NY se torna a primeira grande cidade dos EUA a restringir Uber

A Uber se tornou uma das maiores histórias de sucesso do Vale do Silício e mudou a maneira pela qual pessoas de todo o mundo se deslocam pelas cidades, mas vem enfrentando escrutínio cada vez mais intenso das autoridades regulatórias e dificuldades para superar sua imagem como companhia determinada a crescer a qualquer custo, não importa qual seja o impacto disso para as cidades.

Nesta quarta-feira (8) a gigante da tecnologia sofreu um grande revés em seu maior mercado nos Estados Unidos, quando o legislativo municipal de Nova York estabeleceu um limite para o número de veículos que a Uber e outras companhias de serviços de carros podem oferecer na cidade; as autoridades esperam que isso sirva de modelo para outras cidades que estão buscando maneiras de cercear a empresa.

O legislativo aprovou um pacote de medidas que suspende a concessão de licenças novas para veículos da Uber e serviços semelhantes por um ano, enquanto o governo municipal estuda a situação do setor.

As novas leis também permitem que o município estabeleça um padrão mínimo de pagamento para os motoristas.

As novas regras tornarão Nova York a primeira grande cidade americana a restringir o número de veículos em operação por serviços de carros e a estabelecer normas quanto à remuneração dos motoristas.

A posição agressiva de Nova York desperta questões sobre o crescimento da Uber, em um momento no qual a empresa, cujo valor de mercado é estimado em US$ 48 bilhões (R$ 180 bilhões), planeja avançar rumo a uma oferta pública inicial de ações a ser realizada no ano que vem.

O prefeito Bill de Blasio e Corey Johnson, o presidente do legislativo municipal, dizem que os projetos de lei vão conter os congestionamentos de trânsito cada vez mais graves na cidade e melhorar os baixos salários dos motoristas.

"Vamos suspender a concessão de novas licenças em um setor que foi autorizado a proliferar sem qualquer fiscalização ou regulamentação apropriada", disse Johnson antes da votação, afirmando que as regras não reduziriam os serviços existentes para os nova-iorquinos que recorrem a apps de carros.

De Blasio apoiou as novas leis e deve colocá-las em vigor. A suspensão de licenças novas para veículos a serviço da Uber e similares entraria em vigor no momento em que o prefeito assinar as leis.

Preços mais altos

A Uber alertou seus passageiros para o fato de  que as medidas resultarão em aumento de preços e esperas mais longas, se ela não conseguir acompanhar a crescente demanda por seus serviços.

Os apps de serviços de carros se tornaram uma segunda opção crucial para os nova-iorquinos que enfrentam os atrasos constantes nos trens do metrô da cidade, como aconteceu nesta quarta-feira, quando problemas de sinalização uma vez mais paralisaram os trens em vastas áreas do município.

A batalha quanto ao futuro da Uber em Nova York foi causada em parte pela preocupação crescente sobre os problemas financeiros dos motoristas —um problema exposto pelo suicídio de seis motoristas nos últimos meses. Nesta quarta-feira, um grande grupo de motoristas se manifestou diante da prefeitura antes da votação, com cartazes que mostravam os nomes dos seis motoristas que se suicidaram.

Nova York é a mais recente cidade a enfrentar a questão de como regulamentar a empresa.

Em Londres, o mercado mais lucrativo da Uber na Europa, a companhia reconquistou recentemente sua licença para operar táxis, depois de aceitar regulamentação mais severa, o que inclui fornecer dados de tráfego às autoridades municipais.

A Uber também enfrentou batalhas regulatórias em cidades americanas como Austin, no Texas, e em países como Canadá, Brasil e Itália.

O novo presidente-executivo da empresa, Dara Khosrowshahi, iniciou uma campanha diplomática mundial para reparar a imagem da Uber, depois de uma série de controvérsias, entre as quais acusações de discriminação e assédio sexual contra trabalhadoras da companhia.

A Uber criticou a decisão do legislativo de Nova York quando a suspender a concessão de licenças, mas disse que trabalharia para atender à crescente demanda apesar das limitações à operação de novos veículos.

"A pausa de 12 meses que o município decretou na concessão de novas licenças colocará em risco uma das poucas opções de transporte confiáveis e nada fará por resolver os problemas do metrô ou aliviar os congestionamentos", afirmou Josh Gold, porta-voz da Uber, em comunicado.

A Uber anunciou que contatará imediatamente as dezenas de milhares de motoristas de veículos para transporte pago de passageiros que já têm licenças mas trabalham para outras empresas e que tentará convencê-los a mudar de bandeira.

A empresa disse que também continuaria a pressionar por outra solução, que criaria um pedágio para acesso a áreas congestionadas de Manhattan, mas requereria aprovação pelo legislativo estadual.

Muitos especialistas acreditam que o pedágio em áreas congestionadas é a melhor solução para resolver os congestionamentos em Nova York e obter as verbas necessárias para consertar os problemas do metrô. Johnson apoia a ideia, mas De Blasio expressou oposição a ela.

O governador Andrew Cuomo, que controla o metrô, disse que pressionaria pela aprovação da medida na próxima sessão legislativa, para ajudar a custear um plano de reforma do metrô.

Airbnb

O legislativo municipal também agiu recentemente para regulamentar o Airbnb, outro grupo de tecnologia, que desordenou o setor de hotelaria. O democrata Johnson, que assumiu a presidência do legislativo municipal em janeiro, não demorou a tomar medidas audaciosas e a se posicionar sobre questões importantes, entre as quais convencer o prefeito a bancar cartões de transporte público vendido pela metade do preço para os nova-iorquinos mais pobres.

Muitos motoristas da Uber e taxistas dizem apoiar a proposta de suspensão na concessão de licenças. Eles esperam que isso reduza o influxo de novos veículos que estão congestionando as ruas da cidade, e lhes permita fazer mais corridas e ganhar mais dinheiro. A Uber e os demais serviços de carros só poderão adicionar novos carros às suas frotas se eles tiverem acesso para passageiro em cadeiras de rodas.

O democrata De Blasio tentou sem sucesso restringir a concessão de novas licenças à Uber em 2015. De lá para cá, o número de carros para transporte pago de passageiros na cidade disparou para mais de 100 mil, ante 63 mil em 2015, de acordo com a prefeitura.

Se o governo municipal estipular um pagamento mínimo de US$ 17,22 (R$ 65) por hora, isso resultaria em um aumento médio de 22,5% na receita dos motoristas, de acordo com um estudo conduzido por economistas independentes.

Cerca de 40% dos motoristas de veículos para transporte pago de passageiros têm rendas tão baixas que se qualificam para o programa federal de saúde Medicaid, e cerca de 18% deles se qualificam para assistência alimentar do governo, de acordo com o estudo.

O setor de táxis foi dizimado pela ascensão da Uber. O preço de uma licença para operação de táxi em Nova York caiu de mais de US$ 1 milhão (R$ 3,75 milhões) para menos de US$ 200 mil (R$ 750 mil).

Elizabeth Cassarino, taxista em Nova York, diz que apoia a suspensão na concessão de licenças e que espera que isso melhore os negócios para os táxis. Dirigindo seu táxi pelas ruas congestionadas de Manhattan, na quarta-feira, ela disse que já tinha estourado os limites de seus cartões de crédito e que vinha enfrentando dificuldades para comprar comida.

"Enfim", ela disse. "Estamos morrendo de fome."

Tradução de PAULO MIGLIACCI

Source link

« Previous article BR Distribuidora estuda aderir ao programa de subsídio ao diesel
Next article » Sem Doria, Skaf e França, 1º debate de SP tem críticas às gestões tucanas