No futuro, Sette Câmara quer ser 'padrinho' para brasileiros na F-1

Recém-anunciado como piloto de testes da McLaren para o ano que vem, o brasileiro Sérgio Sette Câmara, 20, não pensa apenas em trilhar seu caminho na F-1. Quer também reabrir portas para o país, que pela primeira vez desde 1970 não tem um representante na categoria.

“Se um dia eu chegar à F-1, vou querer ser um padrinho para os pilotos brasileiros. Vou dar a maior força para eles”, afirma o piloto à Folha.

Ele despertou o interesse da McLaren durante a etapa de Macau da Copa do Mundo de F3, no ano passado. “Quem anda bem em Macau anda bem em qualquer lugar. É a pista mais encardida que eu já vi”, disse nesta semana o ex-piloto brasileiro Gil de Ferran, hoje diretor esportivo da McLaren.

Até ter a sua oportunidade como piloto principal da escuderia, contudo, Sette Câmara se dividirá entre a F-2 e testes com a McLaren. Ele ainda precisa tirar a licença especial exigida para guiar na F-1.

 

Como foi receber a proposta de uma equipe como a tradição da McLaren? A negociação começou no meio do ano. Naquele momento, tínhamos outras opções, com duas equipes. Mas, com o passar das semanas, tudo foi se encaminhando para fechar com a McLaren. Fiquei muito feliz.

Por que optou por ela? Primeiro porque é uma equipe de peso. Eles me deram muito carinho, mostraram que querem me apoiar, inclusive na F-2. Estar na F-1 como piloto de testes é ótimo, mas não seria se me atrapalhasse na F-2, que é meu foco.

O ano que vem será um período de transição? Na F-2 não tem esse assédio da mídia, é uma categoria de base. Às vezes, o cara vai para uma F-1, todo aquele negócio, e ele não aguenta. Não sabe administrar. Então, esse passo de piloto de teste é importante para aprender não só sobre o desenvolvimento do carro, mas sobre o universo da F-1.

Como foi se mudar para o exterior com apenas 15 anos? Foi um dos momentos de maior comprometimento com aquilo que começou como uma brincadeira. E num esporte que não é a coisa mais atraente do mundo para a família. Tem um custo por trás e é perigoso. Mas eu mostrava tanto a minha vontade que a minha família me apoiou.

A Europa foi apenas um desses passos. Eu acho que maior ainda foi quando eu vim competir em São Paulo com dez anos de idade [Câmara é natural de Belo Horizonte (MG)]. Para um menino dessa idade, a importância de ir para a escola é muito grande. A minha família leva isso muito a sério. Inclusive, mesmo vindo para São Paulo e depois com a mudança para a Europa, eu finalizei meus estudos. Poucos pilotos finalizam os estudos porque é difícil ter tempo, tem de se comprometer muito, treinar, viajar.

Muitos pais sonham em ver seus filhos como jogadores de futebol. Seu pai “comprou” o seu sonho de ser piloto? Meu pai não foi assim. Sei que muitos pais são. Mas eu adoro o posicionamento do pai, porque ele foi muito profissional comigo. Soube diferenciar o papel de pai e o papel da pessoa que está administrando a minha carreira. Quando eu vejo esse tipo de pai, que se exalta, se empolga, acho muito bonito, mas geralmente a gente vê isso dar errado, pelo menos no automobilismo.

Meu pai soube dividir as coisas e colocou para mim as pessoas certas para cuidar de cada coisa. O sonho era meu, sempre meu.

Que avaliação que você faz da estrutura do automobilismo brasileiro para a formação de pilotos? Realmente é um esporte difícil de ingressar sem ter nada. Tem pilotos que conseguem, mas, geralmente, só quando encontram um investidor muito cedo. Alguém, mesmo que da família, que possa fazer um investimento na carreira dele. Depois, é assim até chegar à F-1. Ela não gira sem as empresas por trás. No começo, claro, foi a minha família que bancou. Mas, meu pai é advogado e sempre teve muitos contatos com empresas, com muito trabalho, claro, então desde cedo a gente contou com patrocinador.

Como você avalia o trabalho da Confederação Brasileira de Automobilismo na formação de pilotos para a F-1? Eu vejo um trabalho muito bom. Muita gente critica, mas é muito difícil, com a nossa moeda, competir com os ingleses, por exemplo. Eles são um povo muito rico. E a F-1 é um esporte inglês. Quase todas as equipes são inglesas. Eles usam libra, os pilotos já estão lá. Não é como se a gente tivesse uma Ferrari aqui em São Paulo, uma McLaren no Rio.

O fato de não ter um brasileiro atualmente na F-1 se reflete como nas perspectivas de um jovem piloto? É uma responsabilidade legal de carregar, me faz amadurecer mais rápido. Também vejo uma carência na galera, então quero ir bem por essas pessoas. Neste fim de semana, aqui em São Paulo, a gente pega um táxi e o motorista vai contando que gosta de F-1, mas que sente falta de um brasileiro. Eu senti muito isso esta semana, depois do anúncio da McLaren.

Você recebeu conselho de ex-pilotos, como o Rubens Barrichello e o Felipe Massa? Nunca tive contato dessa forma com eles, inclusive gostaria de ter mais. Se um dia eu chegar à F-1, vou querer ser um padrinho para os pilotos brasileiros. Vou dar a maior força para eles. Talvez tenha algo que eu não vi ainda na F-1 que impeça eles de fazerem isso.

​Em quem você se espelha como piloto? Cada vez mais esse negócio de estilo está acabando. Tudo no carro tem sensor, e eles não medem só as peças do carro, medem também como o piloto está trabalhando essas peças. Há leitura de tudo. Por causa disso, você consegue se aproximar da perfeição. Então, sabe a melhor forma de guiar. Antigamente não tinha isso. O piloto ia para a pistas às cegas e cada um pilotava de um jeito. Mesmo assim, eu me espelho em alguns pilotos pela atitude, como o Ayrton Senna e o Nelson Piquet. Dos atuais, Fernando Alonso e o Daniel Ricciardo.

Nascido em Belo Horizonte (MG), tem o mesmo nome do pai, o atual presidente do Atlético-MG. Ele começou a correr aos 10 anos, no kart. Depois de disputar a F-3 Brasil e a F-3 Europeia, subiu para a F-2 no ano passado. Conquistou sua primeira vitória em Spa-Francorchamps (Bélgica) e subiu ao pódio oito vezes. Em 2016, participou do programa de jovens pilotos da Toro Rosso, equipe na F-1.

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