Senhor presidente, e a Venezuela?

Ninguém tem a menor ideia sobre o que vai acontecer na eleição deste domingo (7). Mas uma coisa é certa: seja qual for o novo presidente do Brasil, ele terá de lidar com a crise na Venezuela, que só vai piorar.

Ainda assim, nenhum candidato fez propostas concretas de como lidar com isso.

A Venezuela é tema recorrente para todos os presidenciáveis. Mas só para dizer —se você não votar em mim, o Brasil vai virar a Venezuela!

Estima-se que cerca de 55 mil refugiados venezuelanos estejam vivendo no Brasil atualmente. O fluxo não deve desacelerar, e alguns analistas trabalham com cenários de 80 mil venezuelanos vivendo em solo brasileiro no fim do ano (o número de venezuelanos que entram no país é bem superior, mas muitos apenas passam pelo Brasil a caminho de outras nações ou vêm apenas para tratamento médico ou comprar itens em falta).

Para os candidatos, há dois tipos de “solução” para a Venezuela —intervenção ou mediação.  

O presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) insinuou que apoiaria algum tipo de intervenção no país, emulando seu ídolo, o presidente americano Donald Trump.

“Vocês podem contar comigo, eu farei o que for possível para aquele governo lá ser destituído”, disse Bolsonaro a refugiados venezuelanos em Roraima, em abril deste ano.

Trump não é o único fã de troca de regime: o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, disse a mesma coisa.

Como todo o resto da política externa de Bolsonaro, não se sabe se é política externa ou frase de efeito.

“A política externa em um governo Bolsonaro seria uma incógnita. Ele tem dado declarações muito preocupantes, a visita a Taiwan, por exemplo, foi uma gafe monumental. Mas é possível que, caso eleito, tenha um ministro que dê continuidade às políticas atuais”, diz o embaixador Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda que escreveu um livro sobre a história da política externa no Brasil. 

Segundo Ricupero, isso aconteceu na eleição de Fernando Collor, que prometia fazer um governo de relações carnais com os EUA, como a Argentina de Menem, mas, com os chanceleres Celso Lafer e Francisco Rezek, teve posições bastante razoáveis e não participou da Guerra do Golfo, com a desculpa de proteger operários brasileiros no Iraque.

A outra “solução” é a mediação. O candidato Fernando Haddad (PT) faz contorcionismos verbais para dizer que a Venezuela não é uma democracia, mas não porque tenha um ditador, Nicolás Maduro, e sim pelo ambiente de tensão no país.

Ele diz que o Brasil não pode tomar partido de nenhum lado, precisa atuar para mediar o conflito. De fato, diplomacia sempre é melhor do que “boots on the ground”.

Mas, concretamente, como seria essa mediação? Os governos do PT, apesar de terem mantido abertos os canais de comunicação com os regimes de Chávez e Maduro, não resolveram nem impediram essa crise que se formou. O que fariam agora? 

“Em um governo do PT, poderíamos esperar uma volta às políticas de Celso Amorim, mas também alguma evolução, por exemplo, diante da situação na Venezuela”, diz Ricupero, que chegou a assessorar a campanha de Marina Silva em 2014.

Não se sabe qual seria a evolução, para além de admitir, finalmente, que a Venezuela é uma ditadura de facto, com eleições manipuladas.

A propósito, eu também não sei qual seria a “solução” para a crise venezuelana. Só sei que o Brasil precisa se programar para receber mais algumas dezenas de milhares de refugiados, ajudar Roraima financeiramente, e lidar com o sentimento de xenofobia que só vai aumentar.

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