Sem alarde, boxeador brasileiro da Rio-2016 abandona esporte aos 25

Joedison Teixeira, 25, passou oito meses sem ver, ouvir ou falar sobre boxe. Por decisão própria, se afastou do esporte em que era uma das esperanças brasileiras e pelo qual disputou os Jogos Olímpicos do Rio, em 2016. Hoje aceita comentar sobre o assunto porque, segundo ele mesmo, está se reencontrando na vida.

Teixeira levou mais de um ano para reconhecer que sua carreira de boxeador havia acabado.

“Foi uma sensação horrível. Não queria falar com ninguém nem ter contato com o boxe. Parecia que tinham tirado tudo de mim. Eu lutava desde os 11 anos. O boxe era a minha vida”, reconhece em entrevista à Folha.

O problema no olho direito começou antes da Olimpíada. Por causa de um golpe, sofreu início de descolamento de retina. Passou por cirurgia e saiu do hospital a 45 dias do início dos Jogos do Rio. A preparação para o torneio começou em cima da hora e foi longe da ideal. Ele derrotou o argelino Abdelkader Chadi, segundo melhor do mundo na categoria meio-médio ligeiro (até 64 quilos), na estreia, mas perdeu por um ponto para o turco Batuhan Gozfec nas oitavas de final.

Após a competição voltou ao hospital para retirada do óleo de silicone que havia sido colocado para colar a retina.

“Estava tudo bem, mas fui disputar o Mundial no ano seguinte e um lutador da Alemanha me deu cabeçada no mesmo olho. Descolou de novo. Mesmo assim disputei o Campeonato Brasileiro e venci a primeira luta. Mas antes da segunda, o médico da Confederação (Brasileira de Boxe) pediu para eu fazer exames no olho. Quando  viu o resultado, não me deixou fazer o segundo combate”, explica.

O diagnóstico era que seu campo de visão estava comprometido. A recomendação (que ele resolveu acatar, embora tenha escutado pessoas dizerem que poderia continuar) foi abandonar a carreira. Outro golpe no olho direito poderia deixá-lo cego.

“Meu filho me ajudou um pouco a preencher esse vazio. Mas ao mesmo tempo, isso trazia novas responsabilidades”, explica.

A responsabilidade era ganhar dinheiro fora do esporte. Começou a dar aulas em academias. Seu nome de atleta olímpico ajudava a trazer alunos, mas a remuneração não era correspondente à fama. Ex-sargento da Marinha, tentou trabalhar como segurança. Achou decepcionante.

“Eu me acostumei a ser recompensado pelo meu esforço. Quanto mais trabalhasse e me esforçasse, mais seria recompensado. Isso não acontecia mais.”

Foi o período em que desapareceu das redes sociais e evitou as perguntas dos amigos sobre quando voltaria a lutar. Ele não queria explicar que havia parado e os motivos para aquilo ter acontecido.

Joedison passou a aceitar melhor a realidade no ano passado, assim que iniciou trabalho com marketing de rede para uma empresa de cosméticos. O modelo de negócios é que o fabricante vende de maneira direta para o distribuidor, sem passar por uma loja tradicional, e este constrói sua rede de influência. O ex-boxeador diz ter abraçado a ideia porque seus ganhos dependeriam do próprio esforço, como aprendeu no esporte.

Ao se sentir mais confortável, se reaproximou do boxe. Começou a aceitar convites para palestras e seminários sobre o esporte para praticantes de diferentes estilos de lutas. Tem tomado parte em iniciativas do projeto social Saproboxe, criado pelo também boxeador Jorge Preto, que oferece treinamento para 50 jovens carentes de Sapopemba (zona leste de São Paulo). Dois deles participaram do último torneio Forja dos Campeões, um dos mais importantes do boxe amador do país.

“O boxe é um esporte em que você pode deixar um legado, há o componente da inclusão social”, opina.
Um dos projetos é montar sua própria equipe, o “time chocolate”, usando o apelido que era chamado entre os boxeadores. Pretende achar dois atletas (no início) para patrocinar ou ir atrás de empresas que aceitem a tarefa. Não descarta se tornar empresário no meio. A busca será por candidatos, segundo ele, que tenham talento e coração, porque “no boxe, talento apenas não resolve”.

Serve para deixar de lado a decepção de não ter preenchido todos os sonhos que tinha para a própria carreira. O descolamento de retina do olho direito fez com que deixasse de lado o desejo de disputar as Olimpíadas de 2020 (em Tóquio) e 2024 (Paris).

“Aos poucos, estou voltando ao meu lugar”, conclui Joedison Teixeira, broche dos Jogos do Rio de 2016 na lapela do blazer, antes de deixar a entrevista com a Folha e iniciar seminário em academia na Vila Formosa (zona sudeste da capital).

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