Popularidade de Putin cai após proposta de reforma da Previdência

A popularidade do presidente da Rússia, Vladimir Putin, caiu nas últimas duas semanas, segundo diversos institutos de pesquisa do país. Embora nenhum tenha feito a pergunta, o motivo é claro: a proposta de reforma da Previdência do Kremlin.

Segundo o Centro de Pesquisa de Opinião Pública Russa, que é estatal, a aprovação do presidente caiu de 78% para 64%, de 14 a 24 de junho. Segundo o Centro Levada divulgou, independente, 65% dos russos concordam com as políticas de Putin agora, contra 79% em maio. Por fim, o também público FOM viu o apoio político ao líder cair: votariam nele 54% dos eleitores na semana passada, contra 62% sete dias antes.

Para padrões ocidentais, Putin ainda é inoxidável —até porque foi reeleito em maio para um quarto mandato com 77% dos votos. Mas para o Kremlin, cioso da necessidade de manter a imagem de homem forte do presidente intocada, os sinais de alerta estão por todos os lados.

A última vez que Putin se viu nessa faixa de aprovação foi antes da reabsorção da Criméia da Ucrânia, ocorrida depois de um golpe derrubar o governo pró-russo de Kiev, em 2014. Não há nenhuma guerra nova no horizonte, mas o presidente pode tentar capitalizar o encontro de cúpula que terá com o americano Donald Trump, em Helsinki, no próximo dia 16.

O centro da polêmica proposta é a mudança da idade mínima para a aposentadoria. O governo quer que ela seja aumentada de 60 para 65 anos no caso dos homens, e de 55 para 63 anos, no das mulheres. Isso seria feito de forma escalonada: em dez anos para homens, em 14 para mulheres. O problema é que homens vivem 64 anos, em média, na Rússia, enquanto mulheres vivem 76, segundo a Organização Mundial da Saúde.

O argumento de que a pessoa vai morrer antes de se aposentar tem falado mais alto, por falacioso que seja, do que considerações sobre a solvência de um sistema herdado da antiga União Soviética. Isso ficou claro no domingo (1º), quando esse foi o mote de protestos convocados pelo ativista de oposição Alexei Navalni e sindicatos usualmente alinhados ao Kremlin, em cerca de 200 cidades da Rússia.

Não foram megaprotestos como os que Navalni comandou no ano passado contra a corrupção no governo, que lhe deram estrelato midiático imediato no Ocidente. Como manifestações estão vetadas em cidades-sede da Copa, justamente as maiores da Rússia europeia, houve pouca exposição na mídia dos atos. Mas eles reuniram grupos em locais como Vladivostok e Khabaravosk, no Extremo Oriente russo, e Murmansk, no Círculo Ártico. “Essa proposta é um crime”, publicou Navalni.

Além disso, a inédita passagem da seleção russa às quartas de final do Mundial, após derrotar a Espanha nos pênaltis na noite de domingo (1), ajudou a abafar qualquer repercussão. Uma onda de celebrações tomou conta das cidades maiores do país, com buzinaços, pessoas nas ruas até a madrugada e cantoria nunca antes vistas na Rússia de Putin.

Um manifesto online já colheu 2,6 milhões de assinatura contra a proposta, que diversos institutos dão como rejeitada por entre 80% e 90% da população. Ela foi enviada ao Parlamento no dia da abertura da Copa, o que levou à inevitável teoria de que o governo tentou acobertar sua tramitação.

O Kremlin tenta isolar Putin da polêmica, e a reforma foi proposta oficialmente pelo premiê Dmitri Medvedev, o que é inútil dado que até o calçamento da praça Vermelha sabe que nada acontece por lá sem aval do presidente.

Oficialmente, o governo diz que presidente não está preocupado com popularidade, e sim com o país, e que avaliará a proposta que for discutida no Parlamento. No passado, ele já recuou da ideia, e não seria impossível a repetição do movimento.

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