Para cristãos no Sri Lanka, violência é ao mesmo tempo velha e nova

Explosões coordenadas mataram mais de 200 pessoas e feriram mais de 400 no Sri Lanka no domingo de Páscoa (21). O momento foi especialmente significativo, assim com os alvos —três igrejas estavam entre os locais atingidos.

Quatro hotéis também foram atacados, e houve uma oitava explosão sob um viaduto. Os ataques marcaram a violência mais mortífera no Sri Lanka desde o fim da guerra civil entre o governo e separatistas tâmeis, há uma década.

Nenhum grupo ou indivíduo reivindicou a responsabilidade pela violência de domingo, mas o ministro da Defesa, Ruwan Wijewardene, disse que sete prisões foram feitas e caracterizou as explosões como ataques de extremistas religiosos.

No entanto, como as igrejas foram atacadas no domingo de Páscoa —quando muitos cristãos comemoram a ressurreição de Cristo, o dia mais sagrado no calendário cristão—, muitos viram a violência como dirigida à comunidade cristã do Sri Lanka.

Setenta por cento dos cerca de 22 milhões de habitantes do país são budistas, segundo um censo de 2012; 12,6% são hindus; 9,7% muçulmanos; e 7,6% cristãos (e a vasta maioria destes no Sri Lanka, católicos).

Os separatistas tâmeis eram na maioria hindus, mas alguns eram católicos; os cingaleses são na maioria budistas. A guerra civil teve mais a ver com nacionalismo e etnia do que com religião. A população cristã hoje está dividida entre a minoria tâmil e a maioria cingalesa.

Ataques violentos nesta escala contra igrejas são quase inéditos no Sri Lanka. A minoria cristã, porém, enfrenta violência e discriminação. O ativista de direitos humanos Ruki Fernando comentou no Twitter que nos últimos 11 domingos serviços religiosos em todo o país enfrentaram algum tipo de interrupção.

No ano passado foram relatados 86 casos verificáveis de discriminação, ameaças e violência contra cristãos, segundo a Aliança Nacional Cristã Evangélica do Sri Lanka. Antes dos ataques de domingo, 26 desses incidentes ocorreram neste ano, incluindo a interrupção de um serviço dominical por monges budistas.

Mas a comunidade cristã não é a única visada pela maioria budista. A minoria muçulmana também é perseguida. Em 2013, uma multidão budista atacou uma mesquita em Colombo, ferindo 12 pessoas. Como comentou no Twitter Amarnath Amarasingam, pesquisador no Instituto para o Diálogo Estratégico, rumores sobre a radicalização dos muçulmanos e de grupos extremistas ligados a financiamento externo foram usados como desculpa por alguns da maioria para atacar os muçulmanos.

Os ataques de domingo não aparentam ter sido realizados por extremistas budistas e romperam os padrões anteriores de violência e discriminação de duas maneiras significativas: visar igrejas é algo especificamente novo, mas também visar aparentemente turistas estrangeiros, se de fato foram alvos nas explosões dos hotéis, que são raras durante a década de violência no país.

Enquanto isso, o governo pediu que a população se una.

"No meio desta tragédia, é tranquilizador ver a manifestação de solidariedade das pessoas que doaram sangue. Budistas, cristãos, hindus, muçulmanos e outros estão doando, porque somos humanos com o mesmo sangue e o mesmo espírito de compaixão", tuitou o ministro das Finanças, Mangala Samaraweera. "Ninguém pode negar nossa humanidade comum."

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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