Nosso futebol tem a cara do Brasil

Foram cinco décadas de “beautiful game”, como diziam os ingleses sobre o futebol praticado por nós, brasileiros.

Desde o fim dos anos 1950 até meados da primeira década deste século, com vitórias e até mesmo com derrotas, não havia dúvida: éramos os reis do futebol.

De Mané para Pelé, de Tostão, Gérson e Rivellino, de Romário aos Ronaldos e Rivaldo, a arte e a eficácia moravam no país tropical. 

Porque ainda havia Djalma e Nilton Santos, Ademir da Guia e Dirceu Lopes, Paulo Roberto Falcão, Reinaldo, Zico, Careca e Sócrates. Havia mais e aqui não cabem todos.

Hoje, tem quem?

É claro tem Neymar, que de tanto apanhar, de borracha que era quando surgiu, ao virar de ossos e músculos, é quebrado sempre antes de seus eventuais melhores momentos.

Sobram muitos, inúmeros bons jogadores, produção aparentemente inesgotável, mas nenhum como os citados. 

No mercado interno ganhar é o bastante, seja lá como for, com gol em impedimento, de mão, no peito e na raça.

Espetáculo é para ver no teatro.

Ou no Camp Nou, na Premier League, em Munique.

Por aqui é guerra —vou dar porrada eu vou, e ninguém vai segurar, nem a PM.

Antes não havia João Havelange ou Ricardo Teixeira, por mais que atrapalhassem, capazes de impedir a arte de fluir.

De uns tempos para cá, as sombras de Marin$Nero$“nova”CBF contaminam da seleção sub-20 às que ficam pelo caminho nas Copas de 2006/10/14/18 e, pior, muito pior, se espalham pelos campeonatos disputados pelo país.

Existe um futebol praticado em outras plagas que fingimos não invejar por imaginar ainda sermos os reis da cocada preta. 

E perdemos para os garotos da Venezuela e vemos jogadores belgas e alemães e espanhóis e portugueses e croatas e treinadores espanhóis e italianos e argentinos e alemães, produzirem algo aparentemente inalcançável por aqui. Vemos assim, sufocados, sem tempo de respirar.

Há quanto tempo um time brasileiro não alcança a maior das glórias?

Já pensou nisso?

Ah, não faz tanto tempo assim, seis anos atrás o Corinthians sagrou-se campeão mundial.

É mesmo? É mesmo!

Recitemos o time: Cássio, Alessandro, Chicão, Paulo André e Fábio Santos; Ralf, Paulinho, Danilo, Jorge Henrique, Emerson Sheik e Guerrero.

Aponte entre os 11 jogadores um que tenha sido o melhor visto por você na posição. 

OK, Cássio acabou eleito o melhor em campo, mas terá sido o maior goleiro que a rara leitora e o raro leitor já viram?

Mudemos a pergunta: há quanto tempo um time brasileiro não encanta o mundo?

Encantar, com E maiúsculo, desde 1982, quando saiu precocemente da Copa da Espanha, na chamada “Tragédia de Sarriá” —abstraia o exagero, porque tragédia é a de Brumadinho e Mariana.

Houve sim, outro time, que num jogo ou noutro, como na Copa das Confederações de 2005, na Alemanha, encantou, mas só nos dois últimos jogos, porque antes disso andou perdendo para o México e empatando com o Japão.

A verdade é que ficamos para trás e estamos ficando cada vez mais para trás —que o digam os jogadores do São Paulo, capazes de perder para o pequeno Talleres.

Triste constatar, mas parece que a mediocridade chegou para ficar. 

Os anos se passaram, a cara do Brasil foi se fechando, nossas esperanças foram sendo surrupiadas sem dó nem piedade e até o futebol acabou por sucumbir.

Resta a música. Ainda temos Chico, Caetano e Gil.

Vai passar?

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