Potencial para continuar insignificante

Os países membros da ONU, em sua maioria filiados à Organização Mundial do Turismo (UNWTO), comemoram o Dia Mundial neste 27 de setembro. O tema da comemoração é Inovação e Transformação Digital, destacando a tecnologia (big data, inteligência artificial e plataformas digitais) como grandes aliados ao desenvolvimento sustentável da atividade.
 
Atuar para que os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável sejam atingidos é premissa da UNWTO e de todos aqueles países que assinam os compromissos estabelecidos. Portanto, é também o caso do Brasil.
 
Mas, observando a realidade brasileira e “tudo” o que se conquistou até hoje com a atividade de turismo, a conclusão é a de que se faz pouco ou nada, e com resultados muito tímidos. A palavra que mais se usa ao falar do turismo brasileiro é potencial. Há pelo menos 80 anos os documentos e discursos recorrem ao potencial –das belezas naturais, das praias, da cultura, da gastronomia–, e as ações efetivadas pelos diferentes governos não alteram em nada os resultados econômicos obtidos.
 
Em termos de políticas públicas, o Ministério do Turismo ousou muito pouco. Provavelmente pela falta de tempo de seus titulares —em 15 anos de existência, a pasta teve 13 ministros. O mais recente pode chegar, no máximo, a 9 meses no comando da pasta. O principal papel dos ministros recentes foi atuar como articulador de base para o governo.

Ao publicar documento sobre a atividade, lançam números e projeções sem fundamentação clara ou detalhamento de como, por exemplo, gerar 2 milhões de novos empregos ou ampliar a movimentação de passageiros no país.
 
Além de não ser uma área prioritária nas pautas dos governos (nem sequer dos candidatos), também foi alvo de cortes orçamentários drásticos –desde sua criação, perdeu mais de 90% de sua verba–, o que é mais um sinal do papel político da pasta. Sem verba, sem resultado. Desde 2003, o volume de turistas estrangeiros no Brasil está na casa dos 5 milhões. A partir de 2010, passa para 6 milhões, e aí permanece –independentemente dos gastos com a promoção internacional. Cabe destacar que todo o empenho da Embratur em 2016 e 2017 resultou em apenas 42 mil turistas a mais em relação ao ano anterior, o que evidencia que algo está muito errado.
 
Ainda assim, pessoas envolvidas com o setor seguem se dedicando e investindo tempo e dinheiro em algo que deveria ser analisado com mais cuidado e dirigido por profissionais competentes. O turismo doméstico, muitas vezes negligenciado, compreendeu mais de 92 milhões de desembarques/ano, e não há dados de quantas pessoas viajaram de carro para aproveitar seu tempo de lazer. A ocupação do setor hoteleiro cresce, e os resultados como do AirBnb surpreendem, indicando que há muito movimento de pessoas e dinheiro no país, e pouca compreensão efetiva do que isso significa de fato.
 
Há excelentes iniciativas que podem ser adaptadas –e nenhuma delas passa, por exemplo, pela privatização da Embratur, ou pela proibição de novos meios de hospedagem. Da revisão de impostos sobre a aviação e os cruzeiros marítimos, passando pela desoneração do setor hoteleiro, e ampliando as possibilidades de investimento estrangeiro por aqui, há muito por fazer.

Todas as atividades estratégicas para o desenvolvimento do Brasil podem (e devem) contemplar também o turismo, de modo a garantir que brasileiros e estrangeiros se sintam seguros ao viajar pelo país, realizando negócios, participando de eventos, aproveitando tudo o que temos de bom a oferecer. Só não adianta repetir o que vem sendo feito.

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