O que são os campos de detenção de muçulmanos na China?

A China mantém milhares de muçulmanos em campos de detenção na região de Xinjiang, no extremo oeste do país, em uma escalada repressiva que tem recebido críticas da comunidade internacional.

Ativistas apontam que mais de 1 milhão de pessoas foram presas até agora. O governo chinês nega o caráter autoritário da iniciativa e diz que o objetivo dos campos é “reeducar” membros de minorias religiosas para evitar sua radicalização.

Entenda o que são os campos de detenção por meio de perguntas e respostas:

Quem está sendo preso?

Os principais alvos da política de detenção em massa são os uigures, minoria étnica muçulmana presente em Xinjiang. Segundo o governo chinês, a região é foco de atividade de separatistas e extremistas islâmicos.

Segundo relatos de uigures obtidos por investigadores internacionais, simples atividades religiosas podem ser motivo suficiente para ser preso sem ordem judicial. Mesmo aqueles que não são levados para os campos de detenção enfrentam dificuldades, sendo submetidos a “sessões de estudo” compulsórias e tendo seus passaportes retidos pelas autoridades.

Um comitê da ONU (Organização das Nações Unidas) apontou recentemente que os uigures são tratados como “inimigos do Estado” apenas com base em sua identidade étnico-religiosa.

O que acontece nos campos de detenção?

Relatos de testemunhas e organizações de direitos humanos sugerem que, uma vez nos campos de detenção, os uigures são submetidos a propaganda favorável ao governo chinês, além de terem que cantar hinos louvando o Partido Comunista e escrever textos de autocrítica. Também foram registrados casos de abuso, tortura e até mortes.

Há ao menos 181 campos de detenção em Xinjiang, de acordo com um levantamento da agência de notícias AFP divulgado nesta quarta-feira (24). Documentos oficiais estudados pela agência apontam que as autoridades responsáveis pelos campos encomendaram livros didáticos de mandarim, além de milhares de equipamentos de repressão, incluindo cassetetes, bastões de choque elétrico e latas de spray de pimenta.

Um dos documentos obtidos pela AFP diz que os campos devem “ensinar como uma escola, serem gerenciados como o Exército e protegidos como uma prisão”. Outro documento diz que, para criar cidadãos melhores, deve-se “quebrar sua linhagem, quebrar suas raízes, quebrar suas conexões e quebrar suas origens”.

O que diz o governo chinês?

O governo de Pequim, que até recentemente negava a existência dos campos de detenção, afirma que a iniciativa visa a oferecer educação e qualificação profissional “gratuitas” para uigures influenciados pelo extremismo islâmico.

Ademais, a participação de “estagiários” nos programas educacionais é voluntária, segundo a versão oficial. O objetivo da campanha seria combater o extremismo religioso e manter a estabilidade social. No mais, o governo divulga poucas informações sobre o que se passa em Xinjiang.

O que diz a comunidade internacional?

A comunidade internacional voltou sua atenção para a crise em Xinjiang em  agosto, quando um comitê da ONU e organizações de grupos de ativistas chineses denunciaram a perseguição aos uigures. A alta comissária da ONU para os direitos humanos, Michelle Bachelet, disse que as denúncias são “profundamente perturbadoras”.

Um comitê do Congresso dos Estados Unidos repercutiu as acusações contra a China, dizendo que a política de perseguição contra os uigures “pode ser a maior detenção de uma minoria étnica desde a Segunda Guerra, e pode equivaler a crimes contra a humanidade”. Autoridades americanas avaliam impor sanções contra a China, mas o presidente Donald Trump não se manifestou sobre o tema.

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