Quase sempre dá para saber o desenho tático dos times, mas o Santos é exceção
Palmeiras e Flamengo possuem os maiores e mais badalados elencos do futebol brasileiro, mas, contra os times titulares de alguns rivais, não há favoritismo. Não foi surpresa a recente vitória do Corinthians sobre o Palmeiras nem as do Cruzeiro, no ano passado, sobre o mesmo Palmeiras, pela Copa do Brasil, e sobre o Flamengo, pela Libertadores. Palmeiras e Flamengo não têm um único titular da seleção e, talvez, não tenham um único reserva na Copa América.
O Grêmio, com Tardelli, fica mais forte. Ele pode atuar de centroavante, pelos lados e como meia-atacante, na função de Luan. Provavelmente, vai jogar de centroavante, a posição carente da equipe. Se Luan e Maicon estiverem bem fisicamente, na maior parte do ano, o Grêmio será um fortíssimo candidato a títulos importantes. Além de ter muitos conhecimentos e de ser ótimo observador dos detalhes subjetivos e objetivos, Renato Gaúcho tem muita esperteza mental.
O Cruzeiro perdeu Arrascaeta, mas contratou Rodriguinho. Mano Menezes deve tentar adaptá-lo ao lado esquerdo, como fez com Arrascaeta, já que Rodriguinho e Thiago Neves atuam na mesma posição, com características parecidas. O elenco do Cruzeiro está melhor que o do ano passado. O time transita, com o mesmo estilo, até em uma mesma partida, entre o jogo organizado, pragmático e eficiente e o jogo repetitivo, enfadonho e ineficiente.
O Corinthians sabe enfrentar os grandes, pois, quando perde a bola, recua rapidamente e forma duas linhas de quatro, com poucos espaços entre os setores. Carille aprendeu com Mano Menezes. O problema do time, comum a quase todas as equipes brasileiras, é quando recupera a bola, pela falta de talento individual, de proximidade e de troca de passes em direção ao gol. O time não pode depender tanto da jogada aérea, com Gustavo. Nos cursos da CBF, parece que os treinadores brasileiros só assistem às aulas de recomposição, de marcação.
Já o ousado e descontraído Levir Culpi não deve gostar muito de sistemas defensivos. O Atlético-MG, mesmo com a contratação de uma nova zaga, bem melhor que a do ano passado, sofreu quatro gols do fraquíssimo Danúbio. Hoje, enfrenta outro uruguaio, o Defensor, um pouco melhor. A dificuldade do Atlético é a recomposição do volante Elias e de dois dos três habilidosos meias, que avançam e se esquecem da marcação. Luan é a exceção. Além disso, os zagueiros, o que é habitual em todo o Brasil, jogam colados à grande área e deixam grandes espaços entre eles e o meio-campo.
Quando vejo uma partida, quase sempre dá para saber, após 15 minutos, o desenho tático das equipes. O Santos é uma das poucas exceções. Termina o jogo, e continuo na dúvida sobre a referência de posicionamento de alguns jogadores, que não param de correr, sem trombar um no outro. É a maluquice organizada, agradável de ver, ainda mais que estou saturado de tanta mesmice. Mas, se quiser ganhar títulos, o time vai precisar de reforços. É mais ou menos o que ocorre com o Fluminense, mais fraco que o Santos, pelo menos até ter Ganso e Pedro juntos.
Se misturassem a maluquice organizada de Sampaoli, a racionalidade e a disciplina tática de Mano Menezes, a esperteza mental de Renato Gaúcho, a inteligência defensiva de Carille, a ousadia e a descontração de Levir, o comando firme de Felipão e algumas pitadas inventivas de Fernando Diniz, poderíamos ter um supertécnico, um gênio. Ou seria um indescritível maluco?