando a segunda parte do game, que agora terá o financiamento da Ancine [Agência Nacional de Cinema], que começou a contemplar jogos como um trabalho audiovisual", esclarece o empresário.
Para a empresa, além de ter o Nordeste representado no jogo, é importante que uma empresa fora do eixo Rio-São Paulo ganhe destaque no mercado.
Em dezembro, o ministro da cultura, Sérgio Sá Leitão, anunciou o investimento de R$ 45 milhões no setor de games do país. O valor corresponde a mais que o dobro dos recursos investidos até hoje pelo FSA (Fundo Setorial do Audiovisual) na produção de jogos.
Os recursos anunciados serão divididos em três editais: produção de jogos (R$ 16,75 mi), complementação de investimentos privados (R$ 10,5 mi) e comercialização (R$ 8 mi). Haverá também investimentos de R$ 10 mi em aceleradoras de empresas de games, realidade virtual e realidade aumentada.