Paixão por videogame vira diferencial para candidatos a emprego nos EUA
Histórico de trabalho, confirmado. Educação, confirmada. Experiência em videogames... confirmada?
Empregadores de diversos setores estão aceitando currículos que incluem experiência em criar ou jogar videogames, nos EUA, concluindo que o passatempo digital pode ajudar os empregados a colaborar online e ensiná-los a resolver problemas e a desenvolver outras capacitações cruciais para o trabalho.
Justin Foehner conseguiu emprego na General Electric em 2018, para usar tecnologia de realidade virtual e inspecionar plataformas de petróleo e usinas nucleares.
“A realidade virtual veio do setor de videogames, e por isso percebemos que precisávamos de alguém com formação em desenvolvimento de jogos”, disse Ratnadeep Paul, engenheiro que lidera equipes de pesquisa na divisão da GE que contratou Foehner.
O novo contratado tem 25 anos de idade e é grande fã dos jogos “Final Fantasy”; ele estudou design e desenvolvimento de videogames no Rochester Institute of Technology mas não se arrepende de sua escolha de carreira.
“Há muitos trabalhos satisfatórios em outros campos que não o de videogames, e a demanda é alta”, disse.
Os videogames são mais populares do que nunca e floresceram como parte de uma aceitação mais ampla da cultura “geek”, e enquanto a tecnologia se infiltra em cada canto da vida cotidiana.
No passado associada a imaturidade social, a experiência com videogames agora inclina a balança em favor de um candidato, mais ou menos como a passagem pelo posto de capitão de um time de futebol pode indicar potencial do atleta como futuro treinador, dizem os recrutadores.
“Os ‘gamers’ são o tipo de pessoa que, se receberem um conjunto de instruções, batalham até descobrir como fazer alguma coisa”, disse Mike Hetisimer, gerente de serviço ao consumidor da Truno, empresa do Texas que desenvolve tecnologia para uso em lojas de mantimentos. “Eles o fizeram com milhares de jogos.”
Hetisimer, que gosta de jogar “The Sims”, game que simula a vida real, contratou no ano passado três pessoas que se descreveram em suas entrevistas como jogadores ávidos de videogames.
Elas se familiarizaram rapidamente com o software da Truno e logo estavam ajudando os clientes a usá-lo, disse o profissional de recursos humanos. “Você está à procura de pessoas treináveis.”
Em pesquisa feita em 2017 pela Robert Half Technology, 24% dos mais de 2.500 vice-presidentes de informática disseram ter optado por candidatos a postos de entrada em suas empresas que mencionaram em seus currículos experiência com o desenvolvimento ou uso de videogames.
O levantamento, o primeiro da companhia de recrutamento a se concentrar em atividades extracurriculares, tentava compreender melhor o que distingue os formandos recentes em cursos de tecnologia uns dos outros, afirmou John Reed, vice-presidente-executivo da divisão internacional da Robert Half.
Os resultados não o surpreenderam. “Houve uma virada cultural nos últimos três ou quatro anos”, disse Reed. “Uma progressão. Não foi uma mudança repentina.”
Os recrutadores compreendem que os videogames são cada vez mais complexos.
“Os jogos se tornaram parecidos com o trabalho”, e muitos profissionais de recrutamento sabem disso porque “ligam o Xbox quando vão para casa à noite”, disse Andrew Challenger, vice-presidente da Challenger, Gray& Christmas, empresa de seleção de pessoal.
Algumas pessoas continuam a encarar os “gamers” negativamente e a supor que eles são ineptos socialmente. Mas, nos últimos anos, os jogos online para múltiplos jogadores, que encorajam jogadores a formar equipes e desenvolver estratégias durante o jogo, via mensagens de texto ou comunicação de voz, vêm ganhando popularidade.
Não basta que alguém simplesmente inclua videogames em seu currículo, disse Cori Bernosky, vice-presidente de recursos humanos na World at Work, uma organização setorial. Cabe ao candidato “oferecer contexto e histórias que provem por que sua experiência nos videogames é valiosa.”
Aylmer Wang é jogador dedicado de “Hearthstone” e informa em seu currículo que criou uma comunidade para fãs do jogo de cartas online. Wang, 24, de Montréal, também descreveu ter organizado competições de videogames em sua cidade e que escrevia sobre eSports.
As reações dos entrevistadores a essas informações variavam do fascínio ao ceticismo, mas todos eles perguntaram sobre essas experiências, disse Wang, que estuda direito na Universidade da Colúmbia Britânica.
“Eu sempre enfatizava as mesmas capacitações —liderança, empreendedorismo, dedicação e organização.”
E deu certo. Wang foi contratado pelo escritório internacional de advocacia Bennett Jones e começará lá na metade do ano, como advogado associado.
The Wall Street Journal, traduzido do inglês por Paulo Migliacci