Piores do Paulista apostaram em veteranos e se deram mal
Botafogo e São Bento abriram suas participações no Campeonato Paulista deste ano em um duelo disputado às 11h, no dia 20 de janeiro. A temperatura da partida, morna, foi bem menor do que a registrada nos termômetros de Ribeirão Preto, que chegaram a apontar 35ºC.
As condições climáticas seriam cruéis para quaisquer times, especialmente em início de temporada, e estavam no gramado do estádio Santa Cruz os mais velhos do Estadual. O placar só não ficou zerado porque Rafael Costa, 31, e Alecsandro, 38, marcaram um gol para cada lado em jogadas aéreas.
O sofrimento dessas equipes não ficou restrito ao primeiro jogo. Apostar na experiência não tem dado resultado. Os três times com maior média de idade do Estadual são lanternas nos seus grupos e têm as piores campanhas no torneio.
Somadas as campanhas de São Bento (média de idade de 29,3), Botafogo-SP (27,8) e São Caetano (27,4), até esta segunda (18), há apenas uma vitória nas seis rodadas do Estadual. E foi do Botafogo sobre o São Caetano.
A média de idade dos jogadores inscritos no Paulista é de 25 anos. O Ituano é a equipe mais nova, com média de 22 anos.
“A gente tinha a ideia de montar um time mais cascudo, mais experiente”, disse José Urban Filho, diretor de futebol do São Bento, lanterna entre os 16 participantes do Paulista.
Além do já citado Alecsandro, o clube conta com nomes como o goleiro Renan, 34, campeão da Copa Libertadores de 2010 com o Internacional, e o lateral esquerdo Marcelo Cordeiro, 37, que rodou o país até chegar a Sorocaba.
O São Bento enfrenta um problema compartilhado pelo Botafogo-SP. Está na Série B do Campeonato Brasileiro, cuja disputa se estende até o final de novembro. Já não é mais possível iniciar os treinamentos para o Paulista com boa antecedência.
“O aquário onde a gente pesca mudou. Nós temos que buscar jogadores na Série B, na Série A. Esse pessoal entrou de férias em dezembro”, afirmou o presidente do Botafogo, Gerson Engracia Garcia.
Um time do interior que não está envolvido nas duas primeiras divisões do Nacional costuma iniciar sua preparação para o Estadual em novembro. O estágio físico avançado é geralmente um trunfo para encarar os grandes, que tratam o início da competição quase como uma pré-temporada.
“Treinávamos em novembro, dezembro e janeiro. E pegávamos os times que estavam em situação como a que vivemos agora. Ganhamos do São Paulo assim, vínhamos sempre com um início forte”, recordou Urban Filho, do São Bento.
Agora, além de não ter a vantagem do calendário, São Bento e Botafogo têm a desvantagem do preparo físico. Leva um tempo até que os atletas mais velhos atinjam a melhor forma, e a tabela apertada atrapalha bastante esse processo.
“O problema do São Bento não é ter time experiente. O problema do São Bento é o problema dos 40 times que estão na Série A ou na Série B. Claro, alguns elencos têm dois ou três times. O cara joga uma, ganha descanso na outra. Quem tem um elenco mais robusto pode fazer isso. Quem não tem não pode”, disse o diretor de futebol, que já trocou de treinador: Marquinhos Santos, demitido, deu lugar a Silas.
A carência nas categorias inferiores não ajuda. O clube de Sorocaba só tem elenco sub-20 na base e inscreveu apenas dois atletas na lista B (reservada àqueles que nasceram a partir de 1998, estão registrados no time há ao menos um ano e disputaram torneios de base da Federação Paulista de Futebol).
Na lista A, limitada a 26 nomes, entra qualquer um com a documentação em dia. A lista B não tem limite de inscritos, mas a participação é mínima em boa parte das agremiações.
O São Caetano, que aposta em veteranos como Cristian, 35, e Esley, 39, ignorou solenemente a lista B, mesmo tendo equipes desde o sub-15. O presidente Nairo Ferreira de Souza também ignorou o contato da reportagem. Ele não tem a desculpa do calendário, pois sua equipe não está nem na Série D.
Já o Botafogo, que tem times desde o sub-11, colocou um só nome em sua lista B. Mas o clube não desprezou a necessidade de buscar fôlego novo e, com o Paulista em andamento, foi buscar Felipe Saraiva, 20, na Ponte Preta.
O atacante estreou bem, sofrendo pênalti no duelo com o São Caetano, o único vencido pelo Botafogo. Ainda assim, o time soma apenas quatro pontos e se vê ameaçado pelo rebaixamento.
“É um campeonato muito difícil, um campeonato com suas peculiaridades. Há um equilíbrio muito grande entre os times menores, que têm orçamento parecido. Você não pode bobear. Se você bobeia, cai”, disse o presidente tricolor.
A fase de classificação já está na metade. O trio da rabeira da tabela espera que a aposta na experiência comece a dar resultado ou a Série A-2 do Paulista ficará mais próxima.