Próxima dos ciclistas, torcida vira problema para a Volta da França

​Uma das maiores atrações do ciclismo é que os torcedores não precisam pagar para assistir às corridas in loco e podem fazê-lo o mais perto que quiserem dos competidores.

O esporte pagou por esse acesso ilimitado na última quinta-feira (19), quando espectadores desordeiros interromperam a subida mais conhecida da Volta da França.

Os torcedores estavam perto demais do grupo de elite de ciclistas na conclusão das 21 curvas fechadíssimas que levam ao Alpe d’Huez, atrapalhando o favorito Vincenzo Nibali, que colidiu com uma moto da polícia e mais tarde se retirou da Volta da França.

O tetracampeão Chris Froome também passou por contato indesejado, e Geraint Thomas, que portava a camiseta amarela de líder da competição, foi vaiado no pódio.

“Se as pessoas não gostam da [equipe] Sky e querem vaiá-la, beleza”, disse Thomas. “Vaiem o quanto quiserem, mas não afetem a corrida. Não encostem nos ciclistas. Não cuspam em nós. Expressem suas opiniões sem medo, mas nos deixem correr em paz.”

As atitudes quanto à Sky se amargaram quando Froome se viu envolvido em um caso de uso de medicamento contra asma na Volta da Espanha do ano passado, ainda que ele tenha sido inocentado de qualquer delito dias antes do início da Volta da França.

Froome está tentando igualar o recorde de cinco vitórias obtido por Jacques Anquetil, Eddy Merckx, Bernard Hinault e Miguel Induráin.

Thomas ganhou vantagem sobre Froome, seu colega na Sky, e um par de outros competidores, e venceu a etapa, se tornando o primeiro ciclista na história da Volta da França a usar a camiseta amarela e vencer a etapa do Huez.

Lance Armstrong venceu uma prova individual de velocidade em Huez em 2004, quando estava usando a camiseta amarela, mas essa vitória lhe foi retirada posteriormente, por doping.

“Inacreditável”, disse Thomas. “Nem nos meus sonhos mais insanos imaginei que venceria aqui em cima. É uma das coisas que ficarão comigo pelo resto da vida”.

Mas Thomas reconheceu que a colisão de Nibali havia tirado parte do brilho da vitória.

Depois que ele caiu, Thomas atropelou a roda da bicicleta do concorrente, mas conseguiu evitar uma queda. Nibali, campeão da Volta da França em 2014, voltou à prova e terminou a etapa em sétimo lugar. Ele foi levado ao hospital para examinar uma possível lesão nas costas. “Ele [Nibali] deveria estar brigando pela vitória”, disse Thomas. “Isso estraga um pouco o dia”.

Nibali disse que “a estrada se estreitou e não havia barreiras. Havia duas motos da polícia. Quando Froome acelerou, eu o segui. Estava me sentindo bem. Mas depois perdemos velocidade e eu caí”.

​Nibali, que faz parte da equipe Bahrain Merida, fraturou uma vértebra, e mais tarde informou no Twitter que abandonaria a Volta da França. Ele estava em quarto lugar na competição geral. Tom Dumoulin chegou em segundo, e Romain Bardet foi o terceiro colocado.

Froome, que ficou em quarto, se recusou a falar com os repórteres após a prova. Um torcedor que supostamente bateu nele durante a etapa foi algemado pela polícia.

“Você espera que atletas profissionais possam praticar seu esporte e entreter os fãs sem serem tocados ou agredidos pela torcida”, disse Dave Brailsford, diretor da Sky.

“Parte da alegria de nosso esporte é a proximidade com os torcedores, mas temos de ter em mente que se isso afetar a corrida, como aconteceu com Nibali, estamos falando de proximidade excessiva”, completou.

Há questões sobre que ciclista a Sky está apoiando para a vitória, e a prova foi uma brilhante demonstração de força por parte de Thomas, que vem servindo como leal gregário de Froome há anos.

A etapa 12 foi a terceira e era a mais temida das três corridas nos Alpes neste ano, um percurso de 175 quilômetros iniciado em Bourg-St.-Maurice, que conduziu o pelotão de ciclistas a três subidas extremamente fatigantes.

A Volta da França termina em 29 de julho em Paris, ao final de três semanas de provas.

Tradução de Paulo Migliacci

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