O vício da tecnologia tem a mesma génese que os outros vícios

Será um viciado digital diferente dos outros viciados? Tudo indica que não. Na base deste vício está uma condição mental semelhante à que provoca outros vícios.

Não é a tecnologia que cria viciados, mas são pessoas com alguma predisposição ou doença do foro psiquiátrico que se tornam viciados em jogos, redes sociais, etc. Esta é a conclusão que se tira da conversa “Can we battle back against tech addiction”, que decorreu no Web Summit, entre Sairah Ashman (Wolff Olins), Dam Til Wykes (Kings College London) e Michael Acton Smith (Calm).

“A internet e os jogos online em si não são uma adição. O que existe é uma predisposição em certas pessoas para a adição”, explicou Til Wykes, professora de psicologia clínica. Por isso considerou que “não são medidas restritivas que irão resolver o problema. Não há uma uniformização do vício dos jogos online, por exemplo. Nos países da Ásia a questão é mais preocupante do que no Ocidente”.

O criador da aplicação de meditação Calm, Michael Acton Smith, considerou que “as pessoas, principalmente as crianças, passam demasiado tempo fora do mundo real, no mundo digital, por isso é importante encontrar soluções que lhes permitam aprender algo positivo. E essa é uma responsabilidade nossa”.

Combater o vício digital através de uma aplicação parece contraditório, mas para este orador não há qualquer dúvida. “A tecnologia não é o problema, mas o uso que fazemos da mesma é que importa. Usar uma aplicação para meditar é tão válido como encontrar outra forma de meditação”.

A intervenção de Sairah Ashman centrou-se nos dados e na necessidade que as pessoas têm de saber como os dados estão a ser usados. “As empresas recolhem os dados, mas não os estão a usar para desenvolver aplicações ou conteúdos que ajudem as pessoas em termos de saúde e da promoção de hábitos saudáveis”.

E aqui chega-se à questão de saber se as empresas da área digital, por exemplo, os fabricantes de telemóveis, devam notificar os utilizadores do tempo que passam agarrados aos aparelhos. E não houve unanimidade. Se para Michael Acton Smith isso poderia ser uma mais valia para as outras duas oradoras não será tão importante.

“Tal como um viciado em álcool sabe que não deve beber e não o deixa de fazer só porque lhe dizem para o não fazer, também alguém com um vício digital não deixará de usar a tecnologia só porque recebeu um alerta para o estar a fazer de forma excessiva”, concluiu Til Wykes.

No final dependerá sempre da vontade de cada um deixar o vício, procurando ajuda para tal. Seja digital ou não.

O Web Summit 2018 decorreu entre os dias 6 e 8 de novembro e o SAPO TEK acompanhou por dentro toda a conferência. Veja ainda as melhores imagens captadas pela nossa equipa.

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