Só minoria no Brasileiro feminino tem atletas com carteira assinada

Com a participação de 52 equipes, sendo 17 que também estão na elite do futebol masculino, a edição deste ano do Campeonato Brasileiro Feminino é tratada como divisor de águas da modalidade. Essa é a expectativa de atletas e dirigentes que trabalham com o esporte.

O cenário atual ainda está aquém do desejado pelas atletas. Levantamento da Folha aponta que apenas 8 dos 52 times têm 100% das jogadoras registradas com carteira profissional, cerca de 15%.

As oito equipes que possuem as atletas no regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) são Inter e Santos, que disputam a Série A do Brasileiro feminino, além de América-MG, Atlético-MG, Ceará, Chapecoense Cruzeiro e Grêmio, da 2ª divisão.

Outros clubes vivem realidade diferente. Alguns oferecem a faculdade, como o time paraense da Esmac (Escola Superior Madre Celeste), outros apenas uma ajuda de custo. 

As meninas do Santa Quitéria (MA), Cruzeiro (RN) e Porto Velho (RO), por exemplo, treinam menos de três vezes na semana porque conciliam a vida de atleta com o trabalho.

“Aqui não trabalhamos com dinheiro e, sim, com o conhecimento e a educação. Temos várias jogadoras que estão sendo assediadas, mas estamos conseguindo manter. Elas preferem jogar aqui do que se transferir para outros clubes e perder a oportunidade de uma formação profissional”, disse José Mercy Nunes, treinador do time paraense.

“Temos 24 atletas, mas a maioria trabalha fora. Eu ajudo elas dando camisas do clube para vender e disponibilizo o transporte. O dinheiro arrecadado com a participação no Brasileiro disponibilizado pela CBF será rateado entre elas para ajudar”, disse Jeanderson Maranhão, presidente do Porto Velho.

Flamengo, Avaí e Athletico-PR, que têm parcerias com a Marinha, Kindermann e Foz Cataratas, respectivamente, não gastam com salários de suas jogadores.

“O contrato das atletas do nosso futebol feminino é em parceria com a Marinha. Todas as jogadoras participaram de um edital para entrar na Marinha do Brasil e se tornam 3º Sargento. Desta forma, elas têm todos os direitos garantidos”, disse o Flamengo através de nota.

O Kindermann usa projetos de Lei de Incentivo, o que não permite custear salários de atletas profissional.
Já as atletas de times paulistas como a Ponte Preta, que atuará em São José do Rio Preto, a Ferroviária e o São José, integrantes da Série A do Brasileiro, além do Taubaté, que disputará a segunda divisão, recebem bolsa-auxílio das prefeituras. 

“As jogadoras recebem bolsa-auxílio da prefeitura. O gasto mensal da equipe é de R$ 50 mil. O que importa para a prefeitura são os Jogos Regionais, os Jogos Abertos. Por isso, conseguimos nos manter com a ajuda da prefeitura”, disse Renata Love, coordenadora do futebol feminino do São José.

Dos times que têm as atletas registradas em carteira, o Santos foi o primeiro a aderir à prática, em 2016. 
Inter e Grêmio começaram o processo na temporada passada e, desde o início deste ano, têm todas as atletas do elenco principal com registro em carteira. O Grêmio diz que o valor investido na modalidade será de aproximadamente R$ 2 milhões para esta temporada.

“Todas as jogadoras têm CLT. Começamos esse processo em agosto do ano passado. Dez foram profissionalizadas e, nesse ano, o restante do elenco”, disse o Grêmio.

Uma das novidades para esta temporada, o Cruzeiro também decidiu registrar suas atletas. O clube montou uma equipe própria para a modalidade após desistir de fazer parceria com o Ipatinga.

“Vejo que isso [a profissionalização] será um caminho sem volta para os clubes que tenham futebol feminino. Impacta para os times em termos de impostos, mas os livra de problemas maiores com custos que podem ser até maiores futuramente. O contrato é também uma segurança para a atleta, que pode ficar mais tranquila para desempenhar na sua totalidade o seu futebol técnica e fisicamente e ter uma segurança em caso de lesão”, disse Bárbara Fonseca, coordenadora do futebol feminino do clube, sem revelar os gastos com o esporte.

“No médio prazo, vejo que o registro será ainda mais importante porque vamos trabalhar com a negociação de atletas, o que vai gerar uma receita para o clube. Hoje, o futebol feminino ainda é deficitário, mas em breve vamos ter que começar a fazer contratos mais longos com as atletas visando uma negociação”, acrescentou Bárbara.

Outros times com investimentos maiores não possuem o elenco completo com carteira assinada. Atual campeão, o Corinthians tem folha salarial de cerca de R$ 170 mil é um exemplo.

O Iranduba, outro que tem forte investimento na modalidade, diz que apenas três atletas do seu elenco não possuem registro em carteira.

Palmeiras e São Paulo também não têm todas as suas jogadoras no regime de trabalho CLT. O time tricolor diz ter 90% do elenco, enquanto o rival afirmou que cada atleta tem um tipo de contrato. 

Os clubes entraram neste ano na competição após a obrigatoriedade imposta pela CBF e Conmebol. O Profut (Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro), também prevê “apoio mínimo” à modalidade.

Maioria jogará em estádios menores do que no masculino

Se já existe uma diferenciação de contratos e salários pagos em comparação com o masculino, as atletas também vivem outra realidade com relação ao local de treinos e jogos.

Apenas, Bahia, Ceará e Chapecoense afirmaram que os times femininos utilizam a mesma estrutura de treinos do masculino.

O local dos jogos também será bem diferente do time masculino. O Corinthians jogará no Parque São Jorge com capacidade para 10 mil pessoas —quase cinco vezes menor que o Itaquerão. Já o São Paulo atuará no CFA Cotia, com capacidade para 1.500 pessoas —contra 66.795 do Morumbi.

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