Organização analisa mitos na defesa dos agrotóxicos

“Não há prova de que agrotóxicos fazem mal a ninguém. São consumidos há décadas e ninguém morreu.” Mentira. “O Brasil não é o maior consumidor mundial de pesticidas.” Verdade. “A nova lei vai aumentar a segurança para a saúde e o meio ambiente e reduzir o uso de agrotóxicos, pois introduz tecnologias mais modernas.” Não necessariamente.

Com esse formato de verdades e mentiras, o Observatório do Clima (OC) dá contribuição importante para a discussão sobre os agrotóxicos. Em artigo publicado na última quarta (11), a organização sublinha temas do discurso da bancada ruralista em defesa do substitutivo ao PL 6.299, o chamado PL do Veneno, que foi aprovado em comissão especial da Câmara em junho.

O Observatório é uma rede que reúne entidades da sociedade civil brasileira para discutir as mudanças climáticas. É formado por 36 organizações não governamentais, entre elas SOS Mata Atlântica, WWF Brasil, Instituto Socioambiental e Greenpeace.

O OC já havia feito o mesmo tipo de avaliação, levantando o que é mito e o que é fato, quando houve a discussão sobre licenciamento ambiental, em março deste ano.

A primeira “mentira” da lista é a de que agrotóxicos não fazem mal à saúde e que nunca ninguém morreu disso.  O artigo cita a convenção da ONU que baniu os chamados poluentes orgânicos persistentes —​aldrin, dieldrin, clordano, heptachlor e endrin, em 2001, e relatório de 2017, que aponta 200 mil mortes por ano por intoxicação aguda, quase todas nos países em desenvolvimento, com exemplos na Índia, China e Bangladesh.

No Brasil, segundo o artigo, uma análise da Anvisa de 2010 mostrou que 63% dos alimentos em 26 Estados apresentavam contaminação por agrotóxicos, sendo que 28% possuía substâncias não autorizadas para aquele cultivo ou acima dos limites máximos legais. Entre 2007 e 2014 foram notificados 34.147 casos de intoxicação por agrotóxicos no país.

Sobre a afirmação de que a nova lei vai aumentar a segurança para a saúde e o meio ambiente e reduzir o uso de agrotóxicos pois introduz tecnologias mais modernas, o OC aponta que estudo da Embrapa publicado em 2017 avaliando produção, produtividade e consumo de defensivos na soja entre 2000 e 2012 diz que o uso de agrotóxicos na cultura de soja triplicou, enquanto no restante da agricultura ele cresceu 1,6 vez. "A quantidade de agrotóxicos por hectare de soja cresceu 64%, enquanto a produção de soja por quilo de herbicida caiu 43%. Em toda a agricultura, o uso de agrotóxicos cresceu três vezes mais que a produtividade e dez vezes mais que a população".

Sobre o consumo de agrotóxicos no Brasil, o artigo diz que não, o país não é o maior consumidor no mundo, perdendo para Estados Unidos e China, embora consuma mais que a União Europeia. Mas, enquanto na maioria dos países desenvolvidos o uso total de pesticidas se mantém constante nas últimas décadas, no Brasil ele explodiu: 606% de aumento entre 1990 e 2012, contra 135% na China, 151% no Canadá, 166% na Colômbia e 105% na Austrália.

O artigo também defende que a métrica de consumo total não conta toda a história. “É preciso considerar que tipo de veneno é usado em que tipo de cultura, como ele reage com que tipo de ambiente e quanto de resíduo fica no alimento, no solo ou na água. No Brasil, segundo dossiê da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), entre os 50 pesticidas mais usados, 22 são proibidos na União Europeia.”

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