Reforma da Previdência é a mais importante e rápida, diz Guedes

O assessor econômico de Jair Bolsonaro, Paulo Guedes afirmou nesta terça-feira (30) que a reforma da Previdência deverá ser a primeira ação do governo na economia.

"[A reforma da] Previdencia é a mais importante e a mais rápida. Privatização é devagar e ao longo do tempo", disse.

Ele evitou, no entanto, dar um prazo.

"Se perguntar ao economista, tinha sido anteontem, 30 anos atrás como o Chile ou dois anos atrás com o Temer. Em três meses, antes de acabar o ano também", disse.

Guedes participou de reunião nesta terça-feira no Rio para começar o trabalho de transição. Ele afirmou que o foco inicial do governo é o controle da expansão dos gastos públicos. Por isso, a reforma da Previdência é considerada prioritária. 

O assessor econômico de Bolsonaro indicou que pretende apoiar a reforma proposta por Michel Temer, mas pretende ainda avançar em uma mudança para o regime de capitalização (em que os benefícios pagos são resultado da capacidade de poupança do trabalhador).

"Trabalharam dois anos nessa reforma, escrevi colunas no jornal dizendo 'aprovem a reforma', evidente que não posso agora, porque passei para o governo, não aprovem a reforma", disse. "Além de um novo regime trabalhista e previdenciário, que deveremos criar para as futuras gerações, temos que corrigir o regime atual. Ele está condenado, porque não leva capital para o futuro [vira consumo]."

Ele admite que o custo de transição é elevado e disse que os estudos que os irmãos Weintraub prepararam para a campanha de Bolsonaro ainda não foram concluídos. 

Ele desautorizou o deputado Onyx Lorenzoni, já anunciado chefe da Casa Civil de Bolsonaro, em suas declarações sobre a reforma da Previdência. Para ele, por isso o mercado reagiu mal após a eleição.

"Houve gente falando que não tem pressa de fazer a reforma da Previdência. O mercado reagiu mal", disse.

"É um político falando de economia, é a medma coisa de eu sair falando de política, não vai dar certo."

O diagnóstico de Guedes é que a expansão acelerada dos gastos desde a ditadura militar até o período democrático explica os gastos elevados com o pagamento de juros. Por isso, essa é a frente que deve ser alvo do governo.

Guedes lembrou os recentes episódios de corrupção para defender a privatização de estatais, como o petrolão. 

"A Eletrobrás não consegue investir, daqui a pouco vai ter um apagão no Amazonas, em Alagoas, porque eles não estão permitindo a privatização dessas empresas [distribuidoras da Eletrobrás]", disse.

"São empresas que estão aparelhadas politicamente, não investem, são mal geridas, e o Brasil está com uma dívida de trilhões de dólares".

Da mesma forma, disse Guedes, é a promessa de corte de ministérios.

USO DE RESERVAS

Guedes disse que a venda de reservas internacionais para abater dívida pública seria uma estratégia para debelar crises cambiais.

Segundo ele, sem ajuste fiscal o Brasil acabou sendo levado a acumular reservas, cuja manutenção tem custos fiscais elevados. Ele disse que não tem pretensão de acionar o mecanismo de defesa, pois pretende investir no ajuste fiscal. 

"Se houver crise especulativa, não temos medo nenhum. Pode vir e se o dólar for lá para cima, vai ser ótimo, porque vamos reduzir dramaticamente a dívida interna, vai acelerar nosso ajuste fiscal", disse. "Mas agora o dólar está a R$ 3,60, para que vou vender? Para prejudicar a exportação?"

Guedes afirmou que o Banco Central sob Bolsonaro será independente, mas não cravou se o atual presidente Ilan Goldfajn fica no cargo.

"É mais importante isso [a independência do BC], e não haver mais essa incerteza, do que esse episódio agora [nomeação de Ilan]", disse.

Guedes indicou ainda que pretende aprovar o projeto que está em tramitação no Congresso e que foi elaborado pela equipe de Ilan, de mandatos não coincidentes para presidente e diretores do BC.

"Tem que combinar com os russos, com a nossa equipe, com o Ilan. Eu estou dizendo que seria natural [ele ficar mais dois anos], mas não quero convidar alguém que não tenha o desejo de ficar".

Guedes disse que ainda não conversou com o presidente do BC após a eleição e disse que a disposição em ficar no cargo é um requisito importante para fazer o convite ao executivo.

RISCO À DEMOCRACIA

O economista disse que não há risco à democracia sob Bolsonaro. O Judiciário, a seu ver, tem agido de maneira independente. 

"Temos livre imprensa. Vocês depreciam o próprio trabalho se duvidarem da democracia", disse. "A única coisa que está acontecendo agora e que está tendo certa surpresa é que depois de 30 anos de alianças de centro-esquerda, ganhou a centro-direita".

Ele tentou esclarecer ainda o mal-estar com a Argentina, após ter dito, na noite de domingo (28), que o Mercosul não é prioridade.

"Eu não quis em nenhum momento desmerecer a Argentina, mas não é minha prioridade. Neste momento, a prioridade são os gastos públicos. Nada contra o Mercosul, nem com a Argentina", disse.

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