Provocador espalhou teoria de que massacre na escola Sandy Hook foi encenação

No mundo dos teóricos da conspiração, Alex Jones e Wolfgang Halbig alimentavam reciprocamente suas tendências obscuras.

Pouco depois da chacina na Escola Elementar Sandy Hook em Connecticut, em 14 de dezembro de 2012, Jones, o provocador de direita, começou a espalhar teorias absurdas de que a matança de 20 alunos do primeiro grau e seis educadores foi encenada pelo governo e pelas famílias das vítimas, como parte de uma trama elaborada para confiscar as armas de fogo dos americanos.

Muitas das alegações mais bizarras tinham origem na mente de Halbig, um gestor de escola pública da Flórida aposentado que adquiriu uma fixação no que chamava de "suposta tragédia" de Sandy Hook.

Registros de tribunal e um depoimento ainda não divulgado de Jones em um de vários processos por difamação movidos contra ele pelas famílias de dez vítimas da escola mostram que ele e Halbig se usaram mutuamente para manter sua obsessão e promovê-la pela internet. 

Durante vários anos, Jones deu audiência às opiniões de Halbig, ao convidá-lo para participar do Infowars, seu programa de rádio e na internet. O Infowars deu a Halbig uma equipe de câmera e uma plataforma para levantar fundos, enquanto Halbig visitava diversas vezes Newtown, requisitando milhares de páginas de registros públicos, incluindo fotos da cena do crime, dos corpos das crianças e recibos da limpeza de "fluidos corporais, tecido cerebral, fragmentos de crânio e cerca de 170 a 230 litros de sangue".

Com o apoio prático e visibilidade que Jones lhe dava, Halbig aterrorizou as famílias das vítimas e outras residentes em Newtown e promoveu uma história sem fundamento de que Avielle Richman, uma menina do primeiro grau morta na escola, continuava viva.

O depoimento e detalhes sobre a operação de Jones e suas interações com Halbig foram divulgados na sexta-feira (29), dias depois que o pai de Avielle, Jeremy Richman, se suicidou no salão municipal Edmond em Newtown, onde a Avielle Foundation, organização sem fins lucrativos dedicada à ciência cerebral que a família fundou em nome da filha, tinha um escritório. 

O depoimento e os registros fazem parte de um processo de difamação contra Jones que corre no Texas movido por Scarlett Lewis, cujo filho, Jesse Lewis, morreu em Sandy Hook. As famílias de dez vítimas de Sandy Hook estão processando Jones, o Infowars e associados como Halbig em quatro processos diferentes, um deles em Connecticut, movido por famílias de oito vítimas e um socorrista, e três no Texas abertos pelos pais de outras duas vítimas.

No depoimento gravado em vídeo, realizado neste mês, Jones diz sob juramento que suas fontes para relatos transmitidos no Infowars incluem teóricos da conspiração como Halbig, pessoas desconhecidas que lhe enviam emails e usuários anônimos na sala de bate-papo 4chan. Jones reivindica para suas afirmações falsas a mesma proteção que a Primeira Emenda constitucional dá à mídia noticiosa tradicional.

Jones reconheceu no depoimento que Halbig foi uma fonte de informação considerável para ele sobre Sandy Hook. Perguntado por um advogado das famílias se ele concordaria que Halbig era "um maluco irracional", Jones respondeu: "Ele parecia muito verossímil e concentrado no início, mas —não consigo me lembrar o número exato— pareceu ficar agitado há cerca de quatro ou três anos".

A visibilidade que Halbig adquiriu através de Jones e seu ceticismo sobre a chacina o atraíram para a órbita da Associação Nacional do Rifle (RNA na sigla em inglês). Em 15 de fevereiro de 2018, um dia depois que 17 pessoas morreram em um tiroteio na Escola Secundária Marjorie Stoneman Douglas em Parkland, na Flórida, Mark Richardson, oficial de programa da NRA, enviou um email a Halbig instigando dúvidas sobre os fatos do tiroteio, segundo um documento no processo do Texas que foi noticiado primeiramente pelo HuffPost.

Referindo-se a Sandy Hook, Richardson escreveu para Halbig que "há muito mais nessa história", especulando erroneamente na mensagem que o atirador de Parkland "não estava sozinho".

Embora não fosse a única pessoa a perseguir e atormentar as famílias, Halbig foi especialmente incansável. E conforme o Infowars valorizava o perfil de Halbig as famílias das vítimas e autoridades de Newtown tentavam contê-lo. Ele pediu repetidamente aos educadores de Newtown que lhe dessem a identidade das crianças do coro de Sandy Hook que se apresentou numa saudação às vítimas no Super Bowl de 2013, tentando "provar" que Avielle e outras crianças mortas participaram.

Em 2015, a polícia impediu Halbig e a equipe do Infowars de filmar moradores e crianças diante da igreja e escola Santa Rosa de Lima, em Newtown. Evidências no caso do Texas vistas pelo "Times" incluem uma carta de um oficial da diocese de Bridgeport, em Connecticut, ordenando que Halbig se afastasse.

Halbig enviou quantidades de emails aleatórios e mal redigidos ao Infowars e outros, afirmando que Avielle Richman estaria vivendo sob um nome fictício com outra família em Newtown, citando diversas vezes o nome da outra menina, segundo os advogados da família. 

Depois do suicídio de Richman, sua família pediu privacidade, e a polícia não divulgou o conteúdo de um bilhete que ele deixou. Não há evidências públicas de ligação entre o suicídio e as atividades de Halbig e Jones. Mas sua morte provocou mais indignação nas famílias de Sandy Hook sobre o assédio que elas sofreram, e pedidos para que façam mais para que isso pare.

Nelba Marques-Greene, cuja filha, Ana, morreu em Sandy Hook, chamou Halbig de "maluco certificado" no Twitter depois que ele postou mensagens abusivas contra ela nas redes sociais no mês passado. "Você acha mesmo que nós inventamos isso?", escreveu ela. "Acha que os socorristas inventaram? Que mente depravada!"

Outro pai, Leonard Pozner, cujo filho Noah morreu na mesma sala que Ana, relatou o abuso e depois de seis anos de pedidos o Twitter suspendeu a conta de Halbig, no mês passado. Pozner fundou a HONR Network, organização sem fins lucrativos que combate o ódio online, depois que Noah foi alvo dos teóricos da conspiração. 

Halbig levantou pelo menos US$ 100 mil para financiar sua busca por registros, segundo Pozner, mas voluntários da HONR relataram as atividades de Halbig para a GoFundMe, conseguindo que sua página de captação de fundos fosse fechada. 

De início, Pozner tentou envolver Halbig, pedindo para falar com ele em um email em 2014. Recebeu uma resposta, vista pelo Times, de Kelley Watt, uma das colegas de fraude de Halbig. "Wolfgang não quer falar com você, a menos que você exume o corpo de Noah e prove ao mundo que perdeu seu filho."

Halbig ajudou a espalhar entre a comunidade de boateiros uma ficha corrida de Pozner contendo os endereços dele e de seus parentes e o número da seguridade social. Pozner e a mãe de Noah, Veronique de la Rosa, vivem escondidos em consequência do assédio. 

Em seu depoimento, Jones admitiu que parte do que Halbig e outros lhe diziam sobre o que aconteceu em Sandy Hook "não era preciso". Mas ele também declarou que "agentes do FBI aposentados e outras pessoas, e pessoas graduadas da Agência Central de Inteligência me disseram que houve encobrimento em Sandy Hook". 

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