Presidenciável, filho de Jango terá 'reformas de base' como mote de campanha

Depois de 54 anos, as reformas de base do presidente João Goulart voltarão à pauta política. Ao menos é o que propõe o candidato João Vicente Goulart, 61, filho do presidente deposto em 1964, que se lançou à Presidência pelo pequeno PPL (Partido Pátria Livre). 

Ex-deputado estadual no Rio Grande do Sul, ele foi um dos fundadores do PDT e adotou como nome de urna João Goulart Filho, para reforçar o vínculo com o pai.

Defenderá como principais teses na campanha a retomada do "nacional-desenvolvimentismo" e o enfrentamento ao capital financeiro. 

Diz que as reformas de base continuam um tema atual, embora o contexto histórico tenha mudado. Jango, como o presidente era conhecido, fez um comício de lançamento desse pacote no Rio, semanas antes de ser derrubado, em março de 1964. O teor daquelas propostas é apontado como um dos estímulos ao golpe militar.

"Grande parte dos projetos de 1964 não foi realizada no Brasil. As reformas de base tratavam da reforma agrária, reforma tributária, reforma urbana, da lei de remessa de lucros [para o exterior], reforma bancária. Os atores de hoje e os de 1964 são os mesmos", disse à Folha.

Ele considera sua candidatura o "resgate de uma luta nacionalista antiga". 

Sua plataforma de campanha inclui ainda ideias que apontam em várias direções, como críticas ao "entreguismo" do governo Michel Temer, a defesa da expansão da área territorial marítima do Brasil, que é um antigo pleito dos militares, e a descriminalização de drogas.

Apesar da proximidade ideológica com a esquerda, Goulart entende que "a lei tem que ser cumprida" no caso do ex-presidente Lula, o que significa barrá-lo pela Lei da Ficha Limpa. 

Sobre Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas e que costuma defender a ditadura, diz que nem os militares hoje compactuam com suas propostas. 

O PPL foi criado em 2011 por remanescentes do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro), um dos grupos que atuaram na luta armada contra o regime militar. Na campanha, terá à disposição poucos segundos no horário de TV e no máximo R$ 980 mil do fundo eleitoral --o MDB sozinho terá R$ 234 milhões. Como seu partido tem apenas um deputado federal, não foi convidado para os debates na TV.

"Temos a alternância entre PSDB e PT durante muito tempo e ela deu no que deu. A farinha era do mesmo saco, feita em engenhos diferentes. Devemos propor uma outra fórmula de crescer a economia. E é isso o que tentamos fazer com a pregação do nacional-desenvolvimentismo."

Sua trajetória na política mudou de rumo com o rompimento com o PDT no ano passado, após o partido não respaldá-lo em uma disputa com o governo do Distrito Federal, que desistiu de construir um memorial a Jango.

A experiência em cargos públicos inclui a direção do Instituto de Terras do Rio, no governo de Anthony Garotinho, que também foi do PDT. 

Ao voltar do exílio, formou-se em filosofia e virou produtor rural. O pai era conhecido como rico estancieiro do interior gaúcho. O filho agora possui o terceiro maior patrimônio entre os presidenciáveis, de R$ 8,6 milhões.

Goulart tem propriedades rurais arrendadas no Maranhão e diz ter problemas com a invasão de posseiros.
Se eleito, o candidato do PPL seria o primeiro filho de presidente a conquistar o cargo. Mas aparentemente nem ele espera que isso aconteça. Na entrevista, afirma que após a campanha deve se dedicar a uma continuação de seu livro de memórias "Jango e Eu", lançado em 2016.

Na obra, ele conta que estava em Brasília quando começou a movimentação pelo golpe. Tinha sete anos. Saiu às pressas da capital federal de avião, com a mãe, Maria Thereza, e a irmã, Denise, deixando pertences na granja do Torto. Foram 15 anos no exílio, entre Uruguai, Argentina e Inglaterra. 

No governo de Dilma Rousseff, ele foi um dos defensores da exumação do corpo de seu pai para verificar se ele foi morto por envenenamento, procedimento que acabou acontecendo em 2013. Em 1976, quando Jango morreu no exílio, foi divulgado infarto como causa da morte, mas não houve autópsia à época.

O relatório da exumação apontou que não há como concluir que houve esse crime, embora também não seja possível descartá-lo.

"Os indícios de assassinato são vários, só não temos a prova. Mas é difícil ter uma ordem dessas 'em cartório'. Estamos esperando a liberação de mais arquivos", diz o presidenciável.

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